Compre agora, pague depois: conheça o BNPL, modelo de pagamento que ganha espaço entre os brasileiros

Aumento do poder de compra, parcelamento facilitado e não comprometimento do limite ou cartão de crédito estão entre os principais motivos que impulsionaram o crediário digital
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Mais de 20 milhões de brasileiros optaram por realizar suas compras em e-commerces durante a pandemia (Foto: EnvantoElements)

Em um dos versos da música “Chopis Centis”, lançada em 1995 pelo Mamonas Assassinas, fazer um crediário nas Casas Bahia era motivo de felicidade. O famoso carnê se popularizou no Brasil nas lojas físicas a partir dos anos 1950, principalmente entre os clientes que não podiam pagar suas compras à vista.

Com o aumento da circulação dos cartões de crédito, que oferecem basicamente a mesma função – a de parcelar uma dívida -, o modelo de negócio ficou de lado, mas nunca deixou de existir. Agora, principalmente impulsionados pela pandemia, os crediários, desta vez digitais, voltaram com tudo. 

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Para surfar na onda da crise econômica e da adesão dos brasileiros às compras online, empresas estão apostando no crediário digital como uma possibilidade de as pessoas comprarem parcelado sem precisar de um cartão de crédito. 

Impulsionados pelo isolamento social e pelo fechamento do comércio, mais de 20 milhões de brasileiros optaram por realizar suas compras em e-commerces durante a pandemia de Covid-19, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Fora no Brasil, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, esse modelo é conhecido como BNPL – ou buy now, pay later, que é em português significa compre agora, pague depois – e une o sistema financeiro e a tecnologia da inteligência artificial para avaliação do risco de crédito do consumidor. Apesar de ganhar espaço ao longo dos anos, o parcelamento de dívidas não é um costume nessas regiões.

No Brasil, pelo contrário, o hábito de pagar parcelado ou pelo crediário é antigo. Por aqui, as pessoas dão preferência ao parcelamento, seja no cartão de crédito ou em outro formato, como o boleto. Uma pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Internet (Abranet) e realizada pelo Datafolha concluiu que 75% dos brasileiros que usam cartão de crédito preferem dividir em parcelas a compra de produtos e serviços.

Por isso, com a aposta de ser menos burocrático, totalmente digital e com a aprovação mais rápida, o BNPL tem crescido em território brasileiro. Os volumes da plataforma BNPL do PayPal, por exemplo, foram cinco vezes maiores na Black Friday do ano passado do que no mesmo período de 2020. “Vimos um aumento anual de 400%”, disse em entrevista Dan Schulman, presidente da empresa. Segundo ele, mais de 9 milhões de pessoas já usaram o serviço.

Como funciona

Valquíria Matsui, head comercial de mercado de capitais da QI Tech, empresa de tecnologia com licença bancária, destaca que a dinâmica do BNPL é muito interessante, já que praticamente qualquer pessoa pode acessar o serviço financeiro. “O BNPL está disponível nos checkouts das lojas online e, algumas vezes, nos tablets das lojas físicas. O cliente escolhe os produtos que deseja comprar e adiciona ao carrinho. Ao finalizar a compra, aparece o BNPL como opção de pagamento. Quando é selecionado, a plataforma realiza uma análise cadastral e de crédito. Este sendo aprovado, a compra é finalizada instantaneamente e o cliente recebe por e-mail ou whatsapp as cobranças futuras.”

Apesar do termo mais moderno, ela lembra que os brasileiros conhecem a dinâmica do parcelamento há anos. “O crediário evoluiu, tornou-se digital e presente em muitos lugares. A alta disponibilidade alinhada às vantagens econômicas são os principais impulsionadores desta modalidade no ambiente digital”, diz. 

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Carolina Rezemini, diretora regional de vendas para a América Latina da Credolab, startup de análise de scores, lembra que muitas pessoas não têm limite suficiente para poder realizar compras no cartão de crédito. Vale lembrar que mais de 36 milhões de brasileiros ainda não possuem conta em banco, segundo dados do Instituto Locomotiva. Além disso, a penetração do cartão de crédito ainda é baixa: entre 40% e 45% da população 

“Além de permitir a compra de bens de valores mais altos, esta pode ser a primeira oportunidade para o consumidor criar um perfil de crédito e ter chance de melhores aprovações e limites. O fundamental é avaliar bem se a parcela do crediário cabe no bolso, além do prazo oferecido pela empresa”, argumenta a diretora da Credolab. 

A especialista no assunto continua: “Precisamos nos lembrar de que qualquer parcelamento já tem juros embutidos. Normalmente, as empresas oferecem um desconto para uma transação por Pix, por exemplo, já que o recebimento é à vista. O que temos de avaliar é o quanto os juros cobrados são abusivos na comparação com o preço à vista para evitar situações que sejam mais prejudiciais do que benéficas para o comprador”.

No Brasil, existem diversos modelos de BNPL. Alguns não cobram juros do cliente nas parcelas, portanto equivale a uma compra parcelada sem juros. Outras opções incluem parcelas corrigidas.

“Mas é um modelo muito bom para incluir novos consumidores no mercado de crédito, uma vez que não é necessário ter conta em banco para optar por ele. Além de servir às pessoas não-bancarizadas, a modalidade não consome limite do cartão de crédito, sendo uma excelente opção para quem quer evitar o uso desse meio de pagamento. Por fim, mesmo nas operações BNPL que possuem juros, quando comparados com as taxas do rotativo do cartão de crédito, a economia é significativa”, diz a especialista.

Benefícios e riscos

A head comercial de Mercado de Capitais da QI Tech considera que o BNPL pode ser a principal modalidade para impulsionar as vendas em 2022, já que traz benefícios para lojistas e consumidores. 

“Para o cliente, os benefícios são inúmeros, começando pelo fato de ser uma categoria democrática de pagamento. Além da inclusão, muitas vezes o BNPL não cobra juros do cliente, permitindo que seja uma operação financeira com excelente custo. Para os credores, utilizar o mecanismo muitas vezes também é mais econômico. A venda via cartão de crédito implica em cobrança de tarifas de múltiplos intermediários”, diz Valquíria.

Carolina Rezemini concorda e  acrescenta que uma interação pontual via BNPL pode ser o caminho para relacionamentos mais duradouros entre consumidores e marcas. “Ser um bom pagador de um crediário digital em uma loja pode abrir portas para ter um cartão de crédito com ela, por exemplo.” 

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Entre os riscos, ela cita o acúmulo de dívidas e diz que o consumidor precisa avaliar se a obrigação financeira assumida com o BNPL, ao se acumular com outras contas, não vai comprometer demais seu fluxo orçamentário futuro, para evitar um maior endividamento, especialmente entre os mais jovens.

Carolina acrescenta ainda que, do ponto de vista do credor, a vantagem é ampliar o universo de potenciais clientes. “O risco associado a esses novos consumidores precisa ser avaliado, por isso as ferramentas e dados utilizados para o meio digital também evoluíram com os produtos, de maneira a viabilizar a entrada desse novo perfil sem que haja aumento da inadimplência.”

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