Próxima estação: quem é a mulher por trás da voz do metrô de São Paulo e do Rio

Fundadora da primeira agência de sound branding da América Latina, Zanna explorou sua paixão pela música para criar projetos de sonorização para empresas do porte de Vivo e Cielo
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Divulgação
Por meio de sua agência, Zanna atende clientes como Vivo, L’Occitane Au Brésil e Cielo – além do clássico MetrôRio, onde atua há uma década (Foto: Divulgação)

Os usuários das estações do MetrôRio e das linhas 8 e 9 do Metrô de São Paulo já estão familiarizados com a voz que anuncia a próxima parada. Ela pertence à Zanna, cantora carioca que fundou a primeira agência de sound branding da América Latina. Na realidade, todos os efeitos sonoros do metrô são produzidos pela artista, que no início dos anos 2000 decidiu transformar sua paixão pela música em um trabalho rentável de sonorização para marcas e grandes empresas. Por meio da Agência Zanna, ela atende clientes como Vivo, L’Occitane Au Brésil e Cielo – além do clássico MetrôRio, onde atua há uma década, e o Metrô de São Paulo, seu mais novo projeto. 

“No Rio, onde eu faço a voz do metrô há mais de uma década, algumas pessoas já me reconhecem na rua. É como se eu fosse uma persona”, brinca. Para sua mãe, que já foi contra o futuro da filha no mundo da música, perceber que a empreendedora criou algo autêntico é um orgulho. Já para Zanna, é apenas o resultado de uma vida marcada pela veia da proatividade. Aos oito anos, ela fez a sua primeira movimentação para ajudar no sustento da casa, vendendo flores artificiais feitas pela vizinha. “Ela fazia o artesanato com caixas de ovos e eu saia para vender no bairro. Minha mãe precisava dessa ajuda. Ela era costureira, tinha quatro filhos e meu pai era ausente. Eu sentia que precisava ajudar.” 

Na mesma época, também montou uma barraquinha na frente de casa para vender as pipas que produzia. “Fiz até um jardim para enfeitar a minha lojinha. Era coisa de criança, mas trazia resultado”, lembra. Com o dinheiro que juntava, comprava suas coisas e não precisava pedir dinheiro à mãe. “O meu único trabalho que não foi pra frente foi a revenda da cocada que tinha na cantina da escola. Não deu certo porque eu comi tudo, era muito gostosa.” 

Entre risadas, ela vai lembrando da sua infância. De certa forma, o medo de ousar e experimentar coisas novas nunca esteve presente – foi assim que Zanna nasceu e cresceu, até o seu caminho cruzar com o da música. Aos 10 anos, simplesmente decidiu que aprenderia a tocar violão e, em pouco tempo, já dedilhava suas próprias composições. “Como eu comecei a me envolver com a música, um dia fui chamada para cantar o jingle de uma loja. Era um trabalho muito bom, mas odiei a música quando me mostraram. Em vez de ir embora, fiz outra composição e mostrei para eles, que adoraram.” Com o seu primeiro pagamento, comprou uma máquina de escrever. O objetivo era criar um livro de composições. Aos 16 anos, cantava suas músicas nos palcos e nos barzinhos do Rio de Janeiro – junto de alguns covers que animavam o público. 

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Para ela, decidir qual caminho seguir na vida adulta não era tarefa difícil. Na realidade, era até óbvio: cursaria música. Mas sua mãe não enxergava da mesma forma. “Ela não concordava. Achava que eu não teria futuro. Então decidi arrumar um emprego fixo para pagar meus estudos e não depender de ninguém”, lembra. Como office girl, destacou-se pela proatividade. “Um dia, quando uma funcionária do setor comercial adoeceu, eu a substituí e comecei a operar o financeiro. De repente, eu já entendia sobre o funcionamento completo da empresa, desde a organização do almoxarifado até as contas a pagar.” 

Foi com esse trabalho que Zanna pagou sua faculdade de música. Mas, quando tudo começou a se acalmar e a rotina se estabeleceu, ela sentiu que precisava buscar novas vivências. Vendeu o carro, que tinha comprado com o dinheiro do seu trabalho, e foi para a Itália explorar sua ancestralidade. Para se sustentar no país europeu, foi garçonete, motogirl e, claro, deu um jeito de conciliar o dia a dia com algumas apresentações musicais em barzinhos. “Nesse meio tempo, eu fui aprendendo sobre o mercado musical, até ser chamada para tocar na banda Bossa Nostra, que tocava jazz e abria show para diversas bandas famosas. Com eles, eu fiz turnê pela Europa inteira, Japão e Estados Unidos.” 

Zanna logo se destacou por seu talento musical, mas nunca esqueceu do lado empreendedor. Durante as turnês, envolvia-se em todas as etapas da produção – assim como fazia na infância ou no seu primeiro emprego. “Eu fiquei nove anos na Itália. Apareci na capa da ‘Vogue’, participei de festivais incríveis e tinha uma condição de vida ótima. Além disso, aprendi muito com toda essa vivência. Mesmo assim, chegou uma hora que a minha vida estava sem propósito. Faltava fazer algo novo. Arrumar um problema para resolver.” Basicamente, faltava mergulhar no mundo dos negócios. 

Mas é claro que Zanna não percebeu isso logo de cara. Inicialmente, sua primeira ideia para sair da zona de conforto foi comprar uma passagem – só de ida – para se isolar na Índia. No aeroporto, com uma mochila nas costas, desistiu da empreitada e percebeu que, na realidade, era hora de voltar para o Brasil. 

INSPIRAÇÃO BRASILEIRA COM UMA PITADA NORTE-AMERICANA 

O território brasileiro parecia ser o destino final, mas não foi bem assim que o caminho de Zanna até a criação da agência de sonorização foi traçado. Ela fez alguns álbuns solo enquanto estava no Brasil, mas continuou se sentindo insatisfeita e decidiu passar um tempo em Nova York – como diz Alicia Keys, “a terra onde os sonhos se realizam”. De certa forma, foi na Big Apple que a empreendedora teve a inspiração que mudaria a sua vida. Enquanto assistia à TV, ela percebeu que as músicas dos comerciais norte-americanos eram extremamente chatas e sem criatividade. Para ela, parecia que tudo era feito com base em canções de elevador. 

“As imagens eram lindas, mas por que não se dedicavam igualmente às músicas?”, questionou. Finalmente, havia encontrado um problema para resolver. Começou a estudar branding e, ainda no início dos anos 2000, voltou ao Brasil com a intenção de criar uma agência de sound branding – afinal, a ideia surgiu nos Estados Unidos, mas a criatividade precisava ser explorada no Brasil. “No início, ninguém entendia como esse mercado funcionava, mas fomos chamando atenção a partir de alguns trabalhos. O ponto de virada foi o projeto sonoro que fizemos para o Banco do Brasil. Foi naquele momento que ganhamos uma grana boa e a empresa deslanchou.” 

A agência Zanna, como foi batizada, tornou-se então a primeira da América Latina com foco em sound branding, método que cria o logo sonoro das empresas. Hoje, com 15 anos de atuação, o negócio atende grandes marcas e encontrou o seu caminho. “Trabalhamos o afeto por meio do som. Ele nos humaniza. O som certo no lugar certo mexe com a vibração e com o estado emocional das pessoas”, revela. 

Mas engana-se quem pensa que Zanna deixou a carreira como cantora de MPB. Seu primeiro disco solo, lançado em 2016, teve três indicações ao Grammy Latino 2017, incluindo Melhor Álbum de MPB. Entre as faixas mais populares no Spotify estão “Vento de Praia Nordeste” e “Menina de Vento”, que fez parte da trilha sonora da novela “Orgulho e Paixão”, da TV Globo. “As músicas que componho para as marcas não são diferentes das que faço para os meus álbuns. Elas também estabelecem conexão com as pessoas, têm alma. Era isso que faltava nos comerciais norte-americanos”, diz. 

“No metrô, por exemplo, as pessoas são impactadas por um ambiente afetivo, e esse é justamente o propósito do projeto. Os passageiros guardam consigo a minha voz e o som que os acompanham ao longo da viagem. Mesmo na correria, levam com eles a leveza e o modo como recebem as informações durante o uso do transporte coletivo”, ressalta. “É como um personagem. Quando a voz muda, todo mundo percebe e sente falta.” 

Embora nunca tenha desistido da música, Zanna não imaginava conseguir alcançar tantas pessoas com suas composições. Para ela, que ficou conhecida como a “voz que se escuta no Metrô”, essa trajetória é resultado da representatividade de sua mãe, que sempre lutou para sustentar a família por meio do empreendedorismo. A ela, a cantora dedica cada nota de suas composições. “Seu exemplo me fez chegar ao Grammy e virar uma empresária de sucesso. Não tinha como eu não trabalhar com afeto”, conclui.

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