Maria Fernanda Violatti, a economista e engenheira civil que conquistou o mercado FII

Maria Fernanda Violatti, a economista e engenheira civil que conquistou o mercado FII
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Maria Fernanda Violatti: estudou na França, já trabalhou em canteiro de obras e, agora, se dedica ao mercado de Fundos Imobiliários (Foto: Divulgação)

Ela tem doçura, mas postura firme. Foi com este comportamento, além de muito estudo e dedicação ao trabalho, que Maria Fernanda Violatti alcançou a posição de uma das analistas mais respeitadas do mercado de Fundos Imobiliários.

A paixão pelo segmento FII, como é conhecido, surgiu por influência do pai, engenheiro civil. Esta vocação falou tão alto que, após terminar a faculdade de Economia, Maria Fernanda deu início aos estudos de Engenharia.

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As salas de aulas onde, geralmente, há mais meninos que meninas não foram o único ambiente de desafios que ela iria encarar. Na história de Maria Fernanda, teve também canteiro de obras e, mais adiante, o mercado financeiro.

São constantes reuniões com predominância masculina e, mesmo assim, feminilidade e presença marcantes não lhe faltam. Tanto que renderam a ela o posto de apresentadora de programa sobre Fundos Imobiliários.

Maria Fernanda quer mais. Crescer, aprender mais e, em 2022, concretizar um grande plano pessoal.

Acompanhe os melhores momentos da entrevista exclusiva que a Maria Fernanda Violatti deu à EQL.

Elas Que Lucrem: Sua formação muito rica nas áreas de Economia e mercado imobiliário, com formação no exterior e aqui no Brasil, mostra dedicação ao segmento que você escolheu. Conta um pouco pra gente.

Maria Fernanda Violatti: É uma dedicação grande. Eu sou economista e, primeiro, eu fiz a faculdade de Economia. Parte desses estudos acabei fazendo na França. E, quando eu estava lá, o campus da universidade acabou me levando à turma de Engenharia. Naquele momento, eu me apaixonei pela Engenharia. Depois de formada, voltei para o Brasil e resolvi fazer Engenharia Civil. E, desde o final da faculdade de Economia, já havia direcionado meus estudos para o mercado imobiliário para entender a demanda habitacional naquele momento, o setor da construção civil e como ele ia se desenvolver, quais eram as perspectivas, as projeções de crescimento naquele momento. Então, me formei também em Engenharia Civil. Depois, fiz um MBA em Real Estate – negócios em mercado imobiliário – na Poli-USP. Dediquei bastante tempo dedicado a entender a dinâmica do mercado imobiliário, principalmente do mercado comercial. Queria ver o comportamento desses ativos em relação ao ciclo imobiliário, o que é superimportante. Aí, a gente vai se especializando e, hoje, estou aqui trabalhando no mercado financeiro, unindo as duas faculdades que fiz e toda a experiência no mercado imobiliário, trabalhando com os Fundos Imobiliários pelos quais eu sou apenas apaixonada. Eu amo estar neste mercado, eu amo estudar o mercado imobiliário que, desde sempre, já me intrigava. Hoje, não me vejo longe disso.

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EQL: Houve algo decisivo na sua infância ou adolescência para suas escolhas?

MFV: Eu sou filha de um engenheiro civil. Meus pais nunca me orientaram com ‘Faça isso, faça aquilo’. Sempre me deixaram superaberta, mas a vivência acaba que te leva a tomar esse caminho. Olhar com admiração para nossos pais, eu acho que acaba despertando, de certo modo, o interesse pelo estudo, pelo trabalho e toda a experiência deles. Isso me remeteu, de algum modo, a ter essa escolha de profissão e, depois, cursar uma nova faculdade. Querendo ou não, quando eu estava me formando e os meus colegas ingressando no mercado de trabalho, eu resolvi dar um passo atrás e fazer outra faculdade. Eu também trabalhei ao mesmo tempo, mas não era um trabalho integral. Foi um desafio naquele momento também entender o caminho que eu queria traçar.

Com os pais Luiz Fernando e Mariângela Violatti: inspiração para estudar e trabalhar no mercado imobiliário (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Você tem um bom tempo de sua carreira em uma grande incorporadora da construção civil. Como foi esta experiência?

MFV: Uma grande incorporadora, uma das maiores do Brasil por um bom tempo. Eu comecei em obra. Como engenheira civil, comecei como estagiária de obra num mercado em que, naturalmente, a força, a mão de obra é muito mais associada aos homens. Então, na própria composição da obra como um todo, existem menos mulheres. Naturalmente, a gente tem que provar que tem conhecimento, tem que conquistar esse espaço que não é tão simples e óbvio quanto parece ser, mas é algo de que me orgulho muito. Algo que me fez como profissional hoje e me trouxe muita resiliência. Saber lidar com diversas situações, inclusive, entender que eu tenho o meu valor. Que eu fui conquistando cada etapa. Cada conquista teve um valor muito grande para mim. Cada cargo alcançado, cada evolução parece até que tem um valor a mais porque a gente se prova. Não somente pelo fato de você ser bom profissional, mas, o tempo todo, ter que trazer ali a prova de que é capaz.

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EQL: Você linda desse jeito em um canteiro de obras. Já houve alguma situação difícil?

MFV:  Vou te falar: eu acho que a postura também determina muito como você estabelece esse tratamento. Eu sempre fui muito séria e de uma postura muito firme. Então, eu não tive nenhum problema, graças a Deus. Nunca passei por uma situação constrangedora. Muito pelo contrário. Existe uma competição ali, principalmente, quando você é estagiária. Todo mundo querendo roubar a equipe do outro. E todos os meus serviços estavam sempre em dia. Eu acho que o diálogo e como você se posiciona também diz muito. Claro que você pode ser uma pessoa com uma postura firme e, mesmo assim, passar por alguma situação que não seja tão agradável. Mas, eu não passei por nada nesse sentido. Eu acho que isso acaba abalando e, de certo modo, leva a não acreditarmos em nós mesmas. E entra até aquela crise ‘Será que eu sou mesmo capaz?’ e entra aqui uma questão relacionada à beleza e ao estereotipo. Mas não. Acho que, ali, sempre fui muito bem respeitada.

No canteiro de obras: “Eu sempre fui muito séria e de uma postura muito firme. Então, eu não tive nenhum problema, graças a Deus” (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Do canteiro de obras para o mercado financeiro. Como foi essa transição?

MFV: Mulheres. A gente se prova não somente num canteiro de obras, não é? Eu acho que, diariamente, a gente conquista pedacinhos, espaços, e tem desafios em que temos que provar nosso valor. Sem dúvida alguma, eu acredito que os desafios só mudaram. Ali, talvez, na formatação e dinâmica de uma obra, você tem que ter uma postura muito firme e não dar tanta liberdade, o que não deixa de ser verdade em um ambiente de mercado financeiro. Os desafios vão mudando mas, ao mesmo tempo, o que eu acredito é que nós estamos em ascensão. Somos mulheres que, cada vez mais, temos mostrado o nosso espaço e o nosso valor e não acredito que gênero seja diferencial em relação à capacidade. A gente tem que tirar isso da mente. Não ter esses entraves de pensamentos.

EQL: Como é estar em um segmento como o de Fundos Imobiliários com tão poucas mulheres?

MFV: A maior parte das reuniões em que participo, sou quase que única, exclusiva ali. Em muitas delas. Mas o intuito é que a gente mude isso no mercado. Até mesmo dentro da própria XP, eu sou super feliz que nós mulheres no time de distribuição e na mesa de operações exclusivas de Fundos Imobiliários. Então, é muito orgulho ter um time composto por mulheres, poder trabalhar com a diversidade, não só no âmbito do sexo feminino. Mas o que eu acho, além disso, é o que realmente exige uma reflexão. É um mercado que ainda tem a maior parte formada por homens e, dificilmente, a gente vê gestoras mulheres. Então, é com muito orgulho que eu vejo algumas dessas gestoras sendo aclamadas e tendo sucesso em seus fundos. Acho que é uma reflexão sim para o mercado, na maior parte desses congressos, a presença ainda é, na maior parte, masculina. Eu diria até que, às vezes, a liderança, na maior parte, é masculina. Estar nesses ambientes e trazer novos pensamentos e novos posicionamentos em uma visão feminina me traz muito orgulho.

Maria Fernanda Violatti como apresentadora de programa sobre Fundos Imobiliários (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Você é apresentadora de um programa sobre FIIs – Fundos de Investimentos Imobiliários. Como é esta experiência?

MFV: Uma experiência nova. Sou economista, engenheira civil. Apresentar um programa traz desafios diferentes. Estar à frente da câmera… eu diria que, em frente ao computador neste momento de transição de modelo para o híbrido. Eventualmente, tem câmeras reais ou somente pelo computador. Mas é um desafio falar em público, sem dúvida, exige da gente ter cautela com as palavras, ter cautela até mesmo com o modo de posicionamento em relação à própria indústria dos Fundos Imobiliários.

Com Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos: “Hoje estou muito feliz aqui na XP onde tenho oportunidades e desafios” (Foto: Arquivo Pessoal)

Luciene Miranda: Pelo que já observei sobre o público do mercado de FIIs, é muito antenado, muito consciente, ávido por novas informações, mas também muito sincero. E fala mesmo! É muito participativo. Como é a interação com esse público?

MFV: Olha, eu vou te falar: os Fundos Imobiliários têm uma característica justamente do que você falou. A maior composição deles, eu diria, é de pessoas físicas que investem. Hoje, temos quase 1,5 milhão de investidores. E, em torno de 70%, são estas pessoas que estão ali. Tem investidores institucionais, mas essas pessoas têm muita proximidade com o produto. O brasileiro, por si só, já nasce sabendo que vive em um país com pressões inflacionárias históricas. Vira e mexe, a gente entra em um ano com pressão inflacionária. E aí, o imóvel naturalmente é aquela fonte de receita que protege contra a inflação. Então, o brasileiro tem convicção disso. É quase um clubismo de futebol porque um vai e defende com unhas e dentes. Se você fala alguma coisa diferente do que ele quer ou do que ele acredita, você tem que tomar cuidado. A internet é, eventualmente, um mundo sem lei. E como se trata de um instrumento financeiro, um ativo de investimento pelo qual as pessoas têm tanta paixão, eu acho que leva a uma identificação, que acaba gerando o que, eu não diria fanatismo, mas um amor muito grande por parte de algumas pessoas.

EQL: É um momento conturbado da economia. Tá todo mundo preocupado, no caso, os investidores, os cotistas.

MFV: Sem dúvida. Hoje, no cenário atual, a gente está com uma pressão inflacionária latente desde meados de 2020, elevações das taxas de juros e até mesmo as notícias do ano passado relacionadas a uma proposta da reforma tributária. Questões políticas ou uma fala que saiu errada, acabam trazendo volatilidade ao mercado. O ambiente foi desafiador em 2021. E este, um ano eleitoral, talvez seja de incertezas também sobre como se dará o comportamento da taxa de juros. Será que essas elevações serão suficientes? Até quando terão que elevar a taxa para efetivamente segurar um pouco dessa inflação? Trazemos algumas incertezas, claro, mas nosso time de economia tem algumas perspectivas bem assertivas. Foram muito bem nos últimos tempos. Mas, o que eu tenho a dizer é que, sem dúvida alguma, o cenário requer muita cautela pelo investidor. A gente tem que ficar bem atento e fazer escolhas mais assertivas no sentido de não entender que tudo com desconto é uma oportunidade. Há fundos que estão descontados, mas que perderam seus fundamentos. Então, olhar muito bem o que está dentro deste portfólio dos fundos é fundamental para entender a qualidade e, inclusive, traçar uma perspectiva no sentido de saber o potencial e o upside do fundo, até no potencial de renda que esse fundo é capaz de gerar para entender se é uma oportunidade ou não.

EQL: O mercado financeiro exige muita dedicação, muitas horas, isso é uma realidade. Gostaria de saber de você como é conciliar esta doação para a profissão com a vida pessoal, como você lida com isso? É possível um equilíbrio?

MFV: Eu concordo com você que a gente tem uma dedicação muito grande ao nosso trabalho, inclusive, a gente tá sujeito a uma notícia às 11 horas da noite que tenha impacto significativo no mercado. A gente tem que mapear isso, entre outras coisas. No dia-a-dia também, precisamos ser bem cautelosos com nosso trabalho, além de analítico, olhar os detalhes nos exige também toda essa parte de ter uma boa interlocução com o investidor, trazer clareza e explicar de uma maneira que ele entenda, principalmente, os Fundos Imobiliários que são orientados ao varejo, para pessoa física. Então, a linguagem é muito importante e trazer isso ao investidor de maneira clara faz muita diferença. E aí, voltando ao ponto, a gente precisa de muita dedicação para tudo isso. Entender o que está acontecendo, mapear, traçar, fazer valuation – avaliação de ativos ou empresas – tudo isso gasta muito tempo. Hoje, equilibrar a vida pessoal e a vida de trabalho é um desafio. Eu acho que, nos últimos tempos, particularmente, eu tenho tido uma vocação muito grande ao meu trabalho e, para mim, tem hora que é relativamente difícil entender o que é trabalho porque eu realmente sou apaixonada pelos Fundos Imobiliários, pelo mercado imobiliário. Estou traçando isso há bastante tempo, então, eu amo estudar isso e, às vezes, é até difícil separar isso porque, até a leitura de lazer está relacionada ao trabalho. Mas acho que, de modo geral, a gente consegue equilibrar bem e ir se organizando. Às vezes, um dia é um pouco mais puxado e, no outro dia, a gente compensa. E vai organizando a vida aos poucos.

Maria Fernanda Violatti: “No aspecto profissional, eu quero sempre ser uma melhor profissional. Eu sempre busco estudar mais, conhecer mais, estar me desenvolvendo” (Foto: Arquivo Pessoal)

EQL: Como é lidar com a família e o trabalho. Conta um pouco pra gente da sua intimidade.

MFV: Claro. Sou de Uberlândia, Minas Gerais. Minha família mora lá e eu moro em São Paulo. Então, eu tenho um desafio a mais que é estar presente com eles, o que também exige o deslocamento. Seja eu ir até eles ou eles virem até mim. Mas, durante a pandemia, eu tive um benefício muito grande. Vou te falar que eu até me beneficiei neste sentido. A gente tem o XP Anywhere e eu tenho uma grande vantagem que é trabalhar de qualquer lugar. Eu posso pegar uma semana e ficar com eles, trabalhar da minha cidade Uberlândia ao lado deles. Então, isso traz bastante conforto também. Eu acho que esse foi um dos grandes benefícios que ficaram e ficarão dado este contexto de pandemia.

EQL: Quais são seus planos para 2022 nos aspectos pessoal e profissional?

MFV: Olha só. Muito bom. Uma bela reflexão. Eu te diria que, no aspecto profissional, eu quero sempre ser uma melhor profissional. Eu sempre busco estudar mais, conhecer mais, estar me desenvolvendo. Mente quem não está almejando crescer porque eu almejo. Ou, então, essa pessoa não está muito motivada. Eu, claro, quero me desenvolver, crescer e dar novos passos na minha carreira e, sem dúvida alguma, hoje estou muito feliz aqui na XP onde tenho oportunidades e desafios. Acho que essa empresa é muito meritocrática e, sem dúvida alguma, eu me sinto muito incentivada dia-a-dia a dar o meu melhor porque eu tenho certeza de que uma resposta vem.

Agora, no âmbito pessoal, essa é muito boa. Eu tenho algumas aqui, tá? Entre elas, eu posso contar que estou planejando casamento. Acho que esse é um ano que, nesse sentido, dá até um frio na barriga. São novas decisões e novos passos que estão para acontecer. 

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