Inspirada pela mãe, Carina Arruda criou uma rede de estúdios de extensão de cílios

Com 37 unidades espalhadas pelo país, a MyLash atende personalidades como Bruna Marquezine e Giovanna Antonelli
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Divulgação
Carina Arruda começou a empreender com 16 anos, após sua mãe ter um AVC (Foto: Divulgação)

“Quando queremos buscar nosso propósito de vida, temos que consultar a nossa infância. É lá que os nossos desejos mais profundos estão.” A afirmação é de Carina Arruda, ao lembrar do momento em que decidiu empreender no setor de beleza. “Quando eu era criança, uma das minhas brincadeiras preferidas era fazer um salão de cabeleireiro com as minhas amigas. Eu arrumava o cabelo de todo mundo e fazia maquiagem. Mais do que isso, sempre ajudei a minha mãe a se arrumar e tentei fazer com que ela desenvolvesse autoestima. Revendo essas memórias, percebi que era nessa área que eu deveria investir.” 

Naquele momento, Carina trabalhava como consultora publicitária em um dos principais jornais do país e ganhava um bom salário – acrescido de gordas comissões. Mas seu desejo de carreira sempre esteve ligado ao empreendedorismo. Anos antes, a jovem já havia tentado a sorte no mundo dos negócios, mas sempre movida pela necessidade de ajudar a família. “Quando eu tinha 16 anos, minha mãe teve um AVC. Na época, meu irmão tinha três anos e eu precisava fazer algo para bancar a nossa casa financeiramente”, conta. “Minha mãe nunca se declarou como empreendedora, mas foi feirante e dona de papelaria por muitos anos, então eu cresci tendo uma noção sobre como montar um negócio.” Como já tinha um pouco de conhecimento, Carina abriu um armarinho no bairro.

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“Era bem pequeno. Eu dependia da venda de produtos de R$ 0,20, como lápis e borrachas, então era muito difícil fazer dinheiro”, recorda. Após cerca de um ano à frente do negócio, ela percebeu que ficar ali não era a melhor opção para o sustento. Deixou o armarinho aos cuidados da mãe, Dona Creuza, e partiu em busca de oportunidades no mercado de trabalho, conseguindo um emprego como vendedora em uma loja de sapatos. Aos 19 anos, no entanto, a fluminense – nascida e criada em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro – recebeu R$ 8 mil de uma só vez, por conta da aposentadoria do pai. “Eu nunca tinha visto aquele tanto de dinheiro na minha frente”, brinca. “Podia fazer muitas coisas com ele, mas decidi que ia usar para empreender de novo.” 

Ao pensar nas possibilidades, Carina entrou em contato com um conhecido que tinha uma distribuidora de água e gás. Pediu para trabalhar um tempo no local para entender como tudo funcionava. Depois de um mês como recepcionista, decidiu empreender no mesmo segmento. “Aluguei meu próprio espaço, resolvi burocracias e contratei um caminhão para ir pegar água em Teresópolis. Pensava que seria um negócio sem altos e baixos, já que estava vendendo algo essencial, mas, na prática, não funcionou assim. Eu não entendia de fluxo de caixa e minhas vendas eram sazonais.” Apesar de tudo isso, a jovem empreendedora aguentou o tranco por dois anos, quando decidiu realmente vender o negócio e seguir novamente para o mercado de trabalho.  

Não é segredo que as crises podem servir de molas propulsoras para algumas pessoas. A papelaria de bairro e a distribuidora de água e gás não deram resultado, mas fizeram com que Carina encontrasse o emprego que mudou a sua vida. “Por uma ação do destino, consegui entrar no jornal ‘O Globo’ como contato publicitário. Eu demorava quatro horas para chegar ao trabalho e tinha apenas uma calça social e duas camisas brancas. Lavava e revezava essas peças o tempo todo”, lembra. Mas o sofrimento durou pouco. Em alguns meses, Carina começou a se destacar e fechar contratos publicitários expressivos – um deles com a Drogaria São Paulo. “Criei uma carteira de clientes considerável, então minha comissão era muito alta. No primeiro ano, já consegui fazer um convênio para a minha mãe, alugar um espaço para mim no Rio e juntar dinheiro para voltar a empreender, mas, desta vez, com organização financeira.” 

UM É POUCO, DOIS É APRENDIZADO, TRÊS É IDEAL 

Em sua terceira tentativa de se firmar no mundo dos negócios, Carina não se permitia mais errar. Durante as férias, em 2013, começou a estudar em qual setor investir – e foi aí que sua lembrança de infância veio à tona. O desejo profundo de empreender na área de beleza foi ficando cada vez mais palpável. Ao estudar o segmento, percebeu que o mercado de design de sobrancelhas estava crescendo, então decidiu se especializar no serviço e criar um estúdio – que inicialmente se chamaria Lola Studio. 

“Durante a obra, comecei a pesquisar qual seria o meu diferencial. Despretensiosamente, vi algumas matérias falando que a extensão de cílios era uma febre nos Estados Unidos.” No Brasil, o serviço ainda era feito de maneira inadequada. “Não tinha nem curso aqui. Isso significava que existia um mercado ainda pouco explorado. Eu não falo inglês, mas peguei um dinheiro guardado, contratei uma tradutora simultânea e fui fazer um curso de extensão de cílios em Houston, nos Estados Unidos. Foi uma loucura”, diz, rindo. “Quando voltei para o Brasil e inaugurei o meu estabelecimento, o serviço de extensão virou um sucesso. As pessoas ficavam três meses na lista de espera para conseguir um horário.” 

Carina continuou estudando e se especializando na técnica. Foi a primeira brasileira a fazer o volume russo – uma das categorias de extensão de cílios – no país. “Com esses diferenciais, fui ganhando destaque até que algumas celebridades começaram a marcar horário comigo”, conta. Giovanna Antonelli, Xuxa, Bruna Marquezine e Fernanda Paes Leme são apenas alguns nomes de clientes que ajudaram a popularizar ainda mais o trabalho de Carina. Como o foco do negócio mudou, a empreendedora rebatizou a empresa como MyLash, o primeiro espaço de extensão de cílios do Brasil. 

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Aos 27 anos, e a partir de um investimento inicial de R$ 80 mil, a empreendedora finalmente criou o seu espaço no mundo dos negócios. Em pouco tempo, o MyLash cresceu e ela precisou abrir novas unidades – duas no Rio e uma em São Paulo. Em 2018, a demanda por novos estabelecimentos era tanta que ela aderiu ao modelo de franquias. Atualmente, são 37 unidades em oito estados brasileiros responsáveis por R$ 8 milhões de faturamento em 2021. Mais do que o sucesso financeiro, no entanto, Carina se orgulha de propiciar oportunidade de emprego para outras mulheres. Dos 140 funcionários da rede, 95% são do gênero feminino. “Isso é gratificante. Principalmente pela história que eu carrego junto à minha mãe.” 

O IMPULSO DE DONA CREUZA

A mãe de Carina sempre correu atrás de oportunidades para dar uma boa qualidade de vida aos filhos. Foi feirante por muitos anos, assim como dona de alguns pequenos empreendimentos, como armazéns e papelarias de bairro. Foi com ela que a filha aprendeu a sonhar com o empreendedorismo. Mais do que isso, foi por conta dela que a jovem nunca desistiu de conquistar uma vida melhor. “Minha mãe descobriu uma insuficiência cardíaca muito jovem, em uma fase já avançada. Isso fez com que ela tivesse complicações muito graves. O primeiro AVC foi quando eu era adolescente. Até o falecimento dela, em 2019, foram seis acidentes vasculares cerebrais.” 

Durante toda a trajetória empreendedora da fluminense, a batalha pela saúde da mãe era uma companhia constante. “Quando ela começou a passar mal, dependia totalmente do SUS, então meu sonho era pagar um convênio para ela. Essa foi a primeira coisa que eu fiz assim que tive condições.” Ao olhar para trás, Carina percebe que seus sonhos sempre estiveram ligados à felicidade e ao bem-estar de Dona Creuza. “Depois de pagar o convênio, eu reformei o apartamento onde ela morou por mais alguns anos com o meu irmão. Em 2016, eles passaram a morar comigo.”

Carina e Dona Creuza só foram separadas pela morte, quando a jovem empreendedora precisou aprender a viver sem a sua maior inspiração. “Quando minha mãe faleceu, eu não sabia mais o que fazer. Foi difícil me reencontrar. Tudo que eu fazia era por ela, que foi a minha grande impulsionadora na vida. Precisei aprender a viver pensando apenas em mim.” Por conta desse sentimento, trabalhar criando empregos para outras mulheres, que assim como sua mãe lutam diariamente para cuidar da casa e dos filhos, é a maior de suas realizações. “Meu projeto de vida é elevar a autoestima de outras mulheres, assim como eu sempre fiz com a minha mãe”, finaliza.

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