Mercado pet: 5 mulheres que estão revolucionando o setor no Brasil

Executivas fazem parte de um ecossistema que movimentou R$ 51,7 bilhões em 2021
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Talita Lacerda é CEO da Petlove&Co (Foto: Divulgação)

Desde o início da pandemia de Covid-19, o Brasil se tornou o segundo maior mercado de pets do mundo, de acordo com levantamento da Euromonitor International. Sozinho, o país foi capaz de concentrar cerca de 6,4% da participação global do setor, perdendo apenas para os Estados Unidos, responsável por expressivos 50% da fatia. Já no que diz respeito ao faturamento, só no ano passado, segundo dados do Instituto Pet Brasil, o volume chegou a R$ 51,7 bilhões. 

Ao todo, a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estima que existam 139,3 milhões de animais domésticos nos lares brasileiros, um aumento de 30% em relação ao número levantado pré-isolamento social. Embora o aumento tenha sido expressivo durante o confinamento, o Brasil sempre foi um mercado expressivo nesse setor. Segundo um estudo divulgado no começo do ano pelo Sebrae, o país registrou um aumento de 363% no número de negócios ligados ao segmento pet entre 2012 e 2022, saltando de 18 mil para 83,4 mil empreendimentos. 

Entre o público consumidor, quase 60% são mulheres, conforme dados levantados pelo portal MyPetBrasil. Além disso, o interesse delas em empreender na área também vem crescendo. No Brasil, empresas como a It Pet, Petlove&Co, Dog’s Care, Pet Food Solution e Special Dog são lideradas por executivas que uniram o amor pelos animais à vontade de impactar o setor. 

Conheça, a seguir, cinco executivas que estão revolucionando o segmento pet no Brasil:

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Carolina Vaz, fundadora da Dog’s Care

Carolina Vaz é fundadora da Dog’s Care (Foto: Divulgação)

Formada em direito, Carolina Vaz se preparava para prestar concurso para promotora pública quando sua cachorra, Jully, foi diagnosticada com síndrome do ovário policístico (SOP). Devido ao transtorno, a pet chegou a sangrar por mais de 30 dias seguidos, fato que fez sua tutora procurar por fraldas caninas que facilitassem a higienização. Na época, em 2006, o item não estava disponível no mercado. “No improviso, tive a ideia de adaptar fraldas infantis e deu super certo. Foi então que eu decidi que iria criar uma peça confortável para ela. Depois de vários testes, adaptações e pesquisas, consegui desenvolver o produto”, conta. 

Aquele seria apenas o primeiro de uma série de itens dedicados à saúde canina desenvolvidos pela Dog’s Care, marca fundada por Carolina. Apesar de nunca ter pensado em se dedicar ao segmento, a executiva conta que a invenção bem-sucedida acabou aflorando seu desejo de empreender. “Percebi que a fralda para pets era uma ideia pioneira e que poderia ajudar outros tutores a contornar o mesmo problema pelo qual eu havia passado”, conta. 

Ao longo de sua jornada, a empreendedora fez com que o faturamento da companhia saltasse de R$ 113 mil em 2006 para R$ 348 mil no ano seguinte e mais de R$ 10 milhões em 2021. Além da fralda, o portfólio da empresa inclui itens como tapetes, granulados higiênicos e creme dental. 

Hoje, Carolina destaca que parte de seu sucesso é atribuído à eficiência de outras colaboradoras mulheres, principalmente no setor comercial. E, apesar de ter sofrido provocações e assédios, afirma que conseguiu fazer do limão uma limonada. “Uma vez, um comprador me assediou moralmente por ser mulher, CEO da empresa e inventora de um produto que não tinha concorrentes. Ele me disse: ‘Não estou nem aí pra sua ideia, vou fomentar a cópia do seu produto porque me nego ficar na mão de uma empresinha’. Ele sabia que eu estava amamentando e me deixou duas horas esperando na recepção enquanto minha filha me aguardava no carro.Agora, eu agradeço a ele por isso, pois o mercado se abriu e minha empresa se valorizou diante dos concorrentes”, relata. 

Caroline Marraccini, cofundadora da Pet Food Solution

Caroline é cofundadora da Pet Food Solution (Foto: Divulgação)

No caso de Caroline Marraccini, o interesse pelo setor dos pets foi tardio – apesar do contato com os animais ter feito parte da sua vida desde sempre.  A empresária conta que, desde os quatro anos, quando seu pai assumiu a operação de distribuição da Royal Cannin em São Paulo, seu dia a dia passou a ser rodeado de itens e conversas sobre o assunto. “Cresci no meio das sacarias, pulando de pilha em pilha, frequentando eventos pet aos finais de semana e vendo meu avô, que se recusa até hoje a comer carne por amor aos animais, falando com os pássaros e cuidando de todos os gatos abandonados na rua”, conta.

Quando assumiu o controle da Pet Food Solution, marca premium de ração para animais domésticos, há seis anos, Caroline tinha acabado de sair do mercado de luxo italiano para embarcar em outra oportunidade semelhante no Brasil. “Em menos de quatro meses eu percebi que, apesar do meu amor pela moda, o desafio havia ficado pequeno”, relata. Foi quando, na mesma época, seu pai e seu tio a convidaram para assumir um novo projeto. “Quando vi a oportunidade de começar uma fábrica praticamente do zero, entendi que aquilo seria um dos maiores desafios profissionais que eu poderia ter aos 26 anos de idade”, relata a cofundadora do grupo. 

No entanto, ela não esconde que sentiu medo – e não foi apenas pela falta de experiência profissional. A executiva conta que, devido à sua aparência e aos trabalhos anteriores com moda, não foram poucas as vezes em que ela acabou sendo desacreditada, tendo que provar constantemente sua capacidade e potencial. “Honestamente, eu acho que nenhum mercado ainda é extremamente receptivo às mulheres, principalmente quando se fala de linha industrial”, afirma. 

Apesar dos obstáculos, ela encara o mercado pet com otimismo. Segundo Caroline, é um universo que vem ganhando cada vez mais visibilidade e espaço no varejo brasileiro, mesmo em períodos de dificuldade. “O setor nunca esteve tanto em evidência. Acredito que essa movimentação irá impactar ainda mais nos números, impulsionando o crescimento das empresas”, diz. 

Mariana Castro, fundadora da It Pet

Mariana criou o grupo It Pet (Foto: Divulgação)

“Convivi com animais durante toda a minha vida e, de uma forma ou de outra, minha carreira sempre me levava de volta a eles”, começa explicando Mariana Castro. À frente do grupo It Pet, a publicitária decidiu se dedicar ao segmento quando percebeu lacunas na oferta de serviços e informações relacionados ao bem-estar dos pets. Assim, em 2018, passou a empreender oferecendo soluções, serviços e produtos com a certificação Fear Free Pets, técnica que preza pela abordagem empática com os animais. Entre os tratamentos inovadores, a companhia dispõe de playgrounds interativos, veterinários especializados em medicina integrativa, hidratações e argiloterapia. 

Na visão da CEO, o mercado de pets tem tudo a ver com as mulheres. Segundo ela, o setor recompensa habilidades tidas como tipicamente femininas, como cuidado, carinho e atenção aos detalhes. “Quem melhor que as mulheres para saber exatamente o que oferecer para esses seres que são cada vez mais considerados filhos?”, pergunta. Para ela, até a própria gestão do negócio acaba favorecida pelas soft skills. “Somos líderes natas, capazes de preparar e coordenar equipes, o que é crucial para um bom atendimento.” 

Mas, apesar do segmento retribuir, ela assume: nem sempre foi fácil. Quando pensa no começo, Mariana relembra que a jornada foi repleta de obstáculos. “Fui tratada com condescendência e misoginia extremas”, diz. Hoje, a empresária avalia que as dificuldades acabaram se tornando um fator de impulsão da marca, já que ela mesma passou a se dedicar ainda mais a garantir o sucesso daquilo que estava realizando. “Depois desses episódios, decidi que não haveria mais qualquer pessoa capaz de me tirar do meu caminho. É muito bom perceber que galguei uma posição de respeito”, afirma.

Durante a pandemia, relata a fundadora, a empresa cresceu 39,5% – quase 2,2% a mais do que a média do mercado, de 37,3%. Além disso, só em 2021, o faturamento chegou a R$ 1,6 milhão. Os números expressivos, explica ela, estão relacionados não só ao maior investimento financeiro dos tutores, mas à ambição de sua líder. “Agora, com a situação mais controlada, queremos expandir nossas operações de modo a oferecer o que temos de melhor para mais pets, em todos os cantos do país. Um sonho grande, mas já está claro para mim que nada é impossível para uma mulher obstinada como eu”, conclui. 

Priscila Manfrim, diretora da Special Dog

Priscila assumiu a empresa da família, a Special Dog Company (Foto: Divulgação)

Priscila Manfrim ainda era criança quando, em 2001, sua família fundou a Special Dog Company, produtora de alimentos para cães e gatos. Crescendo ao lado da fábrica e acompanhando de perto o dia a dia da empresa, ela acabou ingressando na marca assim que se formou na faculdade. “Apesar de não ter tido nenhuma aspiração com o mercado pet especificamente, sempre estive muito próxima dos negócios da família, então foi um caminho quase que natural”, afirma. Atualmente, a executiva é a diretora do grupo, à frente de mais de 800 colaboradores. 

Ao reconhecer as dificuldades da liderança feminina no meio industrial, Priscila vem tentando fazer a diferença. “Enfrentamos sim alguns preconceitos devido ao nosso gênero, principalmente porque vivemos em uma sociedade em que o machismo é estrutural”, diz. Para contornar esse cenário, a empresa vem conduzindo iniciativas para aumentar a presença de mulheres entre os cargos de comando. “Firmamos o compromisso de que 30% das cadeiras de liderança da empresa sejam ocupadas por mulheres até 2025”, explica. 

Sob comando da diretora, em 2021 a Special Dog Company faturou cerca de R$ 1,5 bilhão. “Atualmente estamos entre as marcas líderes e, para garantir esse posicionamento de destaque, temos investido em ações sustentáveis, sociais e de governança”, afirma Priscila. Na visão da executiva, ainda faltam debates de ESG no segmento pet,  tanto em relação ao quadro de funcionários, quanto ao próprio bem-estar dos bichos, incluindo a proibição de testes em animais e a gestão de resíduos nas fábricas. “Tudo isso colabora para melhorar o setor no Brasil. Já praticamos esses aspectos aqui dentro, o que nos deixa à frente de algumas outras empresas deste mercado.” 

Talita Lacerda, CEO da Petlove&Co

Executiva liderou o grupo durante captação (Foto: Divulgação)

Em 2018, Talita Lacerda se juntou ao empresário Pedro Faria com o objetivo de construir uma plataforma one-stop-shop que atendesse à demanda crescente dos tutores por preços mais baixos e praticidade nos serviços. Para isso, a dupla resolveu fundar a gestora Kamaroopin, responsável por investir na marca Petlove&Co, maior ecossistema digital para pets do país. Atualmente, o grupo é formado pela união de marcas como a Petlove, DogHero, Vet Smart, Vetus e Porto.Pet. 

Depois de atuar como investidora e conselheira, em 2021 a executiva se consolidou na liderança do negócio e se tornou CEO da companhia. Desde então, já foi responsável por captar R$ 750 milhões em uma rodada de investimentos liderada pelo fundo de venture capital norte-americano Riverwood Capital. Além do tato para negócios, a experiência como gestora também fez com que Talita percebesse a fragilidade do sistema para agregar novas lideranças femininas. Segundo a executiva, conciliar maternidade e carreira continua sendo o principal desafio das mulheres que sonham em decolar profissionalmente, independentemente do setor. “Alguns fatores contribuem para isso, na minha opinião pessoal: ausência de licença-paternidade, pouca flexibilidade de horários, além de uma série de vieses e preconceitos que ainda persistem”, afirma. 

Para quem sonha em ingressar no segmento pet, a executiva destaca que, embora o setor esteja aquecido, as empresas devem ser capazes de se manter inovadoras para atrair novos consumidores. “Vivemos em um contexto super competitivo, que exige que nos reinventemos de tempos em tempos”, afirma. 

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