Caroline Humphreys: nasce um talento para desvendar tributação e finanças

Ela acabou de se formar em Direito, mas já mostrou a que veio nas redes sociais quando o assunto é investimento e tributação com foco sempre no público feminino
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Carol Humphreys é recém-formada em Direito: “Eu gosto de escrever com uma linguagem bem simples”. (Foto: Divulgação)

Caroline Humphreys escolheu fazer Direito, e sempre se viu envolvida em assuntos relacionados a dinheiro, tributação e, por fim, mercado financeiro. Mesmo antes de formada, transformou a vocação em prestação de serviço gratuita via redes sociais. E tudo isso com o compromisso de ajudar outras mulheres!

Ela se recusa a propagar o juridiquês e deixa tudo muito fácil nas explicações de assuntos que, em geral, tiram o sono de muita gente. Além da simplicidade e da clareza na linguagem, ela foi além e trouxe um toque de irreverência para deixar a informação muito mais leve.

É com grande satisfação que a Elas Que Lucrem contará com esta colaboração tão valiosa entre suas colunistas.

Carol Humphreys estreia dia 17 de fevereiro para falar sobre tributação voltada aos investimentos quinzenalmente. Um assunto espinhoso, mas que se torna suave com a explicação de um talento que está apenas começando seu caminho profissional.

Acompanhe a entrevista à EQL.

Elas Que Lucrem: Qual vai ser a proposta para o público feminino nesta coluna que estreia na EQL?

Caroline Humphreys: Eu gosto muito de escrever para o público que está iniciando e tem um assunto que elas deixam um pouquinho de lado e só querem saber quando está ali ou quando deu algum problema. Esse assunto é a tributação. As pessoas acham que é complicado, que declarar o imposto de renda é complicado. Quando você vai fazer um investimento, o que vai incidir de imposto, você tem que colocar no cálculo para saber se vale a pena ou não. As pessoas não sabem ou se esquecem disso. Então, eu propus trazer isso de forma simplificada. Eu gosto de escrever com uma linguagem bem simples. No grupo onde eu comecei a escrever, faço várias analogias com coisas cotidianas para ficar muito mais fácil de compreender de modo que as pessoas não se esqueçam desse assunto.

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EQL: Essa época do ano é conturbada. A gente tem tantas dúvidas para fazer a declaração. Quais são as principais dúvidas?

CH: Se tem que declarar imposto de renda e quando tem que declarar. Às vezes, elas acham que se você comprou só R$ 10 reais, uma fraçãozinha de ação, não precisa declarar, mas precisa, sim. E outras que não são dúvidas, mas coisas que as pessoas desconhecem e precisam colocar na ponta do lápis ao fazer a descrição de investimentos. Precisa contar, por exemplo, o IOF – Imposto sobre operações financeiras – dos 30 primeiros dias de algum investimento. De repente, você quer trocar [o dinheiro] de um lugar para o outro porque está mais rentável, mais atrativo. Só que, quando você desconta tudo nos 30 primeiros dias mais o imposto de renda, essa continha final não vale a pena. Acaba ficando igual ou você pensa que vai ter um lucro porque está com o CDB rendendo mais ou 180% do CDI. Fazendo a conta final, você pode estar tendo prejuízo. Então, a proposta é esta: além de esclarecer as dúvidas que elas [as leitoras] já têm, trazer assuntos que elas nem imaginam.

EQL: E tem investimentos que nem precisam ser declarados. São isentos.

CH: Até certo limite, existe algum tipo de isenção. Há uma série de coisas que têm que ser analisadas. Às vezes, você tem a ação que vai precisar, independentemente do valor, e tem um CDB que não atingiu o que precisa de acordo com a Receita Federal, então, você não precisa declarar. Vai ter que analisar aquilo em um aspecto macro, geral.

Sobre tributação de insumos menstruais: “O imposto existe para arrecadar, mas tem uma função também, a extrafiscal, de aumento ou redução de certas alíquotas para que tenha impacto em determinado produto”. (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Conta um pouco sobre sua formação, sua trajetória, e o que te colocou neste caminho.

CH: Eu colei grau ontem. Acabei que me graduar online. Vou entrar com o pedido de inscrição na Ordem dos Advogados assim que liberarem a documentação. Então, a minha formação é jurídica. Só que, no meio jurídico, eu percebi que sempre estava onde o assunto se relacionava com dinheiro. E não só dinheiro do ponto de vista particular. Eu gosto de falar sobre dinheiro em todos os aspectos. Seja orçamento público para entender como aquilo funciona, orçamento familiar e pessoal, o dinheiro da empresa. Comecei a estudar tudo o que envolvia dinheiro dos setores público e privado. O público feminino veio, justamente, por esta questão de bens patrimoniais. Em conversa com uma outra advogada que atua só com mulheres, surgiram os assuntos como regime de bens, de que maneira a mulher sai de um casamento se ele acabar. Estes são temas ainda desconhecidos. Mesmo estudando Direito e na parte cível, eu via alguma coisa de dinheiro e queria falar e explicar do jeito mais simples possível. Dediquei meus estágios às áreas tributárias e de investimentos. Por essa razão, eu entendo um pouco de tributos no universo de investimentos. Para a gente, no dia-a-dia, flui muito bem porque está no nosso cotidiano. Mas, para quem quer aprender sobre investimentos, pode ter algum tipo de empecilho. O meu objetivo é esclarecer da melhor forma possível o que é uma alíquota, uma base de cálculo, por que precisa declarar, que declarar não é o mesmo que pagar, e essas dúvidas ‘basiquinhas’.

EQL: Isso é só o começo. Que planos você tem para sua carreira?

CH: Atuar com áreas que conversem com o Mercado Financeiro e o Direito e continuar escrevendo para mulheres sobre assuntos financeiros e tudo o que envolver assuntos femininos com certas nuances financeiras. Outro assunto que me chamou a atenção é a questão da extrafiscalidade. O imposto existe para arrecadar, mas tem uma função também, a extrafiscal, de aumento ou redução de certas alíquotas para que tenha impacto em determinado produto. É uma política tributária. Do ponto de vista feminino, trazendo aqui para mulheres e pessoas que menstruam, o tema pode ter relação com os absorventes, por exemplo. Como você consegue diminuir certas cargas tributárias, quais os estados que já fizeram isso para tornar o suprimento menstrual mais acessível. Insumo que não é apenas o absorvente. Um remédio também é suprimento. No meu TCC, eu trabalhei justamente nisso.  Eu pesquisei o trabalho de algumas advogadas que já falam sobre o assunto, procuradoras que, justamente, querem ver como é possível arrumar essa anomalia do ponto de vista jurídico.

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A gente pensa: ‘Ah, ela só deixa de ir à escola alguns dias’, como se isso fosse pouco. Tem mulheres e pessoas que menstruam que não vão mais à escola depois do período menstrual. Você começa a analisar o impacto do ponto de vista social, parece simples, mas tem diversas consequências para as mulheres.

EQL: É possível declarar este tipo de despesa? Pode ser contada como despesa de saúde?

CH: Infelizmente, não. Esta questão para ter um impacto direto do ponto de vista de declaração ainda não é possível, pelo menos, na atualidade. Por isso, a gente defende que, via tributação, seria mais um alívio imediato no bolso. A gente pode ver que o universo tributário é bem abrangente, pode impactar os nossos investimentos para fazer boas escolhas financeiras, boas escolhas tributárias para aquele investimento ser mais rentável, e também as nossas obrigações tributárias para depois não ter qualquer tipo de problema com a Receita Federal. Você prevenir e fazer tudo certinho é muito melhor do que a dor de cabeça de ganhar uma multa e ter que ir até a Receita e entender tudo aquilo. Às vezes, a linguagem não é tão acessível, você vai ter que contratar um advogado e resolver a situação. Enfim, estar em dia com as nossas obrigações fiscais que é a parte relacionada diretamente com tributação será o foco em minha coluna.

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EQL: Como estão as discussões sobre o alívio da carga tributária sobre os insumos menstruais?

CH: A questão principal nesta tributação vai mais para o absorvente e o coletor menstrual. Discute-se bastante a questão do ICMS incidente e como é possível tirá-lo. É necessário um convênio com o estado e toda uma coisa juridicamente preparada. A gente tem exemplos de estados que já tiraram esse ICMS e a ideia é tentar trazer para São Paulo e todo o Brasil.

EQL: Você tem um diálogo muito bacana pelas redes sociais, via Instagram, com o seu público, embora tenha uma formação em Direito. A faculdade traz o conteúdo com uma linguagem formal, mas você encontrou uma maneira muito simples e irreverente de se comunicar com o público. Conta um pouco pra gente.

CH: A linguagem tem esse poder de aproximar ou fazer com que a pessoa saia correndo de você. Se todo aquele assunto vem de maneira bem rebuscada, com jargão de Economia, ou então com aspectos bem jurídicos, a pessoa que não é daquele meio vai pensar: ‘Só quem tem formação em Economia ou Direito vai entender isso. Eu tô fora’. Ou aquela coisa de ‘Só investe quem tem muito dinheiro’. E a minha ideia é pegar toda aquela linguagem e trazer para a linguagem oral. Toda vez que estou escrevendo, elas me leem como se eu estivesse conversando. É isso que eu procuro trazer. Eu já cheguei a desenhar de verdade. Me disseram que não estavam entendendo um assunto no grupo e desenhei a explicação. Sem problema nenhum. Tem funcionado bastante.

Caroline Humphreys: “Para a gente, no dia-a-dia, flui muito bem porque está no nosso cotidiano. Mas, para quem quer aprender sobre investimentos, pode ter algum tipo de empecilho. O meu objetivo é esclarecer da melhor forma possível”. (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Há um esforço dos novos advogados na busca pela simplicidade na linguagem. Como você vê o diálogo nas esferas superiores, as cortes, os tribunais. A linguagem de juízes em sentenças, do próprio Supremo Tribunal Federal, ainda é muito difícil para a população?

CH: Eu considero porque é difícil até mesmo para a gente do Direito entender algumas palavras, algumas sentenças. É claro que depois você vai se acostumando. Até mesmo para nós profissionais, certas palavras e usos são uma linguagem bem erudita. Questão do estilo da escrita. Tem sentença com linguagem mais acessível. Então, eu considero ainda assim difícil para o público que não tem essa formação jurídica, mas também vejo que tem peças processuais que estão mais objetivas, mais simples, afastando aquele juridiquês inacessível.

EQL: Como as pessoas podem tirar dúvidas com você ou enviá-las para que você possa respondê-las por meio de sua coluna ou redes sociais? Quais são seus canais de comunicação?

CH: Eu tenho meu Instagram, o @investindocomelas. Eu sou superacessível em qualquer uma das minhas redes. As pessoas podem entrar em contato comigo. Às vezes, elas chegam dizendo: ‘Carol, você me desculpe, mas eu não entendi isso’. Eu respondo que não tem que pedir desculpas. É só escrever ali no Instagram. A gente tem o grupo do Facebook, ‘O Investimento das Minas’, também para o público feminino. Como lá é um ambiente de discussão, elas se sentem mais confortáveis em se manifestar em um ambiente só com mulheres para evitar julgamentos. Se elas quiserem tirar dúvidas que não sejam diretamente comigo, podem participar lá com as garotas porque o grupo se ajuda muito.

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