Se, no passado, os homens eram maioria absoluta nas lideranças do mercado de seguros no Brasil, hoje esse cenário já não é mais o mesmo. Apesar da desigualdade salarial entre os gêneros permanecer, a representatividade feminina aumentou no setor.
Em 2019, uma pesquisa feita pela Escola Nacional de Seguros mostrou que as mulheres representam 55% do total de colaboradores desse mercado. Mas o levantamento, feito com 23 seguradoras, também revelou que, em relação aos cargos de gerência, a proporção é desigual: 53% são homens e 47% mulheres.
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Já a diferença salarial entre os dois gêneros no setor ainda é uma realidade. Em 2018, por exemplo, o salário médio mensal dos homens que atuavam no segmento era de R$ 6,3 mil contra R$ 4,5 mil das mulheres.
De olho nas mudanças e no que ainda pode ser conquistado, um grupo de mulheres fundou, em 2018, a Associação das Mulheres do Mercado de Seguros (AMMS). O objetivo é equilibrar os cargos de liderança no setor e diminuir as diferenças salariais, além de debater sobre o cenário atual do setor.
Em 2021, durante um evento do grupo, a presidente da associação, Simone Vizani, falou sobre a importância de defender a equidade de gênero e a participação das mulheres nessa área. “Estamos chegando a outro patamar, em busca da transformação e do empoderamento das mulheres, em uma trajetória de ressignificância”, destacou.
Assim como Simone, outras oito mulheres buscaram o seu espaço no setor e também estão revolucionando o mercado de seguros brasileiro. Veja, a seguir, quem são elas:
Camila Davoglio
Em 2021, a Berkley International do Brasil Seguros S.A anunciou a contratação de Camila Davoglio para o cargo de superintendente atuarial, dados e produtos. Com mais de 20 anos de experiência no mercado segurador, a executiva é graduada em ciências atuariais e tem pós-graduação em gestão estratégica de negócios.
Sobre o novo desafio, Camila diz que o objetivo é contribuir para que a empresa tenha a capacidade de gerenciar os portfólios de uma forma mais detalhada.
Camila já exerceu posições de liderança em empresas como Allianz, EY e Swiss Re. Em 2020, integrou a lista HERoes Women Role Model Lists 2020, promovida pela Yahoo Finance UK, que evidencia as mulheres mais influentes em diversidade de gênero. Isso porque ela dedica parte de sua carreira a debates e ações sobre a independência e promoção da mulher. Em 2018, também participou da fundação da Associação das Mulheres do Mercado de Seguros (AMMS). Atualmente, é conselheira da entidade.
Segundo Camila, um dos seus propósitos de vida é empoderar mulheres por meio das suas próprias vivências. “Fui indicada para fazer parte da lista promovida pela Yahoo Finance UK, que pontua cada pessoa quanto à influência de sua função, seu impacto sobre as mulheres dentro e fora do local de trabalho e suas realizações comerciais. As mulheres são indicadas e passam por um comitê julgador. Trata-se de um ranking mundial e eu fiquei na 34ª posição, do total de 100. Essa conquista é inédita no mercado segurador brasileiro. O mais legal é que a lista abrange todo o mercado financeiro mundial, não ficando restrito a seguros”, disse em entrevista.
Elisabete Prado
Elisabete Prado também engrossa o número de mulheres em postos de comando nas empresas que atuam, direta ou indiretamente, no mercado de seguros. Em 2021, ela se tornou a nova presidente da Delphos, empresa de prestação de serviços especializados para o mercado segurador brasileiro.
Elisabete entrou na empresa em 1980 como analista de sinistros e passou por uma série de cargos desde então, incluindo gerente de sucursal, gerente regional Sudeste, diretora adjunta de corporações e diretora comercial e de marketing até chegar à vice-presidência e, finalmente, à presidência.
Ela conta que, na Delphos, as mulheres ainda correspondem a apenas 31% do efetivo e admite que, em termos absolutos, o número ainda é pequeno. Mas ressalta que as transformações já começaram. “Eu fico muito feliz e honrada por ser mais uma mulher a galgar um posto de comando numa empresa do mercado de seguros. É um reconhecimento ao trabalho que muitas de nós realizamos com dedicação e competência. O desejo é que outras possam se juntar à essa empreitada”, diz.
Erika Medici
Formada em estatística e economia e com 19 anos de atuação no setor de seguros no Brasil, Erika Medici construiu boa parte da sua carreira na SulAmérica, onde foi responsável pela operação de venda da carteira de grandes riscos para a companhia, em 2016.
Por lá, ela passou pelos cargos de superintendente executiva e superintendente de resseguros, responsável pelo projeto de reposicionamento da companhia e pela modelagem dos contratos automáticos, com acompanhamento e apuração das contas trimestrais, assim como recuperação de sinistros.
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Erika também atuou como gerente de inteligência de mercado na SulAmérica, quando coordenou a equipe para o desenvolvimento de estudos sobre posicionamento e estratégia de crescimento de mercado, com o objetivo de monitorar as principais tendências, acompanhar a concorrência e identificar oportunidades.
Em 2020, Erika assumiu o posto de CEO da AXA no Brasil, companhia de seguros com atuação global sediada em Paris.
No ano seguinte, recebeu o prêmio CEO Destaque 2021, da Associação Sou Segura. A homenagem reconhece líderes femininas do mercado segurador que desenvolveram e implementaram mudanças reais pela equidade de gênero. “Entendo que, por ocupar o meu cargo, minha responsabilidade é ainda maior – e desejo interferir positivamente no nosso ecossistema de seguros e avançar para além dele. Quero ver nossos esforços se traduzindo em impacto!”, afirmou na ocasião.
Fabiana Resende
Graduada em administração de empresas com ênfase em finanças, Fabiana iniciou sua carreira no mercado de capitais, mas ingressou no setor de seguros em 2005, para assumir o departamento de marketing do Seguro PASI, o primeiro produto popular do Brasil.
Desde novembro de 2019, ela ocupa o cargo de vice-presidente da empresa. A executiva é responsável pelas áreas comercial, de operações, desenvolvimento de novos produtos e tecnologia, entre outros segmentos estratégicos ligados ao produto.
A executiva ressalta que, apesar de as mulheres serem maioria no mercado, ainda há espaço para elas ocuparem mais cargos de liderança nas organizações. “Equilíbrio emocional é fundamental, não só para as mulheres que desejam prosperar no mercado segurador, mas em todas as áreas da vida. O fato de ser mulher não limita ninguém a alcançar seus objetivos. Sinto-me privilegiada em poder unir o propósito do meu trabalho aos meus valores pessoais”, revelou em entrevista.
Maria Helena Monteiro
A executiva é diretora de ensino técnico da Escola de Negócios e Seguros (ENS) desde 2011. A ENS foi fundada em 1971 pelos principais atores do setor brasileiro de seguros e tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de profissionais que atuam em diversas áreas de negócios, com ênfase no estímulo e disseminação da cultura de seguros.
No cargo de liderança, Maria Helena é responsável por desenvolver, em âmbito nacional, os cursos técnicos da entidade. Antes disso, esteve à frente da vice-presidência de RH e administração da SulAmérica Seguros e Previdência, no Rio de Janeiro, onde permaneceu por dez anos.
Também foi presidente da Comissão Técnica de Recursos Humanos da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg) e acumula no currículo passagens por grandes empresas, como IBM, Bob’s, Shell e HSBC, sempre em cargos de alta gestão na área de recursos humanos.
Maria Helena diz que vê a preocupação das empresas em aumentar a diversidade como uma decisão estratégica. “O mercado de seguros vende para todos os públicos e não pode ser gerido só por homens. Ainda mais se pensarmos que são as mulheres que definem as prioridades financeiras em casa”, afirmou em entrevista.
Paula Lopes
Embora seja engenheira, foi no mercado de seguros que Paula se encontrou profissionalmente. Atualmente, ela é líder regional da Marsh Specialty, empresa de corretagem de seguros e gerenciamento de risco, onde tem a missão de melhorar as estratégias de entrega e acelerar o crescimento.
Com mais de 22 anos de experiência no mercado, a executiva ingressou na companhia em 2008 e ocupou diversas posições de liderança desde então. Além disso, é diretora da AMMS e embaixadora do comitê de mulheres da Marsh McLennan, onde busca fomentar o empoderamento feminino no setor.
Para ela, a junção de determinação e ambição de melhorar é a receita para o crescimento pessoal e profissional das mulheres. “O mercado de seguros no Brasil tem muito para desenvolver e há muita oportunidade. Acredito que os seguros têm um papel importante na gestão de riscos de todos os clientes e para a continuidade dos seus negócios. Na minha opinião, devemos dar oportunidade para as mulheres crescerem e reconhecerem suas habilidades, que são diferentes das dos homens, desenvolvendo iniciativas que englobam a realidade feminina.”
Regina Lacerda
A corretora de seguros atua no mercado há mais de 30 anos, quando pediu exoneração do Poder Judiciário do Distrito Federal para se dedicar ao setor. Regina é fundadora da Rainha Corretora de Seguros.
A executiva nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para Brasília aos 12 anos, na década de 1970. Aos 18 anos, foi aprovada no concurso para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, e exerceu atividades no Judiciário por uma década, quando conheceu a área de seguros, em 1988. Na época, recebeu o convite de um amigo para atuar como inspetora de produção da Sasse, seguradora da Caixa, que estava abrindo seu escritório em Brasília.
Empolgada com uma nova experiência, Regina pediu uma licença do cargo e trabalhou por dois anos no segmento. Foi quando se encantou pela área.
Em 1989, habilitou-se como corretora de seguros, quando a então Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg) levou o curso a Brasília. Ela lembra que o seu diretor na Sasse a aconselhou a fazer e alertou que era uma oportunidade única. Regina estava no último semestre de pedagogia e precisou trancar a faculdade para focar no curso de corretora. Ela era uma das poucas mulheres estudando seguros na época.
Regina lembra que gostou tanto do novo universo que pediu exoneração do cargo público vitalício para se dedicar a empreender como corretora de seguros. Além de corretora, é pedagoga, pós-graduada em administração pública, teóloga e pós-graduada em ciência da religião.
Ela também é acadêmica titular da Academia de Letras e Música do Brasil. “Nosso objetivo é que todas essas mulheres, que já são mais do que homens, possam ocupar cargos de lideranças e, assim, construir um mercado de seguros mais igualitário.”
Simone Ramos
A pernambucana iniciou sua carreira em Manaus, em 1995, mas, em 2001, mudou-se para São Paulo, onde permanece até hoje. Simone, que é apaixonada por seguros e gerenciamento de riscos, atua como executiva de seguros e superintendente de portos, terminais e logística na THB Group Brasil, corretora com atuação global.
Simone nasceu e cresceu em Camaragibe, cidade da região metropolitana do Recife, e parte de sua história é contada em um capítulo inteiro do livro “Mulheres no Seguro”. Em Pernambuco, a infância da executiva não foi fácil. Ela conta na obra que os seus refúgios eram a escola e os livros. A carreira no mercado de seguros teve início quando chegou em Manaus, onde atuou como auxiliar de sinistros na seguradora do Bradesco.
Graduada em pedagogia e pós-graduada em logística, riscos e sinistros pela Escola de Negócios e Seguros, Simone tem certificação em risk manager pelo Alarys Internacional Risk Manager (AIRM) e especialização em marine pelo The Chartered Insurance Institute (CII), de Londres. Ela também é conselheira da AMMS.
“As mulheres estão despontando em todos os setores profissionais e em seguros temos o privilégio de vê-las cada vez mais em cargos de liderança. Acredito muito na força feminina para superar obstáculos e, ao mesmo tempo, em sua sensibilidade para ajudar a definir os caminhos, principalmente em um setor tão dedicado como o de seguros”, diz.
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