Como não deixar problemas financeiros prejudicarem seu desempenho no trabalho – e como as empresas podem auxiliar nesse processo

Simone Sgarbi, especialista em educação financeira, aponta a organização das finanças e até exercícios físicos como fundamentais para driblar o estresse causado pelo endividamento
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Como não deixar problemas financeiros prejudicarem seu desempenho no trabalho - e como as empresas podem auxiliar nesse processo
Problemas financeiros, como endividamento, podem causar estresse, o que influencia na performance no trabalho (Foto: Envato Elements)

Se tem um assunto que gera dor de cabeça é problema financeiro. Uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), em 2019, apontou que, para 78% dos entrevistados, a incerteza financeira é a principal causa de ansiedade e preocupação. E se esse número já era expressivo em um ano pré-pandêmico, imagine agora, que o país enfrenta um recorde no número de endividados. Em dezembro de 2021, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 76,3% do total de famílias brasileiras estão endividadas.

Não conseguir pagar as contas é algo que acaba se transformando numa bola de neve. A preocupação e a ansiedade geradas por essa condição acabam, inevitavelmente, afetando o desempenho no trabalho. Uma pesquisa da Society for Human Resources Management (SHRM) revela que 83% dos profissionais de recursos humanos afirmaram que o estresse financeiro prejudica a performance dos colaboradores. 

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“Pessoas com problemas financeiros ficam mais desatentas, mais irritadas e menos produtivas, o que, lá na ponta, afeta o lucro da empresa. Por mais que a pessoa queira se dedicar ao trabalho, parece haver um fantasma a assombrando”, explica Simone Sgarbi, especialista em educação financeira e membro da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar).

Segundo ela, os problemas financeiros começam quando se vive um padrão de vida fora da própria realidade – e ela fala com propriedade, afinal, é uma ex-endividada. “Uma das armadilhas é viver exatamente no limite do que se ganha, o que dá uma sensação de falso equilíbrio, já que, no primeiro imprevisto, as dívidas começam a surgir. E, se existe uma certeza nessa vida, é que os imprevistos acontecem”, diz.

Para a especialista, ao nos depararmos com problemas financeiros, três reações são naturais: lutar, fugir ou congelar. Eles podem gerar raiva, negação ou simplesmente uma fuga da fonte do problema, e cada uma dessas reações acaba causando mais estresse. “Para evitar isso, apenas reconheça que está emocionalmente abalado e que decisões financeiras tomadas nessas condições quase sempre não são boas”, explica a especialista. 

Tudo começa – e termina – na organização

Na realidade, a equação é simples: só podemos controlar aquilo que conhecemos. Segundo Simone, para evitar problemas financeiros é necessário encarar de frente o nosso orçamento. “É anotar tudo o que entra e sai, na ponta do lápis. Mas não adianta ser apenas um anotador de gastos, é fundamental refletir sobre o que foi encontrado ali para poder tomar ações efetivas em busca de um orçamento mais equilibrado.”

Assim, para a especialista, viver um degrau abaixo daquilo que se ganha é a atitude mais saudável que se pode ter. “Mexa no seu orçamento até conseguir separar 70% para viver o hoje e 30% para o futuro. Uma dica que pode ajudar é dividir os gastos em categorias: moradia, alimentação, transporte, educação, lazer, saúde e assim por diante. Existem até aplicativos que podem auxiliar”, conta Simone. 

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Além disso, é fundamental, no caso do endividado, secar a fonte das dívidas. A especialista explica que, após fazer um orçamento detalhado, é possível descobrir exatamente o quanto se gasta em cada categoria da sua vida e quanto do seu fluxo de caixa está indo para o pagamento de dívidas. Na posse dessa informação, é possível tomar três atitudes: negociar as dívidas, diminuir o padrão de vida e ganhar mais.

“Para ter sucesso na negociação das dívidas é fundamental ter um conhecimento real do que levou a pessoa até essa situação. Isso exige uma memória de cálculo do credor”, explica a especialista. Assim, é necessário saber o valor inicial da dívida, o quanto já foi pago, o saldo devedor e, principalmente, qual a taxa efetiva de juros.

“Na hora de reduzir o padrão de vida, é importante dar um passo para trás para ganhar impulso para dar vários à frente”, diz Simone. Isso serve para avaliar uma escola mais cara, um carro maior, todos os gastos que geram outros gastos. “Ao reduzir o padrão momentaneamente, ganha-se poder de negociação, já que é possível fazer propostas melhores de pagamento.”

Mas, caso não queira ou não possa reduzir o padrão de vida para acabar com as dívidas, uma opção é buscar uma renda extra. Para Simone, tudo vale: desde fazer bolos, tortas, dar aula particular e responder pesquisas até criar produtos digitais. Tudo isso acaba aliviando o estresse e ansiedade da pessoa endividada.

Apesar do que dizem, dinheiro não é sinônimo de felicidade

Simone explica que o estresse libera hormônios como adrenalina e cortisol, que levam a pessoa a um estado de alerta constante. “Para combater essa reação química é preciso ativar ‘hormônios do bem’, como serotonina, endorfina, dopamina e ocitocina, conhecidos como hormônios da felicidade. E, para acioná-los, não precisamos de dinheiro”, ressalta a especialista. 

Pequenas atitudes no dia a dia podem fazer a diferença. Tomar sol e meditar regularmente, por exemplo, estimulam a produção de serotonina. Já para ativar a endorfina, Simone aponta que exercícios físicos e alimentação mais saudável -sem os ultraprocessados – são um combo perfeito. 

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“Já a ocitocina, o hormônio do amor, pode ser acionada ao abraçar as pessoas que você gosta, estar na companhia de amigos queridos e rir com eles. Por outro lado,  a dopamina é liberada quando se atinge um objetivo. Assim, alcançar pequenas metas no dia a dia tem um poder transformador. E isso pode ser atingido lendo sete páginas de um livro, caminhando por apenas cinco minutos, economizando R$ 10 por semana e assim por diante.”

E como as empresas entram nisso?

Toda moeda possui dois lados. Na ‘cara’, pode-se dizer que o colaborador é responsável por suas finanças. Na ‘coroa’, se uma empresa precisa de um funcionário que dê resultados, é importante desenvolver um programa de bem-estar financeiro. “Finanças organizadas são imprescindíveis para que o profissional tenha qualidade de vida e segurança, inclusive no trabalho”, diz Simone. 

Para isso, a especialista aponta que um bom programa de bem-estar financeiro começa com a conscientização de que o problema existe. Depois disso, ele pode compreender quatro estágios, conforme a necessidade da empresa: 

  • Incompetência inconsciente

Nessa etapa, segundo Simone, o funcionário ainda precisa despertar para o problema e entender que ele tem solução. Para isso, a especialista aponta que o departamento de recursos humanos pode, por exemplo, recorrer a uma palestra que aborda o tema de forma leve e mostre que, independentemente da situação que o funcionário esteja passando, sempre é tempo de se reorganizar financeiramente. “As pessoas sentem vergonha ao expor para empresa que estão com problemas financeiros e essa abordagem tende a funcionar melhor em um primeiro momento”, conta. 

  • Incompetência consciente

Já nessa fase, o funcionário está ciente de que precisa de ajuda e que a empresa está disposta a ajudá-lo. “Para dar continuidade ao processo, a companhia pode criar um programa de educação financeira com cursos e dinâmicas, que ensine desde técnicas de organização e planejamento de metas até noções sobre o mundo dos investimentos”, indica a especialista. 

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  • Competência consciente

“Nesta etapa, o colaborador já entende as ferramentas que têm à disposição para atingir o bem-estar financeiro e está pronto para fazer uso delas”, diz Simone. Nesse caso, se a companhia quiser ser mais cirúrgica, é o momento de individualizar o atendimento, disponibilizando ao colaborador uma consulta com um planejador financeiro terceirizado e garantindo o sigilo total do funcionário. 

  • Competência inconsciente

Neste ponto, o colaborador já incluiu os novos hábitos financeiros saudáveis em sua rotina, já praticou a nova habilidade adquirida e não tem mais dificuldade em administrar suas finanças, podendo assim se dedicar à empresa como ele e o empregador esperam. “A consequência disso é o ganha-ganha: funcionários com bem-estar financeiro faltam menos ao trabalho, são mais focados, mais motivados, menos estressados, mais produtivos e mais felizes”, conclui a especialista.

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