Como se prevenir do impacto financeiro que um diagnóstico de câncer causa na vida das mulheres 

Tratamentos exigem, em boa parte dos casos, afastamento do trabalho
JOB_03_REDES_SOCIAIS_EQL_AVATARES_QUADRADOS_PERFIL_v1-02
Se diagnosticado cedo, o câncer de mama tem 95% de chance de cura (Foto: Anna Tarazevich/Pexels)

Receber um diagnóstico de câncer é, provavelmente, uma das notícias mais difíceis de ouvir na vida. A preocupação com a existência de um futuro, com a família e uma série de outras dúvidas são inevitáveis. Além do impacto emocional e físico, a doença traz consequências para a vida financeira, que é diretamente afetada. 

Em média, os tratamentos de câncer duram de seis meses a um ano e, graças à tecnologia, relatos de sucesso têm sido cada vez mais comuns. No caso do câncer de mama, por exemplo, um dos mais comuns entre as mulheres, a descoberta em estágio inicial aumenta as chances de cura em 95%. Ou seja, existe realmente esperança de que, após o diagnóstico e o tratamento, haverá um futuro.

Mas não há como negar o impacto na vida financeira: são cerca de 12 meses de ausência do trabalho (ou de atuação intermitente). No caso das profissionais que atuam sob o regime de contratação CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), ou seja, que são contribuintes do INSS, ainda existe a possibilidade de afastamento e recebimento de um auxílio-doença pela Caixa Econômica Federal. Esse valor, no entanto, é quase sempre menor do que o salário pago pelo empregador. Já as mulheres que trabalham de maneira autônoma são, normalmente, as mais desprotegidas, já que grande parte delas não conta com esse tipo de imprevisto e, por consequência, não recebe nenhum tipo de benefício. 

A professora de artes e corretora de imóveis Kelly Pires atua sob ambos os regimes e vivenciou os dois lados da moeda. Diagnosticada com câncer de mama, precisou se afastar de suas atividades profissionais por três meses para realizar o tratamento. “Na corretora eu não recebi nada, afinal, se não trabalho, não recebo. Na escola eu continuei recebendo o meu salário regular e não precisei ‘ir para a Caixa’. Quando o tratamento acabou, voltei às atividades”, conta.

LEIA MAIS

Mas a falta da renda como corretora pesou no orçamento. “Eu fiquei só com o salário de professora e isso fez diferença.” Kelly conta que o marido, que era proprietário de um estacionamento, precisou se afastar e contratar um funcionário. “Eu precisava de ajuda para tudo, fiquei muito debilitada, não tinha forças para nada. O meu marido e as minhas filhas me ajudaram muito, principalmente porque estávamos no meio de uma pandemia e eu não podia contar com a ajuda das minhas irmãs naquele momento.”

Impacto financeiro para funcionárias CLT

As celetistas, ou seja, profissionais contratadas no regime CLT, têm direito ao benefício do INSS – desde que tenham contribuído pelo menos 12 meses antes do diagnóstico. 

“No caso desse tipo de contratação, algumas empresas podem tomar a decisão de realocar a funcionária para um cargo no qual ela consiga atuar mesmo durante o tratamento, que demande menos da profissional. Assim, o salário continua o mesmo e não há necessidade de usar o benefício  do Governo”, explica a advogada Danielle Jesus.

Caso a empresa opte por desligar a funcionária – pela lei, as companhias não são obrigadas a garantir a estabilidade de colaboradoras com câncer outras doenças, embora a legislação entenda esse tipo de dispensa como discriminatória -, o auxílio será pago pelo INSS e varia conforme o tempo de contribuição e o regime contratual. O benefício corresponde a 91% do salário atual, com um teto estabelecido de R$ 7.087,22. 

Existe, ainda, a possibilidade de afastamento, que ocorre dias após o diagnóstico. Nestes casos, a funcionária enferma também contará com o auxílio-doença por prazo indeterminado, desde que feitas as perícias periódicas pelo médico do INSS. “Ainda que exista essa ajuda financeira, ela nunca será equivalente ao salário corrente. Além disso, é preciso considerar os descontos”, explica a advogada.

Impacto financeiro para profissionais liberais e autônomas

“No caso das mulheres autônomas ou das profissionais liberais, como muitas médicas e dentistas com consultórios próprios, a receita vai zerar. O tratamento é extremamente invasivo, são sessões de quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos, até cirurgias”, explica Carla Moeko Matsuzawa, médica e assessora de investimento da Miura. 

Por isso, essas profissionais são as mais impactadas do ponto de vista financeiro. No entanto, existem alternativas para minimizar essa queda de arrecadação, como a contratação de um seguro de vida que disponibilize indenização em caso de diagnóstico de câncer ou doença grave ou de um seguro Diária de Incapacidade Temporária (DIT). 

“Nessa modalidade, a contratante paga um valor mensal, que geralmente cabe no bolso, e caso tenha algum problema de saúde tem direito a receber diárias durante o período em que estiver incapacitada”, explica a médica. O DIT tem prazo de 365 dias e o valor a ser pago sob o afastamento varia de acordo com a renda mensal do contratante e do que foi acordado previamente. 

Numa simulação rápida feita pela Elas Que Lucrem em uma tradicional prestadora de serviços de seguro, por R$ 375 mensais a segurada teria direito a R$ 50 mil em casos de invalidez por doença e diárias que, no mês, somariam R$ 7.500 (durante um ano). Para aumentar o rendimento mensal para R$ 10 mil, a contribuição subiria para R$ 448.  

Impacto na vida pessoal

Kelly Pires realizou a cirurgia para remoção da mama e segue em tratamento de hormonioterapia. “Eu retirei o tumor e, hoje, faço esse tratamento. Já foram dois anos e ainda faltam três. É a parte mais difícil.” 

A professora conta que, por conta das medicações, seu corpo funciona como o de uma pessoa de 80 anos, então ela precisa fazer exercícios físicos todos os dias para que as articulações não travem. Tudo isso além dos efeitos colaterais no longo prazo, como artrose, artrite e a falta de mobilidade. “Tem dias que eu não consigo nem pegar meu cobertor de noite, porque me falta força. Também não consigo ter a mesma vida de antes, realizar todas as atividades profissionais e pessoais. Não posso, por exemplo, arrumar a casa, fazer comida e trabalhar. É tudo muito difícil.” 

A retirada da mama deixou marcas e Kelly já realizou uma cirurgia reconstrutora. Ainda tem mais duas pela frente. “Eu tenho um bom plano de saúde que custeou todo o meu tratamento e as cirurgias. Mas todo o processo é muito doloroso e deixa cicatrizes intensas.”

Fique por dentro de todas as novidades da EQL

Assine a EQL News e tenha acesso à newsletter da mulher independente emocional e financeiramente

Baixe gratuitamente a Planilha de Gastos Conscientes

Conheça a plataforma de educação financeira e emocional EQL Educar. Assine já!

Compartilhar a matéria:

×