Especialistas ensinam a priorizar o pagamento de dívidas para evitar a bola de neve de juros

Apesar de o cartão de crédito ser o vilão do efeito cascata, renegociações devem começar por despesas consideradas essenciais, como água, luz e gás
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(Boletos acumulados podem gerar juros estratosféricos Foto: Pixabay)

Falta apenas um dia para o último mês do ano. E com a chegada de dezembro, aquela dívida que se arrastou ao longo de 2021 deve ser paga ou negociada para que você não entre no ano novo no vermelho. Com a pandemia de Covid-19, muitas famílias perderam a renda e, por isso, sair do endividamento não tem sido fácil.

Ontem (29), a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que a fatia total das pessoas que se declararam endividadas subiu para 75,6% em novembro, ante 74,6% em outubro e 66% em novembro do ano passado.

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Apesar do cenário nacional desfavorável, é importante lembrar que boletos acumulados podem gerar juros estratosféricos e que, se não há como quitar todas as contas de uma vez, deve-se definir uma lista de prioridades para evitar o efeito cascata.

Por isso, a Elas Que Lucrem ouviu especialistas que definiram os seis principais débitos, em uma ordem de prioridade, que devem ser quitados o quanto antes para evitar prejuízos maiores ao bolso. Veja, a seguir, quais são eles:

1 – Água, luz e gás

De acordo com Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, empresa especializada na renegociação de dívidas, a conciliação de débitos deve começar pelas despesas essenciais, como água, luz e gás, que podem afetar o dia a dia.

“A primeira prioridade são as dívidas relacionadas aos serviços essenciais. Ou seja, o básico. Isso porque uma potencial interrupção vai impactar a rotina da família. Vale lembrar que empresas que prestam esse tipo de serviço devem avisar, com pelo menos 15 dias de antecedência, sobre o corte. Então organize-se, levando esse prazo em conta, para conseguir quitar as dívidas e não correr o risco”, explica.

Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócia da RV4 Investimentos, concorda que a paralisação de serviços essenciais pode gerar desconforto. “Procure colocar essas contas em débito automático e, constantemente, busque formas de economizar. Para isso, envolva os demais moradores da casa, inclusive as crianças”, sugere.

2 – Financiamento de imóvel ou automóvel

Para Bruna, a próxima prioridade é o financiamento do imóvel ou automóvel. Ela explica que, nesses casos, a garantia para o banco ou para a financeira é, justamente, o bem. “Se você deixar de pagar, a instituição que concedeu o crédito pode exigir a recuperação do carro ou do apartamento. É muito importante, então, tomar muito cuidado para que isso não aconteça. Além de ficar sem o bem pelo qual você fez o empréstimo, muitas vezes esse processo gera uma despesa, pois os juros serão descontados e há custos administrativos, o que pode resultar na devolução de um valor muito menor do que aquele já investido na operação.”

3 – Aluguel

A educadora financeira destaca que a terceira prioridade, para quem não tem casa própria, é o aluguel, algo que faz parte da realidade de milhões de famílias brasileiras. “A recomendação é negociar o valor, principalmente porque esse é o tipo de dívida que vai além da restrição do CPF e pode envolver processos na Justiça.”

Outro incentivo para negociar essa dívida o quanto antes é o fato de o valor poder aumentar muito acima do esperado, já que o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M), que é usado para o reajuste anual da maior parte dos contratos de aluguel em todo o país, tem passado por forte alta. No levantamento mais recente, do mês de novembro, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o índice passou a acumular alta de 16,77% no ano e de 17,89% em 12 meses. 

Em abril, o IGP-M chegou a subir 1,5% no mês e 32% em 12 meses, sendo a segunda maior alta desde o fim da hiperinflação, com a implantação do Plano Real, em 1994. No aniversário de vencimento do contrato, vale até propor outro índice para regulamentar o reajuste, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que no acumulado até outubro apresentava alta de 8,24%.

4 – Cartão de crédito e cheque especial

Em quarto lugar estão as contas normalmente mais altas, regidas por juros igualmente altos. Bruna Allemann, da Acordo Certo, lembra que, na ausência das três primeiras dívidas, vá direto para essas duas. O adiamento do pagamento integral do cartão de crédito, por exemplo, pode custar caro, já que a taxa anual de juros é superior a 300%, podendo chegar a 875%, segundo a Agência Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). No caso do cheque especial, esse índice bateu os 128,8% no mês de outubro.

“O mínimo que você deixa de pagar transforma aquilo numa bola de neve. O nome fica sujo, restringindo o acesso a qualquer tipo de crédito, o que acaba afetando a vida como um todo. Você não perde patrimônio, mas perde muito dinheiro por conta das taxas.”

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Luciana Ikedo esclarece que, apesar de existir atualmente um limite para a taxa do cheque especial (8% ao mês), essa é uma dívida caríssima e precisa ser renegociada imediatamente. Ela alerta, ainda, sobre o risco do parcelamento da fatura do cartão de crédito. “Adiar o pagamento quitando apenas o mínimo permitido pela instituição financeira é a opção mais cara disponível. Caso você não consiga pagar a próxima fatura, as chances de a dívida ficar impagável são enormes. É preciso se livrar do parcelamento o mais rápido possível.”

5 –  Plano de saúde

Luciana Ikedo lembra que se você paga o seu próprio plano de saúde, não deve cair na tentação de cancelá-lo na primeira dificuldade. “Um problema de saúde grave pode gerar gastos expressivos que podem levá-la ao endividamento. Por isso, essa também é uma conta que deve ser priorizada.”

Conforme a legislação brasileira, as operadoras podem cancelar os planos de saúde individuais e familiares após 60 dias de inadimplência. Para negociar o valor, não há uma regra geral. Mas algumas operadoras podem oferecer a opção de parcelar a mensalidade no cartão de crédito. Uma outra saída é trocar por uma categoria mais em conta. Para isso, existe a portabilidade, que permite a troca sem ter que cumprir novos períodos de carência.

6 – Contas não essenciais

Por último, Bruna deixou todas as dívidas consideradas não essenciais. Aqui entram a fatura do celular ou da televisão por assinatura, por exemplo. “Todas essas contas também geram uma interrupção do serviço, mas não afetam tanto a rotina quanto o corte de luz ou água. Além disso, são serviços que costumam ter taxas bem menores de juros. Caso tenham sido contratados há muito tempo, é possível conseguir bons descontos na renegociação, principalmente se a dívida for maior que cinco anos.”

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