Quem é a brasileira que está conquistando os desfiles internacionais com sua marca de sandálias veganas

Aos 23 anos, Isabela Chusid usou uma condição médica como motivação para criar a Linus, empresa de lifestyle sustentável que chegou à Semana de Moda de Nova York
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Olivia Araujo
Aos 23 anos, Isabela começou a desenvolver o calçado de forma paralela com seu trabalho fixo (Foto: Olivia Araujo)

Nos corredores do CJ SHOPS Jardins, em São Paulo, a Linus, marca de lifestyle sustentável, tem como vizinhos grifes internacionais do porte de Gucci e Balmain. Mas, diferentemente delas, a brasileira não oferece produtos caríssimos de alta costura. Nascida a partir da necessidade de uma jovem de 23 anos que sofria com dores no pé, a empresa que produz sandálias veganas foi criada de forma despretensiosa, com apenas um objetivo principal: o propósito. “Precisava ser confortável, atraente e – não menos importante – sustentável”, lembra a fundadora Isabela Chusid.

Menos de três anos depois, esse propósito foi um dos grandes responsáveis por levar a Linus até o cenário da moda internacional. A loja do CJ SHOPS Jardins, inaugurada em novembro, é temporária, mas esse não é o único elo de ligação entre a brasileira e as grifes estrangeiras. Em setembro, as sandálias da Linus estavam nos pés das modelos do desfile de Carlton Jones, na Semana de Moda de Nova York. O contato partiu da equipe do estilista norte-americano, que conheceu a criação de Isabela exatamente por conta das iniciativas sustentáveis. Feitas de plástico, as sandálias são 100% recicláveis, veganas e compostas por 70% de fontes renováveis. Juntando isso ao design despojado, o caminho para a NYFW foi traçado. 

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Quando recebeu o primeiro contato da equipe de Jones, Isabela não acreditou que o interesse pela Linus fosse de verdade. Parecia um sonho, que só migrou para o campo da realidade quando as primeiras fotos do desfile começaram a circular pela internet. Suas peças – uma sandália mostarda e uma cor de musgo – realmente estavam no centro de uma das maiores vitrines do mundo da moda. “Não gastamos um centavo para conseguir isso, foi orgânico”, conta a empreendedora nata. Hoje, aos 26 anos, seus calçados já são vendidos em países como Portugal, Espanha e Estados Unidos. Um breve resumo que deixa claro uma coisa: a proximidade da Linus com as grifes internacionais, ao contrário da loja no shopping, não é temporária. 

Olivia Araujo
Foto: Divulgação Linus

Uma ascensão rápida assim, no entanto, pode parecer incomum para quem não conhece a marca a fundo. Como uma empreendedora tão jovem conseguiu criar uma coleção de sandálias capaz de ganhar os holofotes da Big Apple num curto espaço de tempo? Ao contrário do que muitos podem pensar inicialmente, Isabela não é herdeira de uma indústria de calçados, nem nasceu numa família milionária. O avanço da Linus foi natural, fruto de uma ideia que se encaixava em uma necessidade de mercado.

UM NEGÓCIO QUE SURGIU DA DOR – LITERALMENTE

Como estudante de administração de empresas na Fundação Getulio Vargas (FGV), Isabela ainda não tinha certeza sobre seu caminho profissional. Inicialmente, pensava que ingressar em uma grande empresa faria seu coração pulsar mais forte. No entanto, quando conseguiu a tão sonhada vaga de trainee em uma companhia que admirava – que hoje ela prefere não citar -, nem tudo correu como esperado. “Eu queria trabalhar com marketing, mas me colocaram na área de vendas dizendo que meu perfil se encaixava melhor por lá. É claro que eu aceitei, mas pouco tempo depois já percebi que o trabalho não estava me fazendo bem. Quando você fica profundamente triste quando ouve a música do ‘Fantástico’ no domingo à noite, quer dizer que tem algo errado com o que você faz”, diz. 

A gota d’água, no entanto, foi quando descobriu que tinha sido direcionada para o departamento comercial porque a empresa precisava bater a meta de presença feminina na área. “Quando descobri isso, fiquei muito desanimada. Me senti uma simples ferramenta para cumprir cota”, diz. Infeliz com o trabalho, decidiu tomar uma atitude e pedir demissão. “Como era um cargo de trainee, minha chefe me chamou e avisou que sair no meio do contrato poderia prejudicar minha carreira, mas eu estava muito decidida. Não era o lugar certo para mim.” 

Aos 22 anos, Isabela se sentia perdida, regredindo. O salário de trainee era bom e a empresa tinha um grande nome no mercado. Deixar essa oportunidade para trás não era uma decisão convencional. Sem saber o que fazer após a demissão, ela começou a estudar texto publicitário e ficou três meses fazendo cursos e coach de carreira para tentar se encontrar. Ao final desse período, o mentor a chamou para trabalhar com ele na empresa. “Eu fazia tudo por lá, menos os treinamentos, claro”, brinca. “Foi um período de muito desenvolvimento pessoal. Eu tinha dado um passo para trás, mas estava aprendendo muito.” Naquele período, também começou a sentir muita dor no pé – e embora essa informação pareça trivial, foi a partir desse desconforto que a vida da jovem mudou. 

“Eu tenho hiperfrouxidão ligamentar, uma disfunção nos ligamentos que os torna mais frágeis e flexíveis, e sempre soube disso. É um diagnóstico que não me gera estresse, mas como eu estava fazendo home office e ficava descalça o dia inteiro, o ortopedista disse que eu precisava de um suporte para a curva do meu pé. Só assim a dor melhoraria”, explica. “Quando não estava descalça, eu usava chinelo de dedo ou tênis Vans. Eram calçados flat, que não ajudavam a minha condição.” A recomendação médica era simples, bem diferente da busca pelo sapato ideal. Isabela queria um que fosse confortável, bonito e sustentável. Três coisas praticamente impossíveis de encontrar num mesmo modelo.

“Foi por conta dessas dores e necessidades que o insight para criar a Linus surgiu.” Aos 23 anos, Isabela começou a desenvolver o calçado de forma paralela com seu trabalho fixo. Foi assim por cerca de seis meses, até a marca ser lançada, em dezembro de 2018, e ela mergulhar completamente nesse universo. “Foi um desafio entender o mercado e encontrar fornecedores dispostos a investir em uma primeira coleção pequena, de apenas 900 peças. Meu marido, que é designer, conseguiu desenhar o produto que eu tinha em mente. Também fizemos um protótipo de argila para enviar ao molde 3D. Foi tudo muito espontâneo e  caseiro”, aponta. “Antes feito do que perfeito – foi assim que nossa primeira leva de sandálias foi apresentada ao mercado.” 

De cara, a Linus já teve uma grande aceitação. Uma resposta financeira que fez com que fosse possível reinvestir na empresa de modo independente, sem precisar contar com investidores externos. “Quando o produto já está na rua, com o feedback dos clientes, as coisas fluem melhor. Nosso design é versátil, atemporal e agênero, o que faz com que não tenha prazo de validade. A partir disso, fomos evoluindo aos poucos, até chegar onde estamos hoje.” Essas características, junto ao conforto, fizeram com que a marca crescesse 700% durante a pandemia. 

MAIS DO QUE UM CALÇADO

Além da crescente busca pelo conforto durante a pandemia, a consciência quanto às questões ambientais também aumentou no período. Para Isabela, no entanto, essa é uma preocupação que esteve presente em toda a sua vida, desde a infância. “Aprendi sobre reciclagem com quatro anos e já comecei a questionar meu padrasto, que na época era síndico do prédio. O condomínio inteiro começou a reciclar depois que eu falei sobre o assunto”, lembra, entre risadas. 

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Como consumidora, Isabela também nunca foi de fazer excessos. “Não é surpresa para ninguém, mas eu estou todos os dias de Linus. Por que vou ter um milhão de sapatos se a sandália se encaixa em várias ocasiões?”, pergunta. Em honra à sua personalidade eco friendly, a marca entrega mais do que um sapato vegano: é certificada com os selos Eu Reciclo e Carbon Free e reconhecida pela organização internacional de direitos dos animais PETA. 

Além disso, em comemoração ao Mês da Amazônia, em setembro, a Linus lançou a coleção Linus Amazônia, que integra a linha permanente da marca e tem 100% dos lucros revertidos para a OPAN (Operação Amazônia Nativa), primeira organização indigenista fundada no Brasil, que atua no fortalecimento do protagonismo indígena.

De certa forma, o segmento da moda está – aos poucos – alinhando-se ao pensamento de Isabela e de tantas outras pessoas preocupadas com o meio ambiente. “Quando vi a Linus no New York Fashion Week, percebi que estava conseguindo mostrar a sustentabilidade brasileira para o exterior. Além disso, sou uma mulher empreendedora, o que, na minha opinião, deixa tudo mais especial. Me senti respeitada e empoderada ao ser reconhecida”, revela. 

Durante o processo de criação da marca, a empreendedora passou por situações desconfortáveis por ser mulher. O segmento da moda não impediu que Isabela fosse estigmatizada por fornecedores e outros profissionais do setor. “Eu reconheço meu privilégio, por isso uso a minha condição para ajudar outras meninas em seus crescimentos pessoais e profissionais. Entre 16 funcionários na empresa, 84% são profissionais do gênero feminino.” Seja no quesito direito das mulheres ou preservação do meio ambiente, a Linus é definida como uma marca de lifestyle sustentável. “Não é apenas uma marca de calçados”, conclui a fundadora.

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