Maria de Valores

Aos 50 anos, ela ocupa espaços onde as mulheres são esmagadora minoria
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Maria de Valores
Apesar de empreender desde cedo, Maria representa apenas uma pequena parcela de mulheres empreendedoras no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Domicílios IBGE de 2018, a cada 10 pessoas que empreendem no Brasil, apenas 3,4 são mulheres

Este perfil faz parte da reportagem especial “Maria, Maria: Entenda como vivem as mulheres brasileiras”. Para acessar a série completa, clique aqui.

Maria Fabíola, 50 anos, empreendedora

Mesmo em um país com alto índice de desemprego e poucas mulheres em grandes cargos, Maria Fabiola Gatti, 50, viu a oportunidade de abrir seu terceiro negócio após os 40 anos e manter o sustento da família apenas com o empreendimento. A Bebidaria surgiu em 2016 como uma adega para vender bebidas aos fins de semana, para um público jovem e diversificado, que ocupa a badalada Rua Peixoto Gomide, bem ao lado da Rua Augusta.

A Bebidaria encontra-se fechada desde o dia 14 de março de 2020 por conta da pandemia de Covid-19. Mas essa não é a primeira interdição que o negócio enfrenta. Apenas alguns meses após a inauguração, o estabelecimento foi lacrado pela subprefeitura da região, a pedido de João Dória, prefeito da cidade de São Paulo naquela época. O motivo foi o local ter se tornado refúgio para jovens que buscavam se proteger da violência da polícia em conflitos que aconteciam em dias de lotação da rua. O retorno das atividades só aconteceu nove meses depois, após a troca do prefeito da cidade, quando João Dória deixou a prefeitura para concorrer ao cargo de governador, e Bruno Covas assumiu a gestão da cidade.

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Este também não é o primeiro empreendimento de Maria. Seu primeiro negócio surgiu em 1999, quando ela resolveu colocar em prática seus aprendizados e experiências com análises de sistemas, sua área de formação, e criou a Net Cargo, a primeira empresa brasileira a usar um sistema informatizado para administrar entregas de grandes e-commerces, como Lojas Americanas e Livraria Cultura. O negócio chamou a atenção de investidores americanos, que compraram a empresa por R$ 1 milhão, valor que nunca foi recebido integralmente por Maria. A empreendedora caiu nas mãos de empresários golpistas.

Com pouco dinheiro e muita coragem, Maria financiou quatro carros e abriu em 2008 sua própria locadora de veículos. Manteve a empresa por 4 anos, até que veio a operação Lava Jato. A grande investigação fez com que ela perdesse a maioria de seus clientes, que trabalhavam para construtoras denunciadas pela operação.

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Apesar de empreender desde cedo, Maria representa apenas uma pequena parcela de mulheres empreendedoras no Brasil. Segundo a Pesquisa Nacional por Domicílios IBGE de 2018, a cada 10 pessoas que empreendem no Brasil, apenas 3,4 são mulheres. Dados do estudo do Monitoramento de Empreendedorismo Global (GEM) de 2018, em cada 10 mulheres empreendedoras, 3,9 viram donas de negócio, contra 6,5 para cada dez homens.

Agora, Maria também está em busca de um espaço pouco ocupado por mulheres. Será candidata a vereadora nas eleições deste ano. Segundo o Mapa Mulheres na Política de 2019, um relatório da Organização das Nações Unidas e da União Interparlamentar, no ranking de representatividade feminina no Parlamento, o Brasil ocupa a posição 134 dos 193 países que fazem parte da pesquisa, com 15% de participação de mulheres.

Além das graduações em Processamento de Dados e Relações Internacionais, Maria fez pós e diversos outros cursos voltados à política e administração pública.

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“O meu interesse pela política começou desde cedo. O fim da ditadura foi no auge dos meus 15 anos e ser impedida de fazer algumas coisas era algo que me incomodava muito. Naquela época fui às ruas de cara pintada a favor das diretas”

O ativismo e o gosto pela fotografia a levaram ao diretório do PT, onde se tornou uma das fotógrafas do partido e até hoje coleciona fotos e histórias daquela época. Polêmicas envolvendo o PT e, principalmente, o ex-presidente Lula, fizeram com que ela se afastasse do partido e da política. A militância política só voltou com o funcionamento da Bebidaria e com a realidade que Maria encontrou nas noites do baixo Augusta.

Foi durante uma palestra do político Ciro Gomes, que Maria expôs suas causas, foi elogiada pessoalmente e convidada por ele para se filiar ao PDT e ser candidata a vereadora nas eleições de 2020. De início achou que não teria tanta bagagem política para atuar, mas foi convencida pelo ex-candidato à presidência e se filiou ao partido.

“As minhas batalhas sempre serão pela moradia popular e o direito dos jovens à cidade.”

Desde então Maria tem se dedicado aos estudos e foi selecionada para ser uma líder do RenovaBR — uma organização que educa candidatos para atuação política — após uma rigorosa seleção de 5 fases. Hoje ela já atua no PDT como Secretária de Núcleo de Base Adjunto e segue com os trabalhos pré-campanha.

“A única forma de fazer as coisas que eu já fazia voluntariamente e ver fazer efeito, atingindo ainda mais pessoas, é estando dentro da política. As minhas batalhas sempre serão pela moradia popular e o direito à cidade dos jovens”.

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Há mais de dez anos, Maria atua em trabalhos voluntários voltados à população carente, com a distribuição de roupas, alimentos, apoio psicológico para moradores de rua, através do coletivo “Doe um ouvido”, promoção de eventos culturais e aulas de reforço para crianças carentes.

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