Elas Que Inspiram: Conheça a história da empresária que transformou sua maior fragilidade em negócio

Fundadora do Instituto AB, Amanda idealizou o projeto após viver na pele as dificuldades de acessibilidade e inserção de pessoas com deficiência nos espaços e trabalho
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A fundadora do Instituto AB defende a necessidade de pessoas buscarem conhecimento e entendimento sobre o tema.

Amanda Brito é uma mulher de 34 anos que chegou ao mundo superando expectativas. Cadeirante e com um 105 centímetros de altura, ela mostra o real significado da expressão “tamanho não é documento”.

A empresária, que já administrou um blog voltado para PcDs (pessoas com deficiência), é criadora do Instituto AB, que oferece consultoria, nas palavras da fundadora, “para impulsionar a diversidade e inclusão nas empresas, empoderar as pessoas por meio da educação e potencializar resultados”. 

História

Ela nasceu com duas fraturas e logo depois foi diagnosticada com uma doença chamada osteogênese imperfeita, mais conhecida como ossos de vidro, uma condição rara que que se manifesta pela fragilidade extrema dos ossos, que podem quebrar com muita facilidade, o que a fez receber uma expectativa de vida de apenas dois meses.

“Eu não passava seis meses sem gesso. Se me carregassem no colo de um jeitinho errado, se eu tivesse qualquer tombo, qualquer trauma, mesmo que fosse leve, já quebrava alguma coisa”, conta ela.

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Mesmo como a primeira pessoa da família a apresentar a patologia, Amanda relata que sempre teve apoio e a ajuda dos pais, irmãos e avós, na saúde, na vida pessoal e na esperança sobre seu futuro. Ela também fala sobre o acolhimento que recebeu durante toda sua infância e adolescência, tanto de colegas, como dos professores, e ressalta a importância dos PcDs serem incentivados por familiares e amigos para construírem autoestima.

Por conta da quantidade de fraturas que sofreu na infância, o desenvolvimento físico de Amanda foi prejudicado, o que resultou na estagnação do seu crescimento quando ela atingiu pouco mais de um metro de altura.

Quando entrou na faculdade, aos 18 anos, ela passou a usar uma cadeira de rodas para facilitar a locomoção. Porém, a falta de acessibilidade da maioria dos lugares que Amanda precisava frequentar causava transtornos a ela, porque era necessário pedir para que fossem feitas algumas adaptações ou até mesmo trocar a sala de aula por outra de mais fácil acesso.

Vida profissional

Amanda passou no vestibular de Economia, mas logo depois mudou para Administração de Empresas, curso no qual obteve a graduação. Ainda durante os estudos e após a formação, ela enfrentou muitas dificuldades para conseguir entrar no mercado de trabalho.

Foi então que a empresária decidiu mudar de estratégia. Ela passou a estudar para concursos públicos e foi aprovada em cinco. Trabalhou durante sete anos em uma empresa pública e, durante esse período, se assustava e se incomodava ao perceber que era a única cadeirante da companhia com ensino superior.

A partir disso, a empresária sabia que precisava fazer algo para mudar essa realidade. Durante o período em que trabalhou na empresa, ela teve a chance de fazer parte do time de recursos humanos e dar início à transformação que desejava.

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Amanda se casou com Fabiano Orleans e, juntos, lançaram o blog Destinos Acessíveis, um projeto que se propunha a discutir sobre acessibilidade. “Meu marido é fotógrafo e eu sempre gostei de escrever, apesar de não ser jornalista, fazia por hobby mesmo”. Diz ela que completa: “A gente percebia que tinha muita informação relevante, mas as pessoas não tinham acesso a esse conteúdo, então passamos a escrever sobre o assunto”. O blog serviu como pontapé inicial para um projeto maior.

Foi a partir do Destinos Acessíveis que Amanda teve a ideia de criar o Instituto AB, um projeto social que nasceu como um negócio, cujo objetivo é incentivar a empregabilidade de pessoas deficientes e promover ambientes de trabalho mais inclusivos.

Dados do IBGE revelam que hoje, no Brasil, existem aproximadamente 45 milhões de PcDs, mas a Agência Brasil divulgou que apenas 1% está inserido no mercado de trabalho. Amanda faz questão de chamar a atenção para o fato de que a Lei de Cotas não aborda estágios, então muitos alunos universitários com deficiência encerram os cursos sem experiência alguma, o que gera ainda mais dificuldades para conseguirem trabalhos em suas áreas de formação.

O projeto conta com três frentes de atuação. Dentre elas, existe uma plataforma de vagas de emprego exclusivas para pessoas com deficiência. Também há, aliado com o recrutamento, a educação corporativa, voltada para o treinamento e capacitação para que empresas possam criar uma cultura inclusiva no ambiente de trabalho. Na última frente, está o serviço de consultoria para empresas, voltada para o apoio na implementação desses processos inclusivos nas companhias.

Lições

Amanda também cita a importância de pessoas que não são deficientes buscarem conhecimento e entendimento sobre o tema.

Algumas se sentem constrangidas ao falar e interagir com PcDs, enquanto outras costumam usar termos que não são corretos e não buscam aprender a forma certa de se dirigir a uma pessoa  portadora de deficiência.

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“Hoje a terminologia correta é ‘pessoas com deficiência’. Ao contrário do que muita gente pensa, não é um preciosismo apenas de terminologia, mas é a ideia de trazer a pessoa antes da deficiência”, ensina a empresária.

Ela diz que uma das coisas mais importantes é perguntar. Questionar a pessoa com deficiência se ela realmente precisa de ajuda em algo, perguntar como falar corretamente. 

Ela encerra a conversa ao dizer que não é errado oferecer ajuda e, caso a resposta seja negativa, as pessoas não devem se constranger ou desconfiar de algo. Isso porque algumas pessoas com deficiências não precisam de apoio em determinados momentos, seja no manuseio de uma cadeira de rodas, uma bengala ou por conta do uso de aparelhos auditivos.

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