Funk, maternidade e empreendedorismo: Kamilla Fialho conta sua trajetória como talent hunter, CEO e empresária na música

Há 19 anos no mercado, ela foi a responsável por descobrir grandes artistas como Anitta, Lexa e Valesca Popozuda
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Kamilla é a mulher à frente da K2L, empresa de entretenimento (Foto: Divulgação)

Mãe, talent hunter, empresária e CEO. Há 19 anos no mercado da música, Kamilla Fialho divide seus dias para funções profissionais e pessoais. Hoje à frente da empresa de entretenimento K2L – batizado em homenagem a seu nome, Kamilla com “K” e dois “L” -, a empreendedora foi pioneira no segmento de empresariamento artístico do funk. 

Responsável por descobrir grandes artistas, como Anitta, Rebecca, Lexa e Valesca Popozuda, Kamilla adentrou o ramo por incentivo do pai de sua filha, Tília, que hoje também segue no ramo da música, como cantora. Sempre muito rebelde e independente, a empresária precisou driblar preconceitos por ser mulher na indústria e ainda trabalhar com funk.

“Trabalhar na noite sendo mulher, ter suas ideias validadas, ser escutada em reuniões, era tudo muito difícil. Todas as nossas atitudes são motivo para nos descredibilizar, é insuportável”, conta. Mesmo assim, ela acredita que o jogo está virando. 

Confira, na íntegra, a entrevista que Kamilla Fialho concedeu à Elas Que Lucrem:

Elas Que Lucrem: Quem é Kamilla Fialho? Qual sua história antes de iniciar sua carreira profissional?

Kamilla Fialho: Eu já fiz de tudo. Sempre trabalhei durante a minha vida toda! Geralmente, era o rostinho bonito que ficava na frente dos estandes em feiras e convenções, para vender. Já trabalhei em loja, já panfletei… Depois da escola fui fazer formação de atores e acabei passando no teste para a apresentadora da Furacão 2000. Na época tinha passado para Furacão e para uma emissora de televisão, mas como eu queria causar com meu pai – sempre muito rebelde e independente – escolhi a Furacão. Até porque, na realidade, eu escutava eletrônica! 

Depois disso, as coisas foram rolando! Não fiz faculdade porque a vida bateu na porta: acabei engravidando da minha filha, Tília, e foquei no trampo mesmo. Mas meu primeiro emprego, de verdade, na música, foi esse na Furacão 2000. Foi ali dentro que conheci o Mc Sapão e fui, aos poucos, seguindo a carreira de empresária.

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EQL: Como você entrou no funk? Quais dificuldades encontrou para adentrar nesse setor?

KF: Bom, o pai da minha filha é o Dennis DJ, ele que me mostrou tudo lá na Furacão e me ensinou muita coisa. Sempre estive muito presente na carreira dele, vendia os shows e resolvia várias coisas. Então, quando engravidei e não rolava mais de ser o rostinho bonito dos programas, me colocaram na geladeira. Foi quando ele me sugeriu que me tornasse empresária do Sapão. 

Já éramos muito amigos dele, nossa casa vivia cheia de MCs porque o Dennis era o produtor top da época, então foi assim que tudo começou. Aos poucos fui percebendo a falta de organização e profissionalismo dos outros empresários, e como o funk era um gênero sofrido! Muito preconceito! Então meu diferencial de trabalho era baseado em preencher essas brechas. Muitas vezes, os contratantes fechavam o show comigo e o Sapão, ao invés de outro MC mais estourado, por que a gente tinha um contrato, sabe? Estávamos sempre disponíveis no telefone, eu garantia que ele chegasse na hora, esse tipo de coisa.

EQL: Ainda existe preconceito quando se fala que trabalha com funk?

KF: Infelizmente. É claro que melhorou muito, mas ainda escutamos umas barbaridades, que meu Deus… E muita gente que realmente não entende, sabe? Reclama da letra, como se funk fosse para você ouvir e refletir sobre a vida, filosofar… Funk é para dançar, descer até o chão, esquecer dos problemas, beber, curtir, é a parte mais divertida do casamento, esse é o funk! O mood não é de reflexão ou de protesto.

EQL: Você sempre quis empreender? Como nasceu a K2L? 

KF: A K2L nasceu por incentivo do Dennis e pelo ambiente que eu já estava inserida. Já fazia parte do meu dia a dia. No início era Kamilla e Sapão Produções, depois, percebemos que eu precisaria ter a minha empresa e ele, a dele. Aí nasceu a K2L, que faz referência ao meu nome: Kamilla com K e dois L. 

A verdade é que eu sempre fui boa em vender. Só que agora, meu produto anda, respira e tem vontade própria, mas a mentalidade é a mesma. Eu não fazia ideia o que era empreender, ainda mais naquele início, equipe minúscula! Hoje em dia tem muito mais gente dependendo de mim do que naquela época, aí sim, a gente passa a sentir mais o peso.

EQL: Quais desafios enfrentou e enfrenta estando à frente de um negócio?

KF: O Brasil é hostil para quem empreende. Na realidade, o Brasil é hostil para todo mundo! Então, nesse cenário precário, achar pessoas que realmente acreditem, tanto na empresa em si, quanto nos artistas, é o maior desafio. Porque no início é tudo lindo, mas música não é para quem gosta, é para quem aguenta. Sendo mulher, então, esquece!

EQL: Quais foram suas maiores conquistas até hoje?

KF: Ah, graças a Deus foram muitas! A maior conquista de todas foi não ter enlouquecido até agora e ter criado uma filha como a Tília! Mas tirando esses pequenos detalhes, pra não dizer o contrário, a carreira inteira do Kevin O Chris é motivo de muito orgulho, cada show lotado do 3030, a recepção do primeiro álbum da Tília foi demais, ter sido indicado ao WME, a empresa ter sobrevivido a uma pandemia, o curso Como Viver de Música, além de ter ultrapassado várias barreiras que eu tinha e estar dando entrevistas como essa… Se bobear, a maior conquista de todas foi ter tido coragem de me jogar nesse mundo há 19 anos atrás com o Sapão. Eternamente grata a ele e tudo que veio depois.

EQL: Onde você quer chegar, pessoal e profissionalmente?

KF: Pessoalmente, seria incrível poder ficar mais perto da família. Mas moro no Rio e agora minha filha resolveu ser artista, então, ou eu vou para a estrada com ela até os 80 anos, ou não vou conseguir ficar grudadinha. Profissionalmente, só descanso quando nossa cultura receber o valor que ela merece. Quero poder capacitar muita gente e poder exportar muitos talentos ainda!

EQL: Por ser mulher, você acredita que essa barreira, seja no universo do funk ou empresarial, é maior?

KF: Sim! Já não trabalho só com funk há muito tempo, mas de modo geral, a indústria da música é predominantemente masculina e isso pode intimidar muitas mulheres. Trabalhar na noite sendo mulher, ter suas ideias validadas, ser escutada em reuniões, era tudo muito difícil. Tive que ir adaptando o jeito que me visto, que me comporto, tudo para tentar ser mais respeitada. Todas as nossas atitudes são motivo para nos descredibilizar, é insuportável. Até hoje sou obrigada a ouvir barbaridades, mas o jogo está virando e nós, mulheres, estamos muito mais fortes para ir contra esse tipo de atitude.

EQL: O que falta para que mais mulheres adentrem o ramo? Acha que estamos no caminho certo para que isso se consolide?

KF: Acho que estamos no caminho certo, sim! Só faltam, cada vez mais, iniciativas de capacitação e reconhecimento para nós. Enquanto hoje, podemos listar X projetos assim, espero, em 5 anos, podermos listar 10X, entende? E vale tudo: podcasts, eventos, premiações, cursos, festivais, serviços, sejam voltados para a música, ou não. Precisamos de mulheres protagonizando TODOS os espaços. Sempre haverá preconceito, mas se mais mulheres estiverem nesses cargos de chefia, quem sabe, em entrevistas de emprego param de nos perguntar sobre estado civil e quando pretendemos engravidar.

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