Instinto materno e o seu dinheiro

Os sonhos, os desejos, as vontades podem mudar e mudam ao longo dos anos - é prerrogativa dos seres humanos saudáveis, segundo Darwin, não aqueles que vivem apenas pela sobrevivência e adaptabilidade, mas também aos que desejam expandir, evoluir, criar e dominar
avatar Francine Mendes

Para nós, mulheres, tudo é mais desafiador. Nossas vontades, no sentido de vontade de potência em Nietzsche, àquela cega e insaciável que é capaz de movimentar nossas forças, sobretudo as antagônicas como delicadas e violentas, parecem não valer no mundo “real”. Todas as verdadeiras vontades femininas costumam ficar no campo da subjetividade uma vez que nascemos para servir e não o contrário. 

Desde cedo, somos preparadas para as escolhas de outrem; às nossas, resta o sequestro pela vontade alheia – segundo a cartilha da “boa” moça –  escolhidas,  sim; “escolher”, jamais. 

Cara leitora, se o próprio pai da psicanálise, Freud, no livro Cartas aos filhos, faz menções elogiosas às escolhas pela vida doméstica das filhas, em especial Mathilde, quem somos nós para questionar tal profissão? 

Prazer, somos as novas boas moças – usamos nosso instinto materno para fazer valer nossas vontades e ter saúde financeira também.

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Cuidamos de nós, dos nossos, e cuidamos, sobretudo, de nossas finanças, pois sabemos que somente o dinheiro que temos, nos garante, de fato, a vida que queremos.

Por isso, eu pergunto a você querida leitora: Quais são suas vontades de potência? 

Àquelas inclinadas para o eterno dizer sim.  Aquele querer que transcende, o querer para repetir infinitas vezes, não o querer meia boca que quer, mas nem tanto assim? 

O não disfarçado de sim, é o comportamento da antiga boa moça;  o não da nova boa moça, é não!

Esse posicionamento em favor de si, governa todo o resto e reflete diretamente na nossa vida profissional. Muitas querem sem saber porquê desejam, qual a verdadeira métrica do querer. 

Nossas carreiras dependem de tudo isso que falamos acima, coloquei no plural, pois toda nova boa moça tem pelo menos duas carreiras. 

Pessoal e profissional. 

Se você decidiu ter uma fonte de renda por você mesma, saiba que já faz parte do time das que começaram a cuidar de si e por extensão dos seus. Vale lembrar, qualquer atividade que você empreende o seu tempo é uma carreira, ou seja, ser mãe, esposa, autônoma, empresária, funcionária e, por aí vai. No entanto, a única carreira que garante seu poder de escolha é a de investidora.  

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Fazer uma transição de carreira é muito difícil. Não me contaram que ser mãe é fazer uma transição de carreira absolutamente complexa. Quando me vi com dois filhos pequenos, uma empresa para cuidar e uma série de contratempos na vida pessoal, o conceito de “carreira” ruiu em minha cabeça. Criar seres humanos é a tarefa mais incrível e complicada do planeta, por que fazemos isso de graça? 

Porque não tem preço, mas sim muito valor moral. Essa história de instinto materno, por outro lado, deixa nossas ambições mais espartanas e nossa saúde financeira em xeque. Precisamos questionar se estamos no exercício de nossas vontades absolutas. 

Um recente estudo da consultoria Gartner, em outubro de 2021, mostrou que 65% das mulheres estão repensando o lugar que o trabalho ocupa em suas vidas e não há nada de errado nisso. Nem sempre haverá somente um casamento ou uma profissão que durará por toda a vida, até porque muitas das profissões do futuro ainda nem foram inventadas. 

Para muitos pesquisadores, diversos fatores psicológicos podem ser percebidos no processo intrapsíquico e psicossocial que as mulheres vivenciam nesse período de reflexão e questionamentos sobre as suas escolhas.

Inicialmente, durante o ciclo de individuação das nossas vidas, vamos aprendendo a formar uma identidade separada dos nossos pais. No desenvolvimento do público feminino, esse momento de formação é permeado de experiências de apego que nos tornam únicas, mas que se estendem até a vida adulta atrás de reconhecimento e aprovação – e é justamente essa socialização patriarcal que faz com que muitas mulheres se sintam insatisfeitas em seus próprios empregos.

Há muitos aspectos da diversidade que impactam as relações de trabalho ao longo da vida. Às vezes, o medo do pior atrai o pior, e boicota a construção da sua independência emocional e financeira.

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Portanto, se você está passando por esse momento de reflexão e reposicionamento em sua vida, entenda que este momento requer planejamento, vontade de potência e coragem.

Os quatro M’s da transição de carreira

Com este cenário, uma questão importantíssima levantada pela Gartner é que as mulheres relatam se sentirem cansadas antes mesmo de chegarem ao trabalho (59% delas em comparação com 49% dos homens). Mais que isso, apenas 43% concordam ter energia suficiente para atividades de lazer.

Isso acontece porque nós enfrentamos mais desafios estruturais do que eles. A título de exemplo, mulheres gastam muito mais tempo do que homens em trabalhos de cuidado não remunerados – em média, 1,1 trilhão de horas por ano, contra menos de 400 bilhões de horas.

No Brasil, essa divisão desproporcional das tarefas domésticas se sustenta e, como resultado, as mulheres ficam cada vez mais sobrecarregadas pelas jornadas duplas e triplas de trabalho. 

Eu, por exemplo, mudei tantas vezes na minha vida e em todas me surpreendi com a quantidade de aprendizado e crescimento que elas me proporcionaram. Mas toda mudança é difícil. Independentemente da sua carreira atual, e para qual área você deseja migrar, é importante pedir ajuda para que a decisão seja tomada e, principalmente, baseá-la em princípios e valores rumo a um caminho de vida mais produtivo e gratificante.

Ponto 1: Meus Valores

Quais são os seus valores? Eles precisam estar claros para você nesse momento de priorizar os seus sonhos. Os meus, aqueles que eu não abro mão na hora de tomar nenhuma decisão, são: fé (foi na vida espiritual fortalecida que construí meu eixo de equilíbrio), família (meu trabalho é também extensão da minha família), responsabilidade (temos um lema lá em casa: primeiro a obrigação, depois a diversão), proatividade (buscar soluções, ir lá e fazer acontecer), saúde, gratidão, generosidade…

Selecione os seus. Pense naqueles que te movem e não julgue quem eleger propostas de valor diferentes das suas. Respeite e entenda que é sobre você, não sobre o outro.

Ponto 2: Mentoria

Identificou seus valores? Então, é hora de pedir a opinião de alguém que você admira e que se importa com você. Escolha uma pessoa para ser o(a) seu(sua) mentor(a) e não tenha medo nem vergonha de pedir conselhos. Você vai ficar surpresa em ver o quanto ele(a) ficará grato(a) em poder te ajudar!

Ponto 3: Muita terapia

A terapia faz sua consciência aparecer para si mesma. Investigue seus pensamentos inautênticos, aqueles escondidos no seu inconsciente, que lá pelas tantas fazem você tomar decisões equivocadas sem perceber, para não repetir padrões que te fazem correr, se desgastar e sempre chegar no mesmo lugar – o lugar que você deseja sair, mas que a vida insiste em te levar de volta. 

Um bom profissional pode te ajudar a enxergar a vida por outros ângulos!

Ponto 4: Meditação

Meditar mudou a minha vida, a minha relação comigo mesma e com os outros, por isso recomendo para todas as mulheres que estejam em busca de uma nova versão. A meditação tem o potencial de acalmar a mente, controlando impulsos e a ansiedade, e ajuda a encontrar aquele projeto de existência para encarar os dias difíceis. Qualquer atividade que deixa sua mente concentrada e ativa é uma forma de meditação.

Por fim, sabendo quais são os seus valores, com mentoras, autoconhecimento e autorresponsabilidade, você poderá trabalhar na construção de novas carreiras. 

Qual o seu querer? 

A característica fundamental das novas boas moças é transcender o instinto materno e transformar em sabedoria o conhecimento adquirido para atingir um objetivo que valha a pena. Novas boas moças não julgam as carreiras de outras moças – entendem, embora não compreendam algumas atitudes, mas não condenam ou ridicularizam. As novas boas moças sempre encontram um ponto de convergência com qualquer moça. Quem está disposto a cuidar de si? 

Francine Mendes é autora do livro ‘Mulheres que Lucram’, fundadora da Femtech Elas que Lucrem e CEO do Ellebank, além de ser mãe, esposa, empresária, e mestre em Psicanálise. O Instagram é @francinemendes e o canal do YouTube é https://www.youtube.com/c/FrancineMendes2022

O conteúdo expresso nos artigos assinados são de responsabilidade exclusiva das autoras e podem não refletir a opinião da Elas Que Lucrem e de suas suas editoras

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