Presenteísmo: o que é o fenômeno que derruba a produtividade de profissionais e empresas

Condição está associada à falta de foco e entrega durante as jornadas presenciais de trabalho
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É comum que o presenteísmo esteja atrelado a insatisfação com o cargo (Foto: Pexels)

Você pode nunca ter ouvido falar sobre presenteísmo, mas, provavelmente, já sentiu alguns de seus sintomas em determinados momentos da carreira. Caracterizado pela dificuldade extrema de concentração durante a jornada de trabalho, mesmo com a presença física no escritório, o fenômeno desperta discussões sobre medidores de produtividade e até o home office. 

De modo geral, o primeiro sinal de que algo vai mal é quando o colaborador deixa de desempenhar adequadamente a sua função, atrasando tarefas e prazos. “Trata-se de um  desvio no padrão de comportamento no qual, mesmo estando fisicamente em seu local de trabalho e cumprindo a jornada estabelecida, o profissional está com a cabeça em outro lugar”, explica Angelina Assis, psicóloga e gerente do Grupo Soulan, empresa especializada em recursos humanos. 

Sendo assim, o colaborador acaba passando grande parte do tempo desatento e desconcentrado, com dificuldade de estabelecer e manter o foco em atividades que deveriam integrar a rotina. O que preocupa as empresas, no entanto, é que essa falta de desempenho acaba sendo mais nociva do que as faltas recorrentes, já que a desatenção é um dado bem mais difícil de mensurar. “Para algumas empresas, o valor da assiduidade é um indicador que garante a produtividade – mas já sabemos que não é bem assim”, afirma a especialista. 

Condição pode estar atrelada a distúrbios mentais ou desmotivação

São vários os fatores que podem levar o profissional a manifestar sinais de presenteísmo, explica a psicóloga organizacional Edwiges Parra. No que tange à vida pessoal, problemas como doenças, divórcio, desafios com os filhos e até mesmo um estilo de vida pouco saudável podem desencadear dificuldades cognitivas relacionadas à atenção. 

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Já em relação ao ambiente de trabalho, é comum que o fenômeno esteja atrelado a insatisfação com o cargo, incluindo uma demanda exagerada e até conflitos na organização. “Nesses casos, além de resultar em uma não possível entrega de tarefas planejadas, pode levar o profissional a experimentar um alto pico de estresse”, explica Edwiges. Além disso, é possível encontrar o quadro associado a outros males relacionados à carreira, como a síndrome de Burnout. 

Um dos alertas para a condição, segundo as especialistas, é quando existe uma mudança de comportamento duradoura ao longo de dois ou três meses. Nesse período, é comum que as idas até o banheiro fiquem mais demoradas, exemplificam elas, enquanto as “olhadinhas” no celular se tornam ainda mais frequentes.

“É possível identificar o comportamento do colaborador por meio da mudança de postura e conduta prática de procrastinação para lidar com as questões cotidianas do seu dia a dia”, afirma Angelina. 

Além disso, o presenteísmo ainda está associado a sintomas físicos – incluindo dores de cabeça e musculares. Em relação a isso, uma pesquisa recente publicada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) apontou que 89% das pessoas com comportamento presenteísta apresentavam esse tipo de queixa, além de esgotamento físico e mental. 

RH pode combater problema, mas autoconhecimento é essencial 

Nesse cenário, cabe à liderança mais próxima identificar os sintomas e, se necessário, buscar um diálogo com o colaborador para entender qual será o melhor enfrentamento da situação. “Ao mesmo tempo, compartilhe o cenário com o RH para que seja encontrada uma solução que beneficie ambos os lados, desde o estímulo ao funcionário até a produtividade da empresa”, aponta Edwiges. 

Uma das formas de evitar as causas do presenteísmo associadas ao ambiente de trabalho é promover uma cultura de transparência, diálogo e feedbacks entre colaboradores de todos os níveis das equipes, afirma a executiva do Grupo Soulan. Com isso, é possível prever casos de insatisfação, desmotivação e até estresse provocado pela rotina de entregas. Já no caso do home office, o regime pode atuar com um fator de alívio de sintomas como angústia, ansiedade e estresse, melhorando as condições de atuação e resultando em uma melhora de produtividade. 

Por outro lado, é papel do próprio profissional se manter atento às mudanças de comportamento e até mesmo de interesse ao longo da carreira. “Vale lembrar que a empresa não é responsável sozinha pela sua satisfação; aqui cabe uma investigação profunda sobre si mesmo e o compromisso com as suas decisões”, alerta Angelina. 

O fenômeno, para Edwiges, é fruto de seu tempo e está ligado aos rápidos avanços da humanidade, o que, por sua vez, acaba levando a ambivalência para setores como saúde, tecnologias, educação, política, economia, social e segurança. Para a psicóloga organizacional, o presenteísmo é apenas mais uma das sequelas de uma modernidade volátil, incerta, complexa e ambígua. “Como consequência, nossas vidas e carreiras tornaram-se mais frágeis, ansiosas, não-lineares e incompreensíveis”, atesta. 

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