Conheça Vanessa Louzada, CEO da startup que quer transformar o sistema jurídico brasileiro

Advogada é uma das fundadoras da Deep Legal, lawtech que projeta 177% de crescimento para o ano de 2021
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Conheça Vanessa Louzada, CEO de uma empresa que quer transformar o sistema jurídico brasileiro
Vanessa Louzada nasceu na cidade de Ariquemes, em Rondônia e sempre teve vontade de empreender por causa da influência dos pais

Já parou para pensar como união de programação e de milhares de processos judiciais pode desencadear uma série de análises para ajudar uma empresa a se desenvolver melhor? Pode até parecer complexo no primeiro momento, mas a empresária Vanessa Louzada, 41, garante que essa junção pode otimizar e comparar os dados obtidos com a ajuda de softwares e transformá-los em decisões estratégicas com geração de valor para o seu negócio. Ela é uma das fundadoras e CEO da Deep Legal, lawtech de inteligência e gestão preditiva especializada em análise de dados.

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O que é a Deep Legal

A Deep Legal é uma startup criada em outubro de 2018 com a ajuda do conhecimento jurídico de Vanessa, que é advogada, e o interesse por programação e dados do engenheiro Raul Figueiredo.

A empresa utiliza técnicas estatísticas e tecnologias como ferramentas de Big Data, Machine Learning e Inteligência Artificial para coletar dados, normalizá-los e transformá-los em informação consistente. A ideia é informar, monitorar, comparar e predizer carteiras de ações judiciais.

“É como se a gente fosse um Google Analytics somente para o Brasil. Nós capturamos todos os dados jurídicos brasileiros de diários oficiais e dos tribunais de justiça dos estados e os analisamos. Hoje existem mais de 100 sistemas diferentes para cuidar de 110 milhões de processos judiciais. Para se ter ideia da complexidade, hoje, no Brasil, temos mais de 1 milhão de advogados e 800 mil bacharéis em direito, é um mercado gigante. A quantidade de processos e dados é absurda”, explica a CEO da empresa.

Um processo judicial tem começo, meio e fim. Apesar das fases serem bem definidas, não é tão simples de entender o que está escrito por causa das nomenclaturas e até a forma diferente de cada juiz se expressar. “Isso acontece porque o Direito não é simples, então para conseguir captar o dado, normalizar e estruturar leva muito tempo e é complexo. Isso é o que a gente faz. Fazemos essa varredura e trazemos para um sistema chamado Power BI com o objetivo de gerar mais eficiência e agilidade dentro das empresas. Nosso cliente ideal são as empresas ou escritórios de advocacia, de modo que essas organizações possam gerenciar toda a complexidade de dados de uma forma diferente”, diz a advogada.

Como funciona na prática

Se contratados por uma empresa de telefonia para analisar todos os processos trabalhistas movidos contra ela, por exemplo, na prática, os sistemas de análise da Deep Legal conseguem elencar muitos fatores. Entre eles, o software com base nos dados diz quem são os juízes que julgam melhor ou pior com relação ao assunto, qual a cidade que a empresa mais perde ou ganha processos judiciais, qual tese jurídica que mais faz sentido, quais cuidados devem ter e outros indicadores.

Dados da Deep Legal mostram que as reversões judiciais chegam a 15%, enquanto que os acertos nas previsões judiciais 84%. “Os setores que se relacionam com consumidores, como bancos, telefonia, varejo e transportes encontram nessa tecnologia uma aliada na transformação digital do jurídico. Por meio desse trabalho, são capazes de reduzir questões como milhares de processos, baixa performance, alto índice de revelias e produtividade comprometida”, destaca Vanessa.

Veia empreendedora

Vanessa Louzada nasceu na cidade de Ariquemes, em Rondônia, e sempre teve vontade de empreender por causa da influência dos pais. A mãe tinha loja de confecções e o pai era pecuarista. “Sempre estive muito com eles. Ajudava na loja, fazia inventário de estoque, ia ao banco, mas tinha o sonho de romper essa bolha e ir morar em São Paulo”, conta.

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Aos 17 anos, foi aprovada em Direito e em Psicologia e se mudou para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Ainda quando estava na faculdade, para conseguir se manter, ela estagiava e fazia os tradicionais bicos. Costumava se aventurar na Rua 25 de março, região central da capital paulista, para comprar produtos e revender na cidade em que morava. “Essa veia empreendedora é desde criança, eu lembro que vendia limonada com a minha prima para ter algum dinheiro. Eu era muito nova, mas já tinha esse pensamento”, lembra Vanessa.

Depois de se formar, ela trabalhou em escritórios de advocacia e em banco, mas sempre faltava algo e a vontade de empreender só aumentava. “Eu cheguei a ser gerente do Jurídico do Banco Santander em São Paulo, mas depois de oito anos, senti que a minha jornada estava concluída. Precisava fazer outra coisa, mas não sabia no que empreender.”

O interesse por tecnologia e empreendedorismo só aumentava e Vanessa se envolveu com o Movimento de Investidoras Anjo (MIA), que tem como principal objetivo investir em startups que são lideradas por mulheres, além de ser um incentivo e apoio para as empreendedoras de negócios de alto impacto.

E foi justamente por meio desse segmento de investidores anjos que Vanessa conheceu o software de predição de dados jurídicos do engenheiro Raul que a ajudou a fundar a Deep Legal.

A empresa atualmente tem 15 colaboradores e 25 clientes. O faturamento da startup em 2020 foi de R$ 1,8 milhão, com previsão de crescimento de 177% em 2021, para R$ 5 milhões.

Trabalhar com dados no Brasil

O segmento das lawtechs, empresas tecnológicas do setor jurídico, cresceu cerca de 300% desde 2017, contando atualmente com mais de 150 startups no ramo, segundo levantamento da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L). Apesar da crescente, Vanessa ainda considera difícil trabalhar com dados no Brasil. “No nosso segmento, que é o jurídico, acho ainda mais complicado. Analisamos o texto jurídico, mas ele não tem padrão. Ao trabalhar com dados, precisamos de padronização. É um desafio grande, mas acredito que tem muita gente trabalhando com isso e tenho certeza que nos próximos anos vamos dar saltos com relação a esses problemas.”

Além dos problemas de padronização, encontrar funcionários qualificados na área de tecnologia também é desafiador. “Ainda estamos em um processo de aprendizado do que fazer e de como fazer. Tudo de melhor que existe no mundo de tecnologia está na língua inglesa e ainda são poucos brasileiros que falam, mesmo os programadores. Tivemos algumas dificuldades no início, mas vamos superando a cada dia”, conta.

Vontade de empreender ainda é grande

Para o futuro da Deep Legal, a ideia é continuar aprimorando o negócio. “Existe a possibilidade de ser cada vez melhor, principalmente na área de tecnologia no Brasil”, conta. Ela também admite que fica feliz ao mudar o ambiente jurídico, que geralmente é visto como complicado pelas empresas. “A gente pensa em abrir uma outra rodada de investimentos no próximo ano para poder aumentar a quantidade de produtos que a gente tem. Queremos deixar o Direito mais acessível para a sociedade.”

Sobre abrir outros empreendimentos e o seu desejo por negócios, Vanessa não descarta a ideia. “Eu não posso falar que não vou mais empreender porque é mais forte que eu. Vejo sempre oportunidade de criar uma coisa diferente do que já está sendo feito. Pode ser que aconteça uma nova empresa no futuro.”

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