Afazeres domésticos sacrificam mais de um terço da renda da mulher brasileira

Segundo pesquisa do IBGE, mulheres trabalham, em média, 54,3 horas por semana, das quais 18,5 não são remuneradas
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Afazeres domésticos sacrificam mais de um terço da renda da mulher brasileira
Apesar das conquistas femininas em relação à conquista de espaços sociais e profissionais, trouxeram um novo olhar sobre o universo feminino, mas não diminuíram a ideia de que elas ainda são responsáveis por tarefas relacionadas ao cuidado, como as atividades domésticas, cuidados com a família e responsabilidade sobre as escolhas práticas do lar

Não há dúvidas de que a rotina da mulher, com filhos ou não, é exaustiva. Em um quadro comum e amplamente encontrado nos lares brasileiros, a mulher acorda pela manhã, prepara os filhos para a escola, trabalha, chega em casa e se dedica novamente aos filhos, aos afazeres domésticos e à alimentação da família

O dia a dia pode ficar ainda mais complicado se essa mulher, pela vontade de crescer profissionalmente ou mudar os rumos de sua carreira, também se dedicar aos estudos. Neste caso, com uma variável a mais nesta equação, além da sobrecarga, ela é vítima de olhares de reprovação, uma vez que o tempo para se dedicar às tarefas do lar é reduzido para que a vida profissional e de capacitação se encaixe no meio disso tudo.

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Sim, os tempos mudaram, mas as coisas ainda não são tão diferentes assim. 

A faz tudo

A verdade é que os cuidados com a casa e família são atribuídos ao sexo feminino desde que o mundo é mundo. 

Segundo o livro de Pierre Bourdieu Novas reflexões sobre a dominação masculina”, “A ideia de que o espaço doméstico é destinado à mulher é uma construção sócio-histórica em que os aspectos biológicos deram suporte ideológico para essa afirmação”. O trecho da obra explica que a capacidade da mulher de gerar vida atribuiu a ela o papel de cuidadora.

Apesar dos avanços femininos em relação à conquista de espaços sociais e profissionais trazerem um novo olhar sobre o universo feminino, isso não diminuiu a ideia de que elas ainda são responsáveis por tarefas relacionadas ao cuidado, como as atividades domésticas, atenção à família e responsabilidade sobre as escolhas práticas do lar.

Tal apontamento gera a famosa sobrecarga prática e social sobre a rotina da mulher: você pode trabalhar, estudar e se divertir, mas deve manter a excelência quanto as outras áreas que são atribuídas como responsabilidades majoritariamente femininas. 

Disso também surge a ideia de que a mulher é multitarefas, enquanto o homem não. Uma falsa premissa que sustenta o imaginários de que elas são capazes de fazer e dar conta de tudo, sem mais problemas.

Na verdade, tal atribuição é resultado de um processo trabalhado desde cedo na vida delas, processo este pelo qual os homens não passam, mas que também têm igual capacidade de desenvolver.

Divisão de tarefas

Segundo a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em março de 2021, as mulheres dedicam, em média, 21,4 horas por semana aos cuidados com a casa e a família. Por sua vez, a participação masculina é quase metade deste tempo, eles dedicam, em média, 11 horas semanais às mesmas atividades.

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Ainda com dados da mesma pesquisa, quando segregamos a população entre empregados e desempregados, as mulheres ocupadas profissionalmente, em média, dedicam 18,5 horas por semana aos afazeres domésticos, enquanto os homens em igual situação dedicam 10,4 horas por semana.

A atenção diária média das mulheres que possuem trabalho remunerado às atividades de casa é de 2,5 horas.

Quando o assunto é a soma das horas trabalhadas e dedicadas às atividades do lar, elas comprometem 54,3 horas no total, enquanto eles 51,2 horas.

O que tudo isso significa? Cruzando os dados entre horas totais dedicadas ao lar e trabalho, e horas dedicadas apenas aos afazeres de casa, a conclusão é de que as mulheres dedicam menos tempo à vida profissional, sacrificando assim, parte de suas horas que poderiam ser dedicadas ao trabalho remunerado, tudo em prol dos afazeres domésticos.

Entretanto, no total, na soma entre trabalho do lar e remunerado, as mulheres ainda trabalham mais. Logo, podemos concluir que a renda da mulher é sacrificada por conta dos afazeres não remunerados, assim como sua carreira e vida profissional.

Tal apontamento pode ser, em parte, confirmado pelo dado da pesquisa do IBGE que aponta que as 29,6% das mulheres possuem empregos de meio período, contra apenas 15,6% dos homens em mesma situação.

Quanto a desigualdade na divisão das tarefas afeta o bolso da mulher

Com base nos indicativos da pesquisa do IBGE, mais de um terço das horas semanais trabalhadas pelas mulheres não é remunerada. Isso significa que se seu salário é de R$ 3 mil, você vai deixar de ganhar, em média, R$ 1.021,80 ao mês por conta da má distribuição dos afazeres de casa.

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Como chegamos a este número? Se as mulheres trabalham, no total, 54,3 horas por semana, das quais 18,5 não são remuneradas, significa que apenas 35,8 horas trabalhadas por elas são recompensadas financeiramente (menos de dois terços do total).

Com um salário hipotético de R$ 3 mil, uma mulher deixa de ganhar R$ 255,45 por semana e R$ 12.261,60 ao ano.

Segundo dados do IBGE, em 2020, a renda média per capita no Brasil foi de R$ 1.380. Dentro desta realidade, a renda mensal da mulher não realizada é de R$ 470,02 ao mês e de R$ 5.640,33 ao ano.

Depois de toda essa exposição de dados, fica claro que avançamos em termos da participação da mulher em espaços acadêmicos, sociais e profissionais, mas, em contrapartida, o avanço trouxe consigo a sobrecarga e o comprometimento da renda delas. 

O caminho a ser percorrido ainda é longo, mas, certamente, a direção seguida deve ser a mudança gradual do olhar da sociedade sobre as prioridades das atividades que são atribuídas a elas. 

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