Elas lutam contra o preconceito: 9 mulheres que fizeram da diversidade a razão de suas vidas

A luta por um mundo mais justo e igualitário faz parte da rotina dessas executivas, influenciadoras e visionárias
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Divulgação

Para quem vive o preconceito na pele, é muito natural perceber a desigualdade em cada esquina, seja no convívio social ou no ambiente de trabalho. No auge da sua carreira, a executiva Liliane Rocha tinha mestrado em gestão de políticas públicas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), MBA executivo em gestão da sustentabilidade pela mesma instituição, especialização em gestão responsável para sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral e um livro amplamente adotado no mundo corporativo (“Como Ser Um Líder Inclusivo”, editora Scortecci). Mesmo assim, mulher, negra e lésbica, ela sabia – pelo que conhecia do mercado – que não conseguiria um cargo à altura de suas habilidades. 

“O pensamento é: um estagiário negro é fofo. Um analista? Que lindinho. Mas um líder negro na mesma sala que eu discordando do que eu estou falando? Isso não”, destaca Liliane. E foi pensando nessa vivência – e nas de tantos outros profissionais – que, em 2015, ela fundou a Gestão Kairós, uma empresa de consultoria e mentoria de diversidade e sustentabilidade que já atendeu clientes como Gerdau, PayPal, Centauro, Ricardo Eletro e Ambev. Foi por meio do empreendedorismo que ela encontrou um caminho para lutar pelo seu espaço e tentar mudar a estrutura do mundo corporativo – que fala muito sobre diversidade, mas ainda apresenta problemas estatísticos. 

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Segundo um levantamento feito em junho de 2021 pela Pulses, plataforma de soluções de clima organizacional, embora 73% dos 6.000 entrevistados tenham dito que trabalham em organizações diversas, menos de 10% dos colaboradores dessas empresas fazem parte de algum dos grupos considerados minoritários (negros, LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência). Além disso, apenas metade das companhias tem uma política de inclusão e diversidade amplamente divulgada.

Como se esse cenário já não fosse preocupante o bastante, ainda há algumas questões de diversidade que nem entram no hall das estatísticas. A baixa presença de profissionais do Norte e Nordeste do país nas grandes companhias, por exemplo, é uma realidade que sempre incomodou Sarah Brito. Nascida em uma periferia de Belém, capital paraense, a especialista em pluralidade corporativa sempre valorizou a cultura e os conhecimentos de sua terra. Quando ingressou no mercado de trabalho, no entanto, percebeu que as corporações estavam envoltas na bolha do eixo Rio – São Paulo. 

Formada em administração pelo Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa), Sarah se especializou em gestão cultural e começou a atender marcas desenvolvendo estratégias internas e campanhas publicitárias. “Valorizamos o pensamento sistêmico japonês e as sabedorias holísticas do Butão, mas tem muita riqueza aqui do nosso lado. Você vai a um desfile de bois e encontra uma metodologia de gestão surreal. Nós, que não estamos no Brasil profundo, podemos aprender muito com isso”, explica ela, que já participou de projetos de empresas como Sallve, Pantys e Google, ajudando a furar bolhas.

Sarah e Liliane compartilham o mesmo foco: a luta por diversidade e oportunidades igualitárias. Assim como elas, muitas outras mulheres dedicam suas rotinas ao mesmo objetivo. 

Para honrar essa luta diária, fizemos uma seleção de nove mulheres que mostram a força do protagonismo feminino no combate ao preconceito. Veja, a seguir, quem são elas:

Ana K. Melo 

Ana K. Melo (Foto: Divulgação)

O look preferido de Ana Kelly Melo para ir trabalhar é composto por saias e vestidos, mas isso não tem nada a ver com sua preferência pelas tendências do mundo da moda. Para ela, as pernas de fora são uma declaração de representatividade sobre a presença das pessoas com deficiência nas corporações. Com uma prótese na perna direita, amputada abaixo do joelho por conta de um acidente que sofreu na adolescência, a executiva ocupa o cargo de head da área de diversidade e inclusão na XP – um cargo que foi criado exclusivamente para ela em junho de 2021.

Ao trabalhar na transformação do censo de diversidade da empresa – entre os 6.000 funcionários, 21% são negros e 12,5% ocupam cargos de liderança, enquanto o número de mulheres passou de 26% para 36% nos últimos 12 meses -, Ana sabe que sua presença como mulher negra com deficiência é essencial para o avanço da empresa também com o grupo PcD. Para ela, que sentiu na pele o preconceito do mercado de trabalho, que nunca a designava para cargos de liderança, sua atuação é um ato de resistência. 

 Ana Minuto

Ana Minuto (Foto: Divulgação)

Reconhecida como a primeira coach negra a desenvolver uma metodologia que atenda às especificidades dos afroempreendedores, Ana Minuto aprendeu sobre o ativismo ainda na barriga de sua mãe, que, em 1990, criou a ONG “Fala Negão/Fala Mulher” para defender mulheres vítimas de violência doméstica. Com essa influência dentro de casa, ela cresceu sabendo que jamais poderia abaixar a cabeça para o preconceito – o que, infelizmente, não é possível para muitas pessoas, que não conseguem desenvolver autoconfiança por conta do julgamento da sociedade. 

Foi pensando nisso que Ana decidiu criar, em 2015, a Minuto Consultoria Empresarial & Carreira, uma empresa de coach que coloca em prática uma metodologia para estimular a autoestima da população negra. Para a executiva, essa construção de confiança pode ser o ponto de virada na vida de diversas pessoas. Aparentemente, ela não é a única que pensa assim. Por conta da popularização do seu trabalho, começou a ser recomendada como uma usuária que devia ser ouvida pelo LinkedIn, além de se tornar uma pessoa requisitada por grandes empresas para palestrar, realizar treinamentos e prestar consultoria de inclusão a multinacionais e startups como a Sallve. 

Djamila Ribeiro

Djamila Ribeiro (Foto: Divulgação)

Djamila Ribeiro teve o seu primeiro contato com a militância ainda na infância, por meio das conversas que tinha com o seu pai – estivador, militante e comunista. O ativismo sempre correu em suas veias, então não foi surpresa para ninguém quando a jovem, aos 18 anos, decidiu começar a frequentar a Casa da Cultura da Mulher Negra, uma organização não governamental que estimula o estudo de temas relacionados a gênero e raça.

Foi a partir desses estudos iniciais que ela se apaixonou pela filosofia e decidiu cursar a disciplina na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo ( Unifesp). Em 2012 e 2015, tornou-se mestra em filosofia política e teoria feminista – respectivamente – pela mesma instituição. Naquele momento, seu caminho para se tornar um dos nomes mais conhecidos quando se fala em ativismo negro no Brasil já estava traçado. 

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Hoje, Djamila conta com mais de 1 milhão de seguidores no Instagram e fala de ativismo de uma maneira popular, sem teor de exclusão. Para ela, o mais importante é ser ouvida e levar conhecimento de forma democrática. Sendo assim, além da presença nas redes sociais, a filósofa também participa de alguns programas televisivos, como o “Saia Justa”, do GNT, além de conduzir um quadro de entrevistas no canal Futura. Na literatura, conquistou o seu espaço com obras como “Pequeno Manual Antirracista” e “Quem Tem Medo do Feminismo Negro?”.

Liliane Rocha

Liliane Rocha (Foto: Divulgação)

Nascida na capital paulista, Liliane Rocha não teve uma infância fácil. Com a mãe, morou em barracos e rodoviárias e precisou, por diversas vezes, pedir dinheiro nas ruas para conseguir almoçar ou jantar. Foi apenas aos nove anos, quando começou a morar com seu pai, que teve mais oportunidade para pensar na vida (e não apenas nas preocupações básicas do dia a dia). Embora sempre tenha estudado em escola pública, destacava-se nos estudos – o que não foi diferente quando ingressou no mercado de trabalho. 

Formada em relações públicas pela Faculdade Cásper Líbero, ela fez o seu primeiro estágio na empresa de eletroeletrônicos Philips. Depois, ainda passou pelo Banco Real-Santander e pelo Walmart, até chegar a uma mineradora – foi ali, em um ambiente completamente diferente de tudo que havia conhecido, que percebeu o quanto ser mulher negra categorizava dois marcadores identitários muito fortes para sua carreira, principalmente em altos cargos. A executiva percebeu, com a própria vivência, que não conseguiria um cargo adequado às suas habilidades mesmo com um currículo invejável. Essa foi a virada de chave para que Liliane decidisse criar a Gestão Kairós e lutar por mudanças no mundo corporativo. 

Lisiane Lemos (Foto: Divulgação)

Lisiane Lemos

Importante referência em liderança e transformação digital, Lisiane Lemos descobriu na prática como utilizar as principais tendências do mercado para liderar equipes e construir negócios tecnologicamente competitivos. Sua atuação, no entanto, não é restrita ao lucro ou ao crescimento de empresas, embora sua expertise seja muito requisitada por companhias e instituições como Magazine Luiza, Sebrae Minas, SBT, Bosch, AIESEC, Programaria, Ismart, Fundação Estudar, Fundação Lemann e FGV, entre outras.

Para ela, negócios andam sempre de mãos dadas com pessoas. Sendo assim, é impossível ter uma empresa forte e competitiva sem que a equipe esteja bem treinada e assistida. Como gerente de programas de recrutamento de diversidade, equidade e inclusão para América Latina do Google, Lisiane está à frente dos projetos Rede de Profissionais Negros, Conselheira 101 e Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil. Valorizada por resultados positivos, a executiva tem colecionado aparições em programas de TV, além de ter participado de duas edições do TEDx.

Maria Clara Araújo

Maria Clara Araújo (Foto: Divulgação)

Em 2015, Maria Clara Araújo virou manchete por se tornar a primeira garota-propaganda trans do Brasil em uma campanha da marca de beleza Lola Cosmetics. Na época, a conquista foi um grande marco para o movimento LGBTQIAP+, que ainda engatinhava para explicar a transexualidade para a sociedade. Hoje, embora o assunto já tenha sido abordado por novelas, filmes e até pela indústria da música, que vem dando espaço para cantores transsexuais, ainda não se pode dizer que o preconceito está longe de acabar. 

A presença de Maria Clara na publicidade brasileira continua sendo um grande marco – e isso explica um pouco sobre sua relevância na busca por diversidade para o público LGBTQIAP+. Por meio da escrita e da influência nas redes sociais, ela mostra os desafios de sua luta e expõe, de forma lúcida, temas essenciais para a guerra contra o preconceito e a desinformação.

Nátaly Nery

Nátaly Nery (Foto: Divulgação)

Dona de uma página no Instagram com mais de 700 mil seguidores e de um canal no YouTube com quase 800 inscritos, Nátaly Neri começou a produzir conteúdo para a internet em 2015, abordando temas como moda consciente, empoderamento e ativismo racial. Inicialmente como estudante de ciências sociais, ela aproveitou de sua facilidade com a comunicação para debater e expor assuntos complexos de forma natural e popular, para que todos os públicos pudessem refletir sem que houvesse uma grande dificuldade de entendimento. Expor as situações do cotidiano era uma das maneiras de fazer isso.

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Ativista por natureza, Nátaly encontrou na junção de sociologia e internet um espaço de muita troca de informação. Em reconhecimento ao seu trabalho, em 2018 foi anunciada como embaixadora do programa Creators for Change do YouTube – iniciativa dedicada a amplificar e multiplicar as vozes de influenciadores que lidam com questões sociais na plataforma – ao lado de outros 50 youtubers do mundo todo.

Nina Silva

Nina Silva (Foto: Divulgação)

Como mulher negra da área da tecnologia, Nina Silva quebrou todos os estigmas. Apaixonada por números desde pequena, sempre se considerou uma pessoa que pensa “fora da caixa”. Seu sonho era ser líder em uma grande empresa. De certa forma, pode-se dizer que Nina ultrapassou essa meta: executiva de TI, hoje ela é uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) e sócia-fundadora do Movimento Black Money, um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital. Além disso, também é palestrante e escritora.

Mais do que líder, Nina é uma referência para os seus mais de 100 mil seguidores, que enxergam nela a oportunidade de desbravar qualquer área do mercado, seja finanças, negócios ou tecnologia. Por meio do Movimento, a executiva busca criar e fortalecer uma rede que permita que pelo menos 30% do dinheiro gasto por pessoas negras circule na comunidade ou vá para empresas de fato comprometidas com a inclusão racial. 

Sarah Brito 

Sarah Brito (Foto: Divulgação)

Sarah Brito teve uma infância diferente do convencional – pelo menos é assim que ela descreve sua criação, muito ligada às diferenças culturais de Belém, capital paraense onde vivia com a sua avó, e Berlim, capital alemã que sua mãe decidiu desbravar. “Eu sou da Amazônia, e isso já me dá um olhar diferente. Mas a forma como a minha mãe vivia e os momentos que passei com ela na Alemanha também tiveram muito impacto naquilo que sou hoje”, destaca. Para ela, no entanto, a imponência da Alemanha como país europeu desenvolvido nunca fez seus olhos brilharem. Por mais que tivesse a oportunidade de construir sua vida no exterior, sabia que era no Brasil que precisava ficar. 

“Minha felicidade está aqui. Eu acompanho a cultura norte-americana, não sou alheia ao que acontece lá fora, mas realmente vejo no nosso país um terreno muito fértil de potencialidade. Um jeito poético e sábio de ver o mundo”, revela Sarah. Como pesquisadora, hoje ela busca levar esse pensamento para dentro de grandes empresas. Na sua opinião, ainda há muito talento invisibilizado no Brasil – principalmente fora do eixo Rio – São Paulo. O objetivo final de sua luta pela diversidade é fazer com que a cadeia produtiva do Brasil seja compartilhada. “Distribuir grana para o resto do país”, resume.

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