Participação de mães no mercado de trabalho é 33% inferior ao de pais no Brasil

Análise da Fundação Getulio Vargas mostra que a maternidade pode ter um efeito prolongado e persistente na atuação profissional feminina
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Mãe negra trabalhando com bebê no colo
Mulheres com mais baixo nível educacional e com filhos pequenos têm uma probabilidade de participar da força de trabalho 51,8% menor do que os homens (Foto: Pexels)

Em 1990, a taxa de participação das mulheres na força de trabalho brasileira beirava os 35%. Quase 30 anos depois, em 2019, esse dado chegou aos 54,3%. Ainda assim, a média anual no ano passado mostrou um recuo – impulsionado, ao menos em parte, pela pandemia de Covid-19 – e alcançou os 51,6%. A análise, feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV), leva em conta a razão entre pessoas economicamente ativas e as pessoas em idade de trabalhar

Por outro lado, em 2021, a taxa de participação masculina na força de trabalho ainda evidencia uma disparidade de gênero no setor, alcançando os 71,6%. 

Segundo a FGV, a discrepância pode estar ligada a questões sociais e culturais, além da própria dificuldade em conciliar o trabalho remunerado – fora de casa – com o trabalho não remunerado – dentro de casa. Nesse sentido, a entidade investigou a fundo em que medida a maternidade acentua o gap de participação na força de trabalho e nos salários.

É importante ressaltar que a análise levou em conta microdados do quarto trimestre da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2012 e 2019 para analisar o cenário antes da pandemia, e os do quarto trimestre de 2020 e 2021, que são mais recentes e mostram os desdobramentos da crise sanitária no mercado de trabalho. Além disso, a pesquisa envolve domicílios com casais heterossexuais, sem filhos ou com filhos de até 18 anos de ambos os cônjuges que moram com os pais. 

Gap de participação na força de trabalho entre mulheres e homens em união

Gap de participação (em pontos percentuais) na força de trabalho entre mulheres e homens em união, com e sem filhos (Gráfico: FGV)

Já no primeiro gráfico é possível perceber uma discrepância visível entre homens e mulheres na força de trabalho. Entre 2012 e 2019, os dados apontam para uma tendência de redução dessa diferença.

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Enquanto em 2012 a participação das mulheres sem filhos no mercado de trabalho era 24,7% inferior à dos homens sem filhos, e para os casais com filhos esse diferencial foi de 37,2%, em 2019 esses números diminuíram para 21,03% e 31,53%, respectivamente. 

Porém, a tendência de queda foi interrompida com a pandemia de Covid-19. Em 2020, a participação das mulheres sem filhos no mercado de trabalho foi 22,26% menor que a dos homens. Já para casais com filhos, a diferença chegou a 33,91%. No ano passado, por outro lado, o gap voltou a cair em comparação a 2020, mas ainda sem atingir os patamares pré-pandêmicos. 

Em 2021, a diferença de participação feminina no mercado de trabalho foi 21,56% menor que a dos homens, ambos sem filhos. Para os que encaram a maternidade e a paternidade, o gap alcançou os 33,05%.

Sendo assim, em todos os anos analisados, a discrepância entre participação feminina e masculina na força de trabalho foi visível, e sempre favorável aos homens. 

A relação com a idade dos filhos

Gap de participação (em pontos percentuais) – mulheres em união em relação aos homens em união – sem e com filhos (por idade do filho) (Gráfico: FGV)

No segundo gráfico, percebe-se que, quanto menor a idade dos filhos, menor a chance da mãe participar da força de trabalho. Em 2012, a porcentagem de mulheres com filhos recém-nascidos que continuaram no mercado de trabalho foi 55,64% inferior à dos homens. No ano passado, no entanto, essa porcentagem diminuiu, alcançando os 49,56%. 

Conforme as idades dos filhos aumentam, a tendência é que mais mulheres voltem ao mercado. Isso foi observado tanto nos dados de 2012 como nos de 2021.

Quando os filhos alcançam a maioridade, a diferença apontada em 2021 recua para 22,83%. Ou seja: apenas 18 anos após o nascimento do filho o gap das mulheres mães se aproxima daquele observado das mulheres sem filhos (21,7% em 2021), que, segundo a FGV, já é considerado alto. 

Para a fundação, esses resultados sugerem que a maternidade pode ter um efeito prolongado e persistente sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho.

Educação da mãe e idade do filho

Gap de participação (em pontos percentuais) – mulheres em união em relação aos homens em união — por grupo de educação da mãe e idade do filho. 2021.T4 (Gráfico: FGV)

Resultados da análise apontam que mulheres com mais baixo nível educacional e com filhos pequenos têm uma probabilidade de participar da força de trabalho 51,8% menor do que os homens. Por outro lado, entre mães com superior completo, esse número cai para 14,9%, e para mulheres com a mesma instrução, mas sem filhos, para 4,9%.

Para a FGV, mulheres mais escolarizadas tendem a apresentar condições socioeconômicas mais favoráveis, conseguindo contornar mais facilmente as limitações impostas pela maternidade.

Idade das mães e dos filhos

Gap de participação (em pontos percentuais) – mulheres em união em relação aos homens em união — por grupo de idade da mãe e do filho. 2021.T4 (Gráfico: FGV)

Segundo a análise, quanto mais jovens – e com filhos pequenos -, menos as mulheres participam da força de trabalho na comparação com os homens. Mulheres de 18 a 24 anos, com filhos de até cinco anos, têm probabilidade 46,79% menor de estar no mercado do que homens na mesma condição. A diferença diminui com o aumento da idade materna, alcançando 32% no grupo de mães de 36 a 49 anos.

O estudo revela, ainda, que a divisão dos grupos etários se justifica pela relação existente entre idade, educação e trajetória profissional. O diferencial de participação para o grupo de mulheres em relação aos homens mais que duplica ao ter um filho pequeno.

Gap no rendimento/hora habitual entre mulheres e homens empregados

Gap no rendimento/hora habitual entre mulheres e homens em união, com e sem filhos, empregados (Gráfico: FGV)

A análise acima compreende uma amostra de homens e mulheres empregados, permitindo estimar o gap salarial controlando por mais fatores relevantes, inclusive a ocupação. 

Em 2012, as mães recebiam 30% a menos do que os pais. No ano passado, esse número passou para 22,8%. Para a FGV,  a explicação está no fato de que o tempo gasto pelas mulheres nos cuidados domésticos aumenta a probabilidade de que elas busquem atividades informais, empregos de meio período com menores salários ou mesmo que deixem o mercado de trabalho.

Assim, os resultados mostram que os efeitos do nascimento de um filho sobre a participação no mercado de trabalho diferem bastante entre homens e mulheres, embora tenha ocorrido melhorias na participação feminina ao longo dos últimos anos.

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