Corpo saudável tem manequim?

A EQL investigou qual a relação entre formas corporais e saúde nutricional
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Saúde tem manequim?

Não é de hoje que o corpo da mulher sofre com pressões estéticas de acordo com os padrões de beleza vigentes em cada período. Com as descobertas científicas que alertam sobre os riscos do sobrepeso, mesmo antes da pandemia de covid-19, a saúde sempre foi usada como uma justificativa a mais para o público feminino buscar a magreza. 

Naiana Ribeiro, jornalista fundadora da Plus, primeira revista para gordas do Brasil, é um exemplo de como estética e saúde não se relacionam: “Sempre fui gorda, pratico exercícios físicos e todos os meus exames estão bons. Mas, desde pequena, ouço de familiares e até de amigos que a cirurgia bariátrica ‘resolveria meu problema’.”  

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Então, será que um corpo saudável pode ser traduzido em números de manequim? 

Tecnicamente, ser saudável é ter equilíbrio entre não ter doenças, o que gasta de energia durante o dia, a alimentação e a prática de atividades físicas. Ou seja,“não existe uma definição específica para o formato do corpo saudável”, como explica a médica Andrea Pereira, nutróloga da Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein e Presidente da ONG Obesidade Brasil. 

Saúde ideal: sem extremos 

Os diagnósticos de obesidade e desnutrição são realizados por meio do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). É uma conta padrão para diagnosticar casos de obesidade e desnutrição. No entanto, há diversos outros fatores que definem esses quadros clínicos  e os dois casos provocam maior predisposição às doenças. Entenda: não é somente o seu peso que vai dizer qual é a sua condição de saúde.

A obesidade pode ser prejudicial à saúde, pois há mais chances de desenvolver comorbidades como cânceres, problemas osteo articulares, diabetes, pressão alta, aumento do colesterol, risco maior de infecções, alterações hormonais e até infertilidade, segundo Andrea. 

Entretanto, a desnutrição pode causar outros tipos de problemas igualmente ou mais graves, como a falta de hormônios femininos e perda de massa óssea. “É comum parar de menstruar, o que gera uma menopausa precoce, e quadros de osteoporose mesmo em pessoas jovens”. Outros sinais de magreza extrema são alterações de unha, queda e perda da coloração do cabelo. “Se não está consumindo nutrientes o suficiente, [o corpo] escolhe para onde mandar os recursos e esses são os primeiros a parar de receber. É como um ‘cobertor curto’”, explica a nutróloga.

Durante a pandemia de covid-19, foi muito repetida a questão das comorbidades em pessoas obesas, mas a médica destaca que magreza extrema, ou desnutrição, aumenta a mortalidade por qualquer tipo de doença. “A pessoa se torna mais suscetível a qualquer  infecção, porque tem pouca massa muscular e isso atrapalha o sistema imunológico”. 

Pressões estéticas e impactos na saúde mental, física e financeira:

A gente sempre tem as fases dos padrões de beleza, vemos as pessoas ficando mais magras. Geralmente, a mulher quer ser mais magra e homem mais musculoso“, afirma Andrea. Segundo ela existe um grande preconceito com a obesidade pela parte estética, o que se manifesta no dia a dia como gordofobia. 

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Gordofobia é o nome que se dá para o preconceito com pessoas gordas. “Nesta sociedade, gordo não é apenas sinônimo de doença, mas também de coisas negativas como feiura, preguiça, gula, desleixo, etc. Ninguém quer ser gordo e nem estar próximo disso”, argumenta Naiana. Esse estigma afeta as pessoas gordas tanto na saúde mental quanto financeira e física. 

Saúde tem Manequim?
Naiana Ribeiro, 24, é gordoativista fundadora da PLUS, primeira revista voltada para gordas do Brasil

Atualmente a jornalista é defensora do ativismo gordo, um movimento focado em contrapor o estigma dos corpos gordos na sociedade. Ela explica que a corrente vai além da aceitação do próprio corpo e propõe o reconhecimento social por meio da luta pela acessibilidade e fim do estigma do copo gordo na sociedade.

Naiana conta que vive episódios de gordofobia desde criança. “Quando eu era criança, sofria muito bullying por questões estéticas. Os meninos me davam muitos apelidos, me chamavam de “baleia”, essas coisas. Era gordofobia, mas na época eu não sabia. E até hoje tem parente que me oferece a cirurgia [bariátrica] de ‘presente’”. 

A saúde mental da jornalista foi extremamente afetada pela pressão social de emagrecer. Aos 10 anos de idade começou a fazer dietas extremamente restritivas “Em um deles, só podia beber suco de maracujá e comer presunto”.  Apesar de ser perigoso para a saúde se alimentar tão pouco, em alguns momentos ela acreditava que estava melhor por receber elogios por perder peso. Hoje, a jornalista diz reconhecer que “as dietas sempre foram sinônimo de tortura.”

A acessibilidade de pessoas gordas a empregos também é impactada pelo preconceito, devido à ideia que gordos são menos produtivos, como Naiana explicou. 

Presidente da ONG Obesidade Brasil, Andrea também conta que muitas mulheres descobrem cânceres em estágios mais avançados por fazerem menos exames de prevenção, porque têm vergonha ou medo de serem destratadas devido ao peso. 

Busque um médico!

Quando se trata de saúde, o ideal é  entender que os corpos possuem características próprias de como lidar com o ganho, perda e acúmulo nutricional. Segundo a Dra. Andrea, alguns fatores são biológicos, como a própria genética familiar e metabolismo. A idade também é um fator que influencia, pois o metabolismo fica mais lento após a menopausa. 

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Ou seja, não há um padrão para a forma corporal que indique saúde!  “No fim das contas, a questão da saúde é muito individualizada e o ideal é sempre buscar um médico”, afirma a médica. 

É recomendado que as mulheres realizem os exames ginecológicos para a prevenção de cânceres  a cada ano e é possível conversar com seu/sua ginecologista sobre a questão do peso e, a partir disso, buscar acompanhamentos nutricionais.  

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