Especial A Queda da Bolsa: Uma viagem ao passado

Entender a história das maiores crises econômicas nos ajuda a lidar com momentos de turbulência
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Quando o país vive uma crise financeira que impacta a bolsa, a sensação é de pânico generalizado. Esse sentimento pode levar os investidores a tomarem decisões precipitadas que, no fim, podem causar ainda mais prejuízo.

No entanto, é importante visitar o passado para acalmar os ânimos. A recente desvalorização das ações brasileiras não é a primeira ou a pior já enfrentada – e, provavelmente, também não será a última. A sensação de que o mundo está prestes a acabar não é inédita, mas, se olharmos para trás, veremos que, ao longo da história, o saldo dos investimentos sempre foi positivo.

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Aline Tavares, gerente de análise de ações da Spiti, afirma que antes de entrar no mundo de renda variável, é necessário que a investidora entenda o seu perfil e se sinta confortável nessa categoria de investimentos. “Escolher empresas resilientes é importante, pois a chance de elas resistirem a momentos mais turbulentos é maior. Além disso, é necessário entender que o mundo e as empresas não vão acabar com uma crise.”

Os loucos anos 1990

A década de 1990 estreou com uma enorme queda na bolsa de valores. Naquela época, ainda não existia o circuit breaker, mecanismo de segurança usado para travar as operações quando seu principal índice cai mais do que um certo limite. No caso da B3, a interrupção ocorre quando o Ibovespa cai mais de 10% em relação ao fechamento do dia anterior. 

Fernando Collor assumiu a presidência em 1990 em meio a um cenário de hiperinflação. Em 1989, ano anterior à posse, a média mensal de aumento de preços era de 28,94%. Para enfrentar o problema, o governo decidiu confiscar a caderneta de poupança dos brasileiros, estabelecendo o limite máximo de saque em 50 mil cruzados novos (cerca de R$ 5.500 em valores atuais corrigidos pela inflação).

No dia 16 de março, quando o Plano Collor – como foi batizada a medida – foi divulgado, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ), que ainda existia, não registrou nenhuma negociação. Já a bolsa de São Paulo efetuou apenas nove operações. Nos três dias subsequentes, a queda acumulada já somava 55%.

Segundo Aline, essa desvalorização tão substancial também pode ser explicada pela época. Naquele momento o país possuía três bolsas de valores – além da BVRJ e da Bovespa, existia ainda a Bolsa Mercantil & de Futuros (BM&F) -, poucos investidores e um número reduzido de negociações, o que contribuiu para a queda expressiva. Além disso, o mercado ainda foi mais prejudicado, pois as medidas não resolveram o problema da inflação e o aumento de preços continuou.

Segundo a analista, o ano seguinte, 1991, foi muito favorável à economia e à bolsa brasileira. O segundo plano econômico do governo Collor – Collor II – incluiu novos congelamentos de preços e abertura do mercado para investidores estrangeiros. Isso fez a bolsa disparar.

Em 1994, já sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso, criador do Plano Real, o país passou a experimentar a estabilidade econômica, com inflação e dólar sob controle.

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O miado dos tigres asiáticos

O período de estabilidade econômica no Brasil acabou em 1997 com a crise nos países asiáticos, considerada a primeira do mundo globalizado. Foi nessa época que o circuit breaker foi acionado pela primeira vez por aqui.

“Os tigres asiáticos eram as principais economias do sudeste da Ásia. Eles estavam passando por um boom econômico, mas tinham problemas nas contas públicas, ou seja, seus governos gastavam mais do que arrecadavam, e começaram a pedir empréstimos para o Fundo Monetário Internacional”, diz Aline.

Por causa da globalização, a crise gerada do outro lado do mundo acabou afetando a maior parte dos países do mundo. No caso do Brasil, país considerado emergente na época, o impacto foi grande, chegando a cair 14,98%. “Graças ao circuit breaker,a queda não foi tão grande quanto a ocorrida no Plano Collor”, lembra a especialista.

A explosão da bolha imobiliária

Em resumo, a crise de 2008 pode ser definida como o estouro de uma grande bolha imobiliária nos Estados Unidos. Os bancos ofereciam crédito fácil para a população adquirir imóveis, com baixas taxas de juros e sem necessidade de comprovação de renda.

A estratégia fez o número de financiamentos explodir e, consequentemente, provocou um aumento no valor dos imóveis, que passaram a ser negociados por quantias muito maiores do que realmente valiam, seguindo a velha máxima da oferta e da procura.

“Os créditos eram concedidos até para pessoas sem renda, sem qualquer garantia, ou seja, eram créditos muito ruins”, explica Aline. “Em determinado momento, percebeu-se que essa estratégia não era sustentável.” A partir daí, os juros subiram, impossibilitando que as pessoas pudessem arcar com os compromissos firmados anteriormente. Virou uma bola de neve: o calote coletivo afetou o desempenho dos bancos.

“O grande problema dessa crise é que não era possível saber a extensão dos rombos nos bancos e nas empresas norte-americanos. O mundo inteiro sofreu. Os bancos centrais então entraram em ação, baixando as taxas de juros e injetando dinheiro na economia. Com essas medidas, houve uma recuperação importante em 2009”, completa a analista.

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Joesley Day

Em meio a diversas crises políticas que assolaram o Brasil em 2016, como os escândalos da Lava-Jato e o impeachment de Dilma, o ano de 2017 seguia com relativa calmaria. O mercado financeiro estava satisfeito e as perspectivas eram muito boas.

No dia 17 de maio, no entanto, veio à tona uma conversa entre Joesley Batista, presidente e um dos proprietários da JBS, uma das maiores exportadoras brasileiras de carne, e o ex-presidente Michel Temer, como parte de um acordo de delação premiada. 

Na conversa, Temer dava autorização para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Lira, que estava preso por desdobramentos da Lava Jato, fosse comprado, em troca de diminuição na sua pena por lavagem de dinheiro e corrupção.

O Joesley Day, como ficou conhecido, abalou a bolsa – que caiu 10% e acionou pela primeira vez o circuit breaker desde  2008 – e levou o dólar às alturas, fechando a R$ 3,38, alta de 8,8%. Além disso, a incerteza gerou preocupações sobre o andamento da reforma da previdência e até mesmo uma possível renúncia ou impeachment de Michel Temer.

“Apesar da preocupação, em alguns dias houve uma normalização, a continuidade das reformas e o mercado conseguiu se recuperar”, diz Aline.

A força de um vírus

A crise econômica mais recente começou em 2020, consequência da pandemia de Covid-19. Diferente das turbulências anteriores, desta vez a economia foi duramente impactada por uma crise sanitária.

“O coronavírus surgiu em um contexto totalmente diferente. A quarentena que nos foi imposta afetou a cadeia produtiva e reduziu a oferta. O mercado costuma reagir bem ao risco, mas quando é um risco calculado. A pandemia gerou muita incerteza por ser uma causa desconhecida”, explica Aline.

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A bolsa brasileira, no entanto, mostrou uma rápida recuperação – o que os especialistas chamam de “V”, ou seja, uma retomada intensa depois de uma queda vertiginosa. “Quando começamos a ter soluções mais factíveis, como vacinas e uso de máscaras, a demanda começou a voltar, estimulando a produção. No entanto, como muitos países ainda enfrentam problemas no abastecimento, a inflação acabou ressurgindo.”

Carol Proença é estudante de economia e especialista de investimentos certificada 

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