Carol Paiffer: “As mulheres são o agente de transformação que mudará o país”

Diretora da Atom e jurada do “Shark Tank Brasil” fala sobre empreendedorismo feminino no Brasil
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Carol Paiffer é uma das primeiras mulheres especialistas em day trade no Brasil (Foto: Divulgação)

Diretora da Atom, empresa focada em day trade, e investidora-anjo no “Shark Tank Brasil”, Carol Paiffer, 33 anos, é um nomes de destaque no mercado financeiro nacional. Uma das empresárias mais jovens a conseguir êxito na área do trading, a paulistana ingressou no mundo dos investimentos ainda no primeiro ano da faculdade de administração. Logo depois, em 2012, fundou, ao lado do irmão, a companhia que deixaria a família milionária. 

Só em 2020, a Atom registrou alta de 484% no lucro líquido, alcançando valores anuais de R$ 12,3 milhões. Além do contato com investidores, a empresa ainda conta com um braço responsável por capacitar novos profissionais no setor do trade: a Atom Educacional. 

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Hoje (27), Carol será um dos destaques do segundo dia do Go Digital Festival, evento de marketing digital e empreendedorismo para o mercado latinoamericano que está sendo realizado no Centro de Convenções de Pernambuco, em Recife. Em entrevista a Elas Que Lucrem, a investidora falou sobre o futuro do empreendedorismo feminino. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa: 

Elas Que Lucrem: O ano começou com a expectativa do fim da pandemia de Covid-19 atrelado ao avanço da vacinação. Pouco tempo depois, ficou claro que a presença do ômicron impediria uma estabilização nos próximos meses. Do ponto de vista dos empreendedores, o que esperar para 2022?

Carol Paiffer: Estamos falando de saúde, então a sensação de pé atrás deve continuar. Obviamente as pessoas ficaram bem preocupadas, porque no momento que elas achavam que a pandemia estava melhorando, que as coisas estariam sob controle, veio uma nova variante com força total. 

Em relação ao empreendedorismo em si, a pandemia foi responsável por dar um chacoalhão nos empreendedores: eles tiveram que entender que não poderiam ficar reféns de uma situação desse tipo e que teriam sim que fazer caixa. Mas nem tudo foi ruim, a gente fala muito dos setores que foram prejudicados na pandemia, mas fala-se pouco dos setores que foram beneficiados, como o mundo digital. De modo geral, podemos falar que o empreendedorismo nacional sofreu um amadurecimento natural devido ao susto. O brasileiro sempre teve esse lado de empreender por necessidade, então muitos não tinham um estudo formal sobre como gerir um negócio. Durante os últimos anos ficou claro que não é tão simples assim, você precisa de técnica, gestão, programação, entre outras necessidades. Então, apesar do susto, teve um lado favorável que foi a busca pela profissionalização. 

EQL: No contexto do mercado atual, levando em consideração a situação econômica, social e política,  o que as empreendedoras devem explorar como uma estratégia de negócios eficiente?

CP: A primeira tecla é ser multi-receita. Quando falamos de empreender, não necessariamente estamos falando de montar uma empresa. Um CNPJ vai muito além disso – começa quando você quer ter a gestão financeira da sua própria vida. Então, o primeiro ponto de atenção é justamente não ser refém do seu salário ou do seu negócio. Apesar de muitas pessoas investirem em suas empresas, isso é um risco muito grande e a pandemia provou que não dá certo. Nos Estados Unidos, já se nota um movimento no qual as pessoas têm três ou quatro fontes de renda. No Brasil, isso ainda não existe, apesar de existir várias formas de conseguir renda extra na internet. Durante a crise sanitária, então, o capital de giro do brasileiro era de 15 dias. 

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Fora isso, é importante entender os degraus que você pode ter no empreendedorismo. Em primeiro lugar, como diz o apresentador Geraldo Rufino, você pode empreender no CNPJ do outro. Em segundo lugar, você pode empreender com alguém, como é o caso das franquias. Por último, você pode empreender sozinho e aí sim ter o seu CNPJ. Muita gente começa pelo terceiro e de uma forma não organizada. Quando falamos de quem está começando, o ideal é que essa pessoa pense se ela já pode empreender onde está hoje, usando aquilo como uma escola. 

EQL: Com taxas de desemprego beirando os 12,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de microempreendedores deve aumentar?

CP:  Sim, a necessidade faz com que as pessoas tomem a decisão de  empreender e tentar outra fonte de renda que não seja um emprego fixo. Isso acaba sendo positivo por diminuir a dependência, mas, por outro lado, existe a falta de preparo. No geral, esse grupo de empreendedores acaba quebrando em dois anos. 

Também vale reforçar que o Brasil sofre com  falta de qualificação. Então, ao mesmo tempo em que existe o desemprego, muitas vagas são abertas e ninguém consegue ocupá-las pela falta de profissionalização. Assim, o avanço educacional poderia ajudar a cumprir essa lacuna, pois ainda restam muitas oportunidades. 

EQL: E o que as empreendedoras podem fazer para não entrar nessa estatística de falência em dois anos?

CP: Tenha um propósito, mas não abandone o caixa. A primeira pergunta que o empreendedor precisa fazer é em relação aos próprios números. Para onde está indo o meu dinheiro? Quais são as coisas que realmente importam? Aonde eu deveria estar investindo mais? O que pode me trazer retorno? Ou seja, ele precisa de algum profissional que o ajude a entender e gerenciar esse lado financeiro ou então procurar compreender essa questão a fundo. Em seguida, claro, é preciso estudar. Não é sair fazendo o que você acha que vai dar certo: é preciso realizar uma pesquisa de mercado completa. Sem isso, não adianta ficar frustrado quando as coisas começarem a dar errado. 

EQL: Pensando nisso, quais os setores mais interessantes para investir em 2022?

CP: Acho que o bom de estar no Brasil é que a gente é um país emergente onde tudo precisa ser feito, começando pela educação. Eu acredito muito que o setor educacional está sofrendo uma transformação significativa e que existem muitas oportunidades. Além disso, tem todas as novas profissões que acabaram sendo impactadas com o avanço da internet, como é o caso do marketing digital. Muitos têm a sensação de que esse mercado já saturou, mas não é verdade. Faltam profissionais, de copyrightings e editores de vídeo a web designers.  Fora isso, existe uma defasagem muito grande em tecnologia, principalmente porque essas pessoas acabam trabalhando para fora, onde os salários, até pela questão cambial, são muito maiores.  

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EQL: No que diz respeito ao empreendedorismo feminino, como você avalia a presença de mulheres à frente de seus negócios hoje no Brasil?

CP: Fico muito feliz em dizer que estou há 17 anos no  mercado financeiro e  que, quando comecei, havia apenas 5% de mulheres investidoras. Hoje, já somos 27%. Esse avanço mostra uma preocupação maior da mulher com o empreender, o que faz com que elas falem mais sobre dinheiro, sobre negócios e abram mais oportunidades. Eu também vejo a mulher como uma agente de transformação, porque quando nós aprendemos alguma coisa,  imediatamente compartilhamos com as amigas, inimigas, seja quem for. E isso faz com que a gente mude o nosso país mais rapidamente. Sobre isso, vale notar que o primeiro contato que as crianças têm com dinheiro geralmente acontece a partir da mãe, ou seja, impactamos todas as próximas gerações. 

EQL: Qual o papel da liberdade financeira no empoderamento feminino?

CP: Mais de 30% dos relacionamentos abusivos não acabam pelo medo da mulher de lidar com o dinheiro. Então, quando falamos de liberdade financeira, estamos dando à mulher esse poder de decisão sobre o que ela realmente quer pra vida dela. Não é sobre ter mais ou menos dinheiro, é sobre mandar em si mesma e nas decisões financeiras de uma casa, de uma família. 

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