De Britney Spears à Sharon Stone: as celebridades que já foram exploradas no mercado de trabalho

Riqueza e fama nem sempre estão associadas a autonomia para a tomada de decisões
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Britney permaneceu na tutela do pai até 2021 (Foto: Divulgação)

No caso das mulheres, a independência financeira nem sempre vem atrelada à autonomia. O conceito, que se refere principalmente à capacidade de estabelecer escolhas, continua sendo um tabu para muitas pessoas que, apesar de desfrutarem de altos poderes aquisitivos, ainda se vêem presas a amarras de relacionamentos, familiares ou da própria sociedade. 

No mercado de trabalho, por exemplo, essa situação pode ser vista com nitidez. Ainda hoje, as mulheres sofrem mais assédio moral e sexual do que os homens, de acordo com uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão. Os dados do levantamento mostram que 40% delas dizem que já foram ofendidas ou que já ouviram gritos no trabalho, contra 13% dos homens que vivenciaram a mesma situação. 

A sociedade ainda é patriarcal e a mulher, muitas vezes, não é ouvida no ambiente de trabalho, além de receber menos do que deveria, mesmo que seja competente no que faz. É o caso da cantora norte-americana Britney Spears. 

A artista pop enfrentou uma batalha judicial contra o seu próprio pai, Jamie Spears, que se alastrou por anos. Desde 2008, ele controlava de forma legal a vida e a carreira da filha. Jamie conquistou o direito logo depois que Britney foi internada, em 2007. 

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No auge de sua carreira, a cantora passou a ser perseguida por paparazzi. Fotografias suas em momentos vulneráveis foram expostas na mídia – e esse foi um dos principais motivos que a levaram a desenvolver distúrbios psiquiátricos e psicológicos.

Em 2008, Jamie entrou com um pedido de tutela e conquistou o direito de controlar toda a fortuna e as decisões da filha. “Estou traumatizada. Não consigo dormir. Estou com tanta raiva. Eu não estou feliz. É insano”, disse ela em junho deste ano, em uma audiência, relatando frustração pela falta de controle sobre a própria vida.

Depois de batalhas judiciais ao longo de 13 anos, o fim da guarda foi decretado no dia 29 de setembro pela juíza Brenda Penny, durante uma audiência nos tribunais norte-americanos.

Britney, infelizmente, não está sozinha. Veja, abaixo, outras cinco mulheres que também foram vítimas de exploração no trabalho:

Kesha

Kesha. (Foto: Divulgação)

A cantora norte-americana também alega já ter sido explorada. Em 2014, Kesha deu início ao que prometia ser uma longa disputa judicial. Angustiada com a situação que vivia – ela não conseguia evoluir porque não se sentia à vontade para trabalhar perto de Lukasz Sebastian Gottwald, conhecido como Dr. Luke, seu responsável artístico -, Kesha decidiu denunciá-lo. A cantora o acusou de drogá-la e estuprá-la em 2005, e de ser responsável por instigar seus distúrbios alimentares durante o tempo em que trabalharam juntos.

Na época, Dr. Luke negou e disse que tudo não passava de uma mentira fabricada pela mãe de Kesha e pela compositora Pebe Sebert, com o objetivo de quebrar o contrato sem pagar a multa. Ele também abriu um processo de difamação contra a artista após as acusações. 

Em setembro de 2015, o caso foi suspenso. Kesha questionou a decisão porque sua carreira estava em jogo, já que não podia produzir novas músicas sem Luke. “Kesha não pode trabalhar com outros produtores ou outras gravadoras para lançar músicas. Sem música nova para cantar, ela não pode fazer turnê. Fora das rádios, dos palcos e dos holofotes, não pode fazer publicidade, receber patrocínios ou obter atenção da mídia”, afirmou seu advogado, Mark Geragos.

Para apoiar a cantora, os fãs criaram até um movimento nas redes sociais, o #FreeKesha. Mas só em julho deste ano a cantora conseguiu uma vitória. Uma juíza da Suprema Corte de Nova York decidiu que ela pode ser contemplada por uma lei, aprovada em 2020, que tem como objetivo proteger a liberdade de expressão. A nova legislação obriga que seja comprovado o uso de malícia em casos que envolvem interesse público. Com a decisão, Dr. Luke vai precisar provar, com evidências claras e convincentes, por que Kesha está agindo de má fé, já que ele a acusou de difamação.

A cantora poderá, ainda, pedir indenizações e solicitar que ele pague os honorários legais caso suas reivindicações sejam negadas. Sobre a acusação de abuso sexual, o produtor também precisa comprovar que não o cometeu.

Tina Turner

Tina Turner. (Foto: Divulgação)

Considerada uma das maiores cantoras de todos os tempos, tanto no pop quanto no rock, Tina Turner também foi explorada ao longo de sua carreira pelo seu próprio marido, Ike Turner. Os dois se casaram em 1962 e ficaram juntos por 16 anos. Durante a relação, Tina sofria constantemente com abusos físicos e psicológicos. No livro “Minha História de Amor”, escrito por ela e publicado em 2018, a artista conta que ele chegou a quebrar sua mandíbula, jogou café quente em seu rosto e ainda a obrigava a cantar mesmo que não estivesse bem.

“A nossa vida juntos foi marcada por abuso e medo (…) De um jeito perverso, os hematomas que ele me deu – um olho roxo, o lábio machucado, a costela trincada – eram marcas de posse. Uma maneira de dizer: ‘Ela é minha e eu posso fazer o que eu quiser com ela’. Eu sabia que tinha que ir embora, mas não sabia como dar o primeiro passo. Nas horas mais difíceis, eu me convenci que a morte era o meu único caminho”, escreveu.

Tina conta, ainda, que recebeu uma boa quantia com o sucesso da música “Proud Mary” – gravada pela dupla que mantinha com Ike e vencedora de um Grammy, em 1971. Apesar disso, o então marido teria ficado com todo o dinheiro, gasto para montar um estúdio para ele e comprar cocaína. 

Após mais de uma década de sofrimento e exploração, Tina decidiu se separar do companheiro. Mas não foi fácil. “Eu saí do casamento sem nada e tive de fazer as coisas por mim mesma, pela minha família, então eu voltei a trabalhar para me manter. Foi muito difícil e perigoso porque Ike era uma pessoa violenta e, naquele momento, usava drogas e estava muito inseguro. Eu não tinha dinheiro, eu não tinha para onde ir”, disse a cantora em entrevista ao “The Jonathan Ross Show”, da ITV.

Lu Andrade

Lu Andrade. (Foto: Divulgação)

A cantora e compositora Luciana de Andrade, mais conhecida como Lu Andrade, venceu, em 2002, o talent show “Popstars” e passou a integrar o grupo brasileiro Rouge. Foram dois anos de muito sucesso até que, em 2004, a artista anunciou sua saída. Em 2021, em entrevista, revelou como era o tratamento que o grupo recebia no início da carreira, que acabou resultando em sua decisão de deixar a banda.

“Eu saí porque nós éramos muito desvalorizadas como pessoas e artistas pelos nossos empresários. Eu sabia onde estava me metendo pelo contrato que assinei, então não me fiz de coitada, mas ainda assim não achava justa a porcentagem que pagavam porque geramos muita receita para os nossos empresários. E não  preocupação alguma se a gente estava se sentindo bem, se estava doente ou não estava. ‘Vai lá e trabalha porque você é uma marionete, meu escravo'”, desabafou.

Lu explicou que o grupo não acabou com a sua saída e que, embora as outras integrantes também se sentissem exploradas, elas não tiveram coragem de ir embora.

“Eu me lembro que todas as meninas viveram esse baque e chegamos a conversar a respeito, se queríamos lutar por melhores condições, por mais justiça, e todas falaram que queriam, mas no fim escolheram seguir. Deram meio pra trás, e eu não, porque estava fazendo muito mal pra minha saúde. Tem casos que nunca contei e nem vou contar porque são pesados. Eu vivi coisas extremamente pesadas. Hoje sei que foi assédio moral, mas na época não se falava nisso. Resolvi ser íntegra comigo e não atrapalhar o trabalho delas, porque chegou um momento em que eu não queria fazer algumas coisas e elas queriam, então tive que me retirar porque precisava deixar elas viverem o sonho delas”, disse.

Sharon Stone

Sharon Stone. (Foto: Divulgação)

A norte-americana Sharon Yvonne Stone ganhou reconhecimento internacional após participar do filme “Instinto Selvagem”, em 1992. Na obra em que interpreta uma serial killer, uma das cenas mais marcantes é quando a atriz cruza as pernas durante uma entrevista e deixa claro que não usava calcinha. Apesar do sucesso, a cena foi incluída no filme sem o seu consentimento.

“Depois da filmagem, fui chamada para ver. Não sozinha com o diretor, mas em uma sala cheia de agentes e advogados, pessoas que não tinham nada a ver com o projeto. Foi assim que vi a cena da minha vagina pela primeira vez. Quando gravamos, falaram que nada estava aparecendo, mas me pediram para tirar a calcinha porque o banco estava criando reflexo”, detalhou em sua biografia “The Beauty of Living Twice”.

A atriz conta, ainda, que quando descobriu que a promessa de que suas partes íntimas não apareciam no filme não tinha sido cumprida, deu um tapa furioso no cineasta Paul Verhoeven. Ela revelou, ainda, que se sentiu explorada.

Em maio deste ano, em entrevista ao programa ‘Current Affair’, a atriz, hoje com 63 anos, falou sobre sua batalha contra o cineasta por causa da fatídica cena. “No ano que vem, o filme completa 30 anos e decidiram lançar a versão do diretor para celebrar – e eu não posso fazer nada para impedir. Estou completamente impotente”, revelou Sharon ao apresentador Tracy Grimshaw.

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