Elas Que Inspiram: Como a atriz Maria Gal transformou o DNA artístico em empreendedorismo

Das aulas de balé, ela descobriu o amor pela arte e criou a própria produtora
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A atriz descobriu o teatro cedo e decidiu que seguiria carreira artística quando ainda era adolescente

Maria Gal, nascida Maria das Graças Quaresma dos Santos, é uma atriz que desenvolveu seu lado artístico desde muito cedo. Durante a infância, praticava atividades, como natação, vôlei, inglês e balé. Depois de um tempo, a escola de balé começou a incluir aulas de teatro uma vez por semana. “Eu comecei a gostar mais do teatro do que da dança. Na adolescência eu gostava muito de imitar as personagens das novelas, aí coloquei na cabeça que iria ser atriz”, conta ela.

A atriz se formou em Design Gráfico, mas trabalhou pouco tempo na área. Durante o período, exerceu a profissão em um teatro, onde percebeu que a atuação era o que ela realmente queria seguir como carreira.

Pouco tempo depois de ir para São Paulo para uma apresentação, Gal decidiu se mudar para a cidade, mas relata que a adaptação não foi fácil. “Eu não tinha noção nenhuma do que eu estava fazendo”. Disse ela que complementou: “uma coisa é você ir em um teatro organizado por uma produção, com todo o amparo profissional. Outra coisa é você ir sozinha, sem nenhuma perspectiva de trabalho”.

Ela completa ao relembrar que não podia falar para seus pais que se sentia mal porque eles a pediriam para que ela retornasse para Salvador, lugar de onde veio. “Foi um perrengue total. Tem uma cena que eu não esqueço nunca: foi eu chorando em plena Avenida Paulista. Andando e chorando. Uma coisa bem dramática”, ri ela.

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A partir de uma experiência que teve no Teatro Olodum, em que os próprios atores se produziam para as apresentações, a atriz teve um insight empreendedor. Foi então que ela abriu a “Maria Produtora”, empresa em que atua produzindo outros atores negros.

Ela relembra que, na infância, a mãe fazia muitas contas. Isso somado à experiência que teve no Teatro Vila Velha e à participação no Teatro Olodum, foram de encontro ao DNA artístico da atriz. Além disso, a sobrevivência foi um dos pontos principais que a fez iniciar sua própria produtora. “Fui para São Paulo para trabalhar com teatro e arte, mas ninguém me conhecia. Essa é a história dos empreendedores negros do Brasil. Você empreende para sobreviver”.

Aproximadamente 10 anos depois que chegou em São Paulo, Gal decidiu realizar seu sonho de morar no Rio de Janeiro. Ela já estava estabilizada na capital paulista quando disse para si mesma “tenho que ir para o Rio de Janeiro”. Após um espetáculo que foi montado em São Paulo e apresentado, também, no Rio de Janeiro, ela decidiu se mudar.

“Eu conheci o Rio de Janeiro no início da minha adolescência e me apaixonei pela cidade. Parei na porta do Projac, tirei foto com a dona Ruth de Souza e desde então alimentei esse sonho de morar ali”, relata ela. 

Por conta do espetáculo que realizava no Rio, ela ia e voltava para a cidade várias vezes, então decidiu se mudar definitivamente. “Eu sou assim, na intuição”, brincou ela.

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Gal também tem forte atuação no ativismo negro. Em 2017, criou um canal no YouTube chamado Ponto de vista por Maria Gal, cuja temática central era o empoderamento negro e feminino.

Neste ponto, a empreendedora diz que, nos últimos anos, o número de mulheres negras tem crescido no mundo artístico, mas ressalta que o processo ainda é lento. Ela ainda questiona: “qual filme brasileiro você lembra de ter assistido que tinha um cartaz com uma mulher negra retinta estampada?”.

Dados do IBGE apontam que 54% da população do Brasil é composta por negros. Quando o assunto são mulheres, dados da Agência Brasil dizem que as negras são quase 28% do total populacional do país. Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos países que mais consome audiovisual no mundo. “Tem uma contradição absurda nesses números”, complementa ela.

Ela também diz que, embora não pareça, manter um canal na plataforma exige muito trabalho. Ela optou por encerrar o canal, mas relata que foi uma experiência interessante. “É completamente diferente você estar ali, falando por você mesma e se autoproduzindo”. Gal enfatiza que, por meio de sua conta no Instagram, @marialgalreal, tem dado continuidade ao projeto que iniciou no YouTube. “Quando produzo ou crio conteúdo, trago a voz da Maria Gal e não de uma personagem. É um formato completamente diferente”.

Ao falar sobre seu último papel na televisão, Gleyce Soares, em “As Aventuras de Poliana”, no SBT, ela se orgulha e diz que se trata de “uma personagem que tem uma trajetória de heroína durante a trama e que passa por um processo de empoderamento.” Ela finaliza o comentário ao dizer que “é uma personagem importante, porque foi a única mãe de família no ar ininterruptamente de 2018 a 2020”.

Quando fala das crianças, ela relata que é uma experiência muito legal, porque o set fica mais leve. Gal se diverte ao comentar que, nesses momentos, também volta a ser criança e adolescente.

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A atriz ainda comenta que sente o desejo de ser mãe. “Acho que eu anulei esse lado materno da minha vida, até de forma inconsciente”. Ela diz que acredita que isso seja algo que muitas mulheres passam. Elas saem para lutar pela sobrevivência e acabam por esquecer este outro lado, “que também é uma força feminina”.

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