Tássia Reis: “O hip hop representa a liberdade de ser quem você é”

Para celebrar o movimento, comemorado hoje em todo o mundo, a Elas Que Lucrem conversou com a rapper paulista
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Tássia Reis: “O hip hop representa a liberdade de ser quem você é”
Tássia Reis iniciou sua vida artística, ainda adolescente, em um grupo de danças urbanas (Foto: Lucas Silvestre)

“Eu não sei como é ‘não ser’ mulher no rap”, diz a cantora e compositora brasileira Tássia Reis. A rapper, que possui influências até do samba e do soul, iniciou sua carreira em meados de 2014, época em que as pessoas clamavam por representatividade e diversidade em todas as vertentes sociais. “Elas queriam olhar e ter uma identificação imediata. Meu primeiro lançamento foi nesse cenário, então sinto que havia uma sede de poder se enxergar em outras pessoas”, conta a artista.

Nascida em Jacareí, interior de São Paulo, Tássia começou a explorar a cultura hip hop por meio da dança. “Eu fazia parte de uma escola de samba e um amigo me levou para uma aula. Foi ali que eu me apaixonei por um dos elementos do hip hop. Nas danças urbanas eu dei de cara com uma cultura que me abraçou muito”, relembra.  “Pra mim, esse movimento representa a liberdade de ser quem você é. Sou muito grata por ter sido salva pelo hip hop.”

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Em 2009, Tássia começou a compor, inspirada por artistas de diversos gêneros – de Djavan a  Beyoncé. “Minha primeira música era uma mistura de funk e soul, mas foi ali que percebi que eu tinha facilidade para criar melodias. Naquele momento, entendi que também podia cantar. O rap aconteceu de forma natural para mim, por já estar inserida no ambiente do hip hop e perceber que eu podia rimar e escrever. Foi quando abracei mais um elemento dessa cultura”, conta.

Dos guetos para o mundo

Mas, antes de chegar à Tássia, o movimento do hip hop precisou ultrapassar muitas fronteiras e preconceitos. Foi em meados dos anos 1970, nas quebradas do Bronx, bairro de Nova York separado de Manhattan pelo rio Harlem, nos Estados Unidos, que nasceu o hip hop. Ao misturar o instrumental e os breaks das canções de funk e soul, o jamaicano Clive Campbell, mais conhecido como DJ Kool Herc, tornou-se o “pai” do hip hop, um movimento cultural plural, que abraça a mixagem, o rap, a dança (principalmente o breakdance) e o grafite.  

Tássia Reis: “O hip hop representa a liberdade de ser quem você é”
Em 2014, a rapper estreou seu primeiro EP, intitulado “Tássia Reis” (Foto: Lucas Silveira)

Tássia aponta ainda um quinto elemento da cultura hip hop que, para ela, é fundamental: o conhecimento. “Eu comecei a me entender politicamente e a me identificar, de forma muito rápida, naquele grupo de artistas, que eram pessoas pretas e periféricas”, conta.

A partir da década de 1980, o hip hop – mais especificamente o rap, uma das vertentes desse movimento -, começou a atrair a atenção do público. Dez anos depois, Public Enemy, Run DMC, Beastie Boys e NWA, somados a outros artistas dos anos 1990, como MC Hammer, Snoop Dogg, Wu-Tang Clan, Dr. Dre, Tupac Shakur e Notorious B.I.G, conquistaram as massas. Curiosamente – ou não -, eram todos homens.

“Acho que a minha experiência não é a mesma de muitas mulheres que estão no rap, mas eu sei que é de muita luta, como qualquer tipo de música que você vai cantar. É só olhar o lineup dos festivais para perceber como as mulheres são invisibilizadas”, diz Tássia. 

Mesmo a duras penas, as rappers conquistaram seu espaço. Em 1993, a norte-americana natural do Brooklyn MC Lyte, que também é DJ e atriz, tornou-se a primeira mulher do rap a ser indicada ao Grammy, pela faixa “Ruffneck”. Queen Latifah e Salt-N-Pepa foram as primeiras mulheres do hip hop premiadas no Grammy, em 1995. 

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O primeiro álbum de hip hop a vencer na categoria “Melhor Álbum do Ano” no Grammy foi “The Miseducation of Lauryn Hill”, em 1999, da cantora, compositora, produtora, atriz, estilista, modelo e instrumentista norte-americana Lauryn Hill. Já Missy Elliott, da Virgínia, estreou em 2019 a participação de representantes femininas do hip hop no Hall da Fama. 

Tássia Reis: “O hip hop representa a liberdade de ser quem você é”
Em 2020, a artista realizou 10 lançamentos, entre videoclipes e remixes inéditos (Foto: Lucas Silveira)

No Brasil, além de Tássia Reis, muitas outras mulheres conquistaram espaços importantes no cenário do hip hop. A rapper do interior de São Paulo também faz parte do coletivo Rimas & Melodias. Formado em 2015 por Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Mayra Maldjian, Stefanie, Tássia e Tatiana Bispo, o grupo musical de hip hop e soul feminino produziu um disco homônimo em setembro de 2017. 

Miscelânea de Influências

A carreira de Tássia é uma mistura de inspirações e influências, mas suas letras nunca perdem a delicadeza e as referências aos sentimentos mais puros da vida, entrelaçados às críticas sociais características do rap. No final de 2016, a artista lançou seu primeiro álbum, “Outra Esfera”, que figurou nas listas de melhores do ano das mídias especializadas, como “Rolling Stone”. Em 2019, lançou “Próspera”, um dos 25 melhores discos do ano segundo a Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Atualmente, Tássia se dedica ao seu último lançamento, “Próspera D+”, que expande o universo criado em 2019.

De MC’s a grafiteiras, passando até por B-girls, dançarinas de breakdance, as brasileiras ajudam a manter viva a chama do movimento. “Pra mim, o hip hop representa a força que a juventude preta e periférica foi capaz de criar simplesmente se expressando da forma mais bonita e honesta”, finaliza Tássia.

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