Robinho, Marcius Melhem e a desumanização dos corpos femininos

Precisamos nos posicionar contra o machismo, afinal, revitimizar também é agredir
avatar Hellen Moreno

No último mês, duas notícias permearam discussões acaloradas que tinham como pano de fundo a violência de gênero: o arquivamento, por parte do departamento de compliance da Rede Globo, da denúncia de Dani Calabresa contra Marcius Melhem e a condenação do jogador Robinho.

Ambas trouxeram como viés a culpabilização da vítima. No caso da atriz e humorista Dani Calabresa, estamos falando de uma derrota inicial, mas esperada. Afinal, será mesmo que a contratante admitiria que um de seus representantes, responsável pela direção de seu núcleo de humor, teria cometido assédio sexual? Difícil crer nessa hipótese. Agora, nos resta esperar que esse ato seja submetido à apreciação do Judiciário.

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Desejar que Dani Calabresa receba o tratamento que merece – e que não sofra misoginia -, é ter fé, mas não basta! Cada uma de nós precisa se posicionar a favor das vítimas, das muitas Danis que hoje choram a violação de seus corpos, a quebra de uma linha de confiança.

No caso do jogador de futebol Robinho, a justiça italiana foi implacável. Mesmo diante da tentativa de culpabilizar a vítima e de desacreditar sua palavra, a proteção à mulher venceu. A quem interessar, é possível ouvir uma quantidade considerável de áudios e transcrições que deixam clara a linha de raciocínio do abusador condenado.

Em momento algum há arrependimento. Sempre buscando se defender, alegava o agressor que não havia praticado sexo, nem transado com a vítima. Diz, inclusive, que ela sequer teria condições de se lembrar de algo. Quando questionado pelo amigo, que havia visto o agressor condenado colocar o pênis na boca da vítima, ele reconhece o ato, mas justifica dizendo que aquilo não caracteriza uma relação sexual.

Um verdadeiro show de horrores! Precisamos refletir sobre o quanto o corpo feminino é desumanizado, afasta-se dele a humanidade para que, assim, possam utilizá-lo como coisa – uma coisa à disposição do prazer masculino. Sim, é dessa forma que os corpos femininos são vistos: sexualizados, têm como função, segundo a visão patriarcal, a reprodução e a satisfação sexual masculina.

Romper com os abusos é ter poder sobre o próprio corpo, é não aceitar os padrões impostos, é cobrar das autoridades a proteção necessária para que as mulheres possam exercer um direito básico da vida humana: o de ir e vir, em segurança, sem que tenham seus corpos violados. Proteger umas às outras sem questionar o que a vítima fazia naquele lugar ou qual roupa ela usava – afinal, revitimizar também é agredir.

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Eu e você precisamos nos posicionar contra o machismo, contra a cultura do estupro e entender que a violação de corpos femininos começa pelo fiu fiu, sai das ruas, entra em elevadores, adentra grandes empresas e destrói as almas das mulheres. Não é mais admissível comportamentos abusivos que diminuem o ser mulher, que nos desumanizam.

Quanto à condenação do jogador famoso, nos resta aguardar que, de alguma forma, a justiça seja feita, que o poder não burle a lei e que o agressor condenado não continue vivendo como se nenhum crime tivesse cometido.

Hellen Moreno é advogada especializada em causas femininas

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