Entenda por que as mulheres conseguem melhor rentabilidade nos investimentos do que os homens

Visão de longo prazo, cautela, conservadorismo e investimentos sustentáveis são alguns dos pilares que colaboram para elas terem uma rentabilidade maior
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Apesar da desigualdade entre os gêneros, elas ganham mais dinheiro do que os homens em seus investimentos. (Foto: EnvatoElements)


Que as mulheres ainda são minoria no mercado financeiro não é nenhuma novidade. Atualmente, elas representam cerca de 32,6% dos investidores no Tesouro Direto e cerca de 29% da bolsa de valores brasileira, mesmo sendo a maioria da população do país (51,1%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar da desigualdade entre os gêneros, elas ganham mais dinheiro do que os homens em seus investimentos. Um estudo feito pelo grupo norte-americano Fidelity mostrou que as mulheres tendem a se sair melhor. No relatório “Women and Investing Study” de 2021, a companhia analisou 5,2 milhões de portfólios, entre janeiro de 2011 e dezembro de 2020, e constatou que elas tiveram retornos, em média, 0,4% maiores do que os dos homens.

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Para Lorna Kapusta, responsável pela área de engajamento do cliente e investidores da Fidelity, as mulheres investem mais consistentemente, não tentando “adivinhar” o melhor momento de entrar e sair de um papel, algo que os homens fazem com mais frequência.

Fernanda Della Monica, sócia e head comercial da 3A Investimentos, explica que as mulheres são mais cautelosas na tomada de decisão e não são tão imediatistas ao optar por um investimento. Elas planejam, pensam no futuro dos filhos e da família. “A grande maioria prefere um perfil um pouco mais conservador, mas isso não quer dizer que a mulher não assuma riscos. Eu, por exemplo, sou 100% renda variável, apesar de ser do mercado e isso favorecer a minha posição, mas também tenho amigas que gostam bastante deste tipo de investimento.”

A especialista acrescenta que muitos homens têm um maior senso de urgência em relação ao mercado financeiro. “Geralmente, quando eles aplicam na bolsa, querem ganhar muito rápido, ou, quando têm prejuízo, tomam decisões com base na emoção. A mulher consegue controlar um pouco melhor essa emoção, até porque toma menos riscos do que os homens nos portfólios.”

Nem melhor, nem pior – apenas diferente

A head de crédito privado da SulAmérica Investimentos, Daniela Gamboa, diz que a ideia de que o gênero influencia na definição de uma estratégia de investimentos leva em conta os desafios e as particularidades das mulheres, como o fato de elas receberem menores salários, mesmo vivendo por mais tempo, e abrirem mão de carreira para cuidar da família.

Ela lembra também que antes do debate de quem investe melhor ou pior é importante entender que elas investem de forma diferente. “Pesquisas mostram que o público feminino prioriza os investimentos que refletem seus valores e tenham contribuições positivas para a sociedade, mais do que os homens.”

Um estudo recente da Morgan Stanley identificou que 84% das mulheres declararam interesse em investir de forma sustentável, gerando mais do que só um bom retorno financeiro, enquanto este número entre os homens é de 67%. “Isso fortalece o entendimento de que há uma maior tendência entre as mulheres na busca por ativos ou emissores com maiores compromissos ambientais, sociais e de governança corporativa [da sigla ESG, em inglês].”

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Na SulAmérica Investimentos, por exemplo, o fundo Total ESG FIA, que só aplica em ações de empresas sustentáveis e doa 100% da taxa de administração para a ONG Vagalume, viu um aumento exponencial de mulheres no último ano. A presença feminina entre 2019 e 2020 aumentou em 11 vezes no produto. Hoje, elas movimentam 2,52% do total investido. Daniela diz que ainda é pouco, mas cita que em 2019 esse volume era de apenas 0,06%.

A mulher também é mais conservadora, preocupada com os riscos, tem mais paciência e visão de longo prazo. Dados sobre investidores nos títulos do governo federal mostram que a participação feminina é crescente e aumentou mesmo durante a pandemia. Em 2019, elas representavam 30%. Em 2020, o índice foi para 31,5% e, em 2021, chegou a 32,8%.

“Visto pelo lado negativo, a princípio as investidoras podem perder oportunidades de ganhos mais rápidos. Mas momentos como o que vivemos, num cenário de crise que era impossível prever, mostram que a mulher, pensando no longo prazo, investe melhor. A preocupação com o futuro incerto faz com que a investidora avalie os riscos sob uma outra ótica”, afirma a executiva da SulAmérica.

Falta de abordagens personalizadas

Daniela, que investe desde que recebeu o seu primeiro salário, aos 21 anos, conta que é possível verificar novas tendências no comportamento das investidoras no Brasil e no mundo. “É importante refletir sobre a inclusão das mulheres no universo das finanças para que possamos traçar estratégias e abordagens que contemplem suas particularidades como investidoras e, muitas vezes, como as principais responsáveis pelo planejamento financeiro doméstico”, ressalta.

O mesmo relatório da Fidelity constatou também que apenas quatro de 10 mulheres disseram estar confortáveis com seu conhecimento sobre investimentos. “Elas duvidam de si mesmas. Mas o que a pesquisa mostra é que, quando elas investem, elas fazem isso muito bem”, afirma Lorna Kapusta.

Para essa lógica mudar, a head comercial da 3A Investimentos diz que, além de continuarem investindo melhor e com mais  espaço no mercado financeiro, é preciso mais informação sobre os produtos e as formas de investir, de maneira que elas consigam conquistar a independência financeira. 

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Um estudo feito pelo UBS Investor Watch revelou que as mulheres brasileiras dizem que não se envolvem nos investimentos porque têm outras responsabilidades mais urgentes de curto prazo. 

“Eu vejo que o mercado voltado para a bolsa e fundos de investimentos ainda é um pouco carente do público feminino. Vemos muitos homens como gestores internacionais e nacionais, mas faltam mulheres de alto valor agregado e pulso firme para podermos nos destacar cada vez mais e trazer essa voz para o setor. Acredito que esta é uma tendência que já está em curso de uns anos para cá, mas também percebo que pode ser uma questão cultural, de mais afinidade pela profissão, talvez pelo fato de as mulheres não terem tido essa educação sobre o mercado financeiro no passado, assim como os homens tinham a responsabilidade de manter uma casa e uma família”, destaca Fernanda Della Monica.

Daniela argumenta que a busca por independência financeira é o que deve impulsionar a mudança desse cenário. “Sempre desejei ter minha independência, seja dos meus pais, enquanto morava com eles, ou do meu companheiro, depois que decidi me casar. Acredito que essa escolha é libertadora e sempre foi algo que busquei. Como mulher, posso incentivar e empoderar mais mulheres, para que elas sigam pelo mesmo caminho, em uma trajetória de investimentos sustentáveis e de liberdade financeira.”

A executiva continua: “Antes, elas não se sentiam representadas nesse mercado, parecia algo feito por homens para homens. Hoje, felizmente vejo o público feminino mais inserido, consolidando a pauta sobre as demandas de gênero. O número de mulheres com contas abertas na B3 bateu a marca histórica de mais de 1 milhão em maio de 2021. Além disso, percebo uma conscientização cada vez maior na sociedade em relação ao acolhimento das mulheres no universo financeiro, com mais plataformas de investimentos, conteúdos e formas de atendimento direcionadas”, acrescenta.

A sócia da 3A Investimentos recomenda que as mulheres interessadas em começar a investir para conquistar a independência financeira devem fazer uma análise antes de dar o pontapé inicial. “É importante entender se há apetite para riscos, se a pessoa tem uma família ou não, quais são os sonhos de curto, médio e longo prazos, os objetivos que ela quer alcançar, como perpetuar o patrimônio e outros fatores. A dica seria tentar entrar cada vez mais no mercado de risco, uma vez que ele traz muitas novidades e acaba fazendo com que a gente tenha um pouco mais de afinidade com os investimentos.”

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