Em busca do salto perfeito: conheça as paraquedistas que pretendem quebrar o recorde feminino de grande formação

Objetivo é juntar até 40 atletas na modalidade Big Way em novembro de 2022
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Em busca do salto perfeito: conheça as paraquedistas que pretendem quebrar o recorde feminino de grande formação
Mandala no céu formada pelas paraquedistas em treino em Piracicaba (Foto: Careca Sky Dive)

Em 2014, Beatriz Ohna e Flavia Lopes encabeçaram o recorde feminino de paraquedismo de grande formação. Foram 34 mulheres em uma única imagem nos céus. Agora, elas se juntam a outras seis atletas para a organização de dois saltos que pretendem superar o feito de sete anos atrás: a ideia é reunir 36 e, em seguida, 40 paraquedistas, na modalidade conhecida como Big Way. Pode até parecer uma meta simples, mas o paraquedismo requer tanto preparo que os treinos para a aventura, marcada para novembro de 2022, começaram este ano.

O projeto Só Pra Elas conta com oito mulheres. Além de Beatriz e Flavia, as paraquedistas Érika Queiroz, Débora Helena, Patrícia Carvalho Lourenço, Mariana Aranha, Lidiane Alexandre e Jessica Carandina estão a todo vapor para viabilizar os saltos. Elas se juntam a outras quase 30 atletas para encontros bimestrais de treinamento, em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo, que reúnem paraquedistas de todos os cantos do Brasil – e algumas até da América do Sul. Érika, uma das Load Organizers (LO) – paraquedista experiente responsável por organizar o salto -, viaja de São Luís, no Maranhão, para o interior de SP. Já Débora, também LO, sai de Curitiba, capital do Paraná, para se juntar ao grupo. 

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Todo esse esforço coletivo – e feminino -, no entanto, não é apenas para quebrar um recorde. “Para nós, a ideia é fomentar o paraquedismo feminino e trazer mulheres para o esporte”, explica Érika. 

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Aeronave do projeto Só Pra Elas (Foto: Careca Sky Dive)

Para Débora, organizar o recorde e os treinos é uma forma de receber as meninas que estão começando. “A gente sente dificuldade de ser acolhida pelos homens. Essa ideia de fomentar o feminino é porque percebemos que as iniciantes entram na área de salto, deparam-se com muitos homens e nem sempre sentem um acolhimento”, explica. 

Flávia complementa dizendo que o objetivo é também desenvolver as atletas para que elas façam parte desse recorde e de outros, no futuro. Por isso, as organizadoras estão focadas não apenas no resultado final, mas na trajetória. “O que mais nos satisfez em 2014 foi a caminhada que percorremos. É muito gratificante assistir essas atletas iniciantes se desenvolvendo e depois ver essas mesmas meninas, que começaram sabendo quase nada, saltando para bater um recorde no ano seguinte”, relembra. “Esse processo é, no final das contas, o que mais nos dá prazer, e o recorde é consequência do trabalho.”

Elas explicam que, para selecionar as atletas que participarão da iniciativa, não levam em conta apenas a habilidade da paraquedista. “O comportamento de solo é fundamental: a mulher pode ser a atleta mais habilidosa do universo, mas se ela não tem um ‘chão’ bom, ela vai ficar em segundo plano”, conta Beatriz.

“Não adianta a gente querer subir com 40 meninas para o salto se, no chão, elas não forem preparadas. Por isso, temos um trabalho prévio que envolve conversas, dinâmicas, palestras. Estamos construindo um time em solo para fazer com que essas atletas sejam mais completas. Vamos avaliar muitas coisas no chão, mas queremos entender o quão comprometidas ela são, se são disciplinadas, como é a relação delas com o time. Tudo isso é levado em consideração na hora de escolhermos a figura do salto e a posição de cada menina nessa imagem”, contextualiza Flavia.

E, para que essa mandala no céu seja feita com perfeição, as organizadoras enfrentam muitos obstáculos. A falta de parceria para o projeto é um deles e, como se trata de um esporte caro, isso acaba pesando na organização. 

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Paraquedistas saltando do avião (Foto: Eric Fonseca Veiga)

“A infraestrutura é complexa, começando pelas aeronaves. Para realizar um salto com 40 meninas, por exemplo, a gente precisa pelo menos de quatro aeronaves que consigam voar juntas em ala, em formato de ‘V’, como a gente vê os pássaros voando no céu”, explica Flavia. Encontrar essas aeronaves e organizar toda a infraestrutura para que elas estejam presentes no salto é custoso. 

Mesmo assim, Beatriz lembra que, antigamente, esses aviões nem existiam no Brasil e que, para bater um recorde, era necessário ir para outro país. Agora, é possível realizar esses saltos em terras e céus brasileiros. 

Mas se nem a meteorologia – condição importante para a realização do paraquedismo – , para essas mulheres, a logística também não será capaz de fazê-lo. As oito trabalham dia e noite para serem recordistas em novembro do próximo ano.

A vida antes das alturas

Entre idas e vindas no amor, cada uma das load organizers encontrou no paraquedismo um propósito. Para todas elas, saltar é a mais pura expressão do sentimento de estar viva.

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As Load Organizers Érika Queiroz e Débora Helena ao centro (Foto: Careca Sky Dive)

Érika começou a prática incentivada pelo ex-marido, que era paraquedista: “Ele sempre ia aos treinos, aos saltos, e eu ficava na rodinha das mulheres, assistindo os homens saltarem”, lembra. Um dia, ela decidiu que trocaria de “turma”, e anunciou ao marido que faria um curso. Hoje, a rodinha é de mulheres e o assunto é o paraquedismo.

Já Débora, influenciada pelo pai, que era um entusiasta dos aviões e do esporte, admirava a modalidade desde pequena, mesmo de longe. “No começo, eu não tinha idade para saltar. Depois, não tinha dinheiro. Quando finalmente tive os dois, meu ex-marido me barrou por ciúmes”, conta. Uma semana depois do divórcio, ela estava inscrita no curso de paraquedismo.

Beatriz precisou, como brinca ela, de um pé na bunda para ter coragem de saltar. No primeiro dia da faculdade do curso de educação física, conheceu um casal de paraquedistas. “Ficamos amigos de cara e eles diziam sempre que eu tinha que saltar. Eu respondia dizendo que jamais o faria. Foi assim que aprendi a nunca dizer nunca”, lembra.

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A Load Organizer Beatriz Ohna (Foto: Eric Fonseca Veiga)

Flávia, por outro lado, sempre foi uma esportista nata, mas o mar era seu habitat. Surfista quando mais nova, foi por influência de um ex-namorado que saltou pela primeira vez. “Quando experimentei, fiquei encantada. Eu não lembro de sentir medo, mas de ficar muito emocionada. Os problemas da vida ficam muito pequenininhos lá de cima”, conta.

50 segundos

Nem um minuto. Nesses 50 segundos que os saltos duram, em média, elas conversam em queda livre. Quebram recordes. Diante da correria do dia a dia, pode parecer pouco. Mas quando essas mulheres estão lá em cima, o tempo parece uma eternidade. “Conta 50 segundos e imagina que está caindo a 200 quilômetros por hora”, diz Flavia. “Um, dois, três, quatro, cinco…”. Todas concordam: é um tempo eterno. E um sentimento indescritível.

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A paraquedista Flavia Lopes (Foto: Reprodução)

“Um segundo fica gigante diante da vida”, diz Beatriz. “Eu aprendi com o paraquedismo a aproveitar cada milésimo. Na minha opinião, é mais do que uma sensação. É como se, ao sair do avião, aquela porta fosse, na realidade, um portal para outra dimensão”, completa a paraquedista.

Para Érika, que – acredite ou não – tem medo de altura, o paraquedismo trata de superação. “Quebrar essa barreira é muito legal. Vencemos obstáculos para estar lá e isso faz com que a gente dê valor ao nosso tempo.”

Já quando Débora diz que se sente viva nos céus, ela não está utilizando uma hipérbole. “Eu tive um diagnóstico de esclerose múltipla em 2011. Foi logo que eu comecei a saltar e o paraquedismo me trouxe vida. É uma energia tão forte lá em cima que não dá para explicar. E o sorriso no rosto das pessoas quando pousam me faz lembrar na hora por que eu escolhi fazer paraquedismo.”

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Paraquedistas saltando do avião (Foto: Careca Sky Dive)

Os relacionamentos amorosos vêm e vão, mas o esporte ficou na vida de todas elas. “Precisamos de muita confiança e cumplicidade lá em cima e essa parceria faz com que a gente se ame. Eu gosto tanto desse grupo… Não é algo superficial. Somos uma família, somos irmãs, somos muito amigas. A gente se olha no olho, sente quando uma não está bem. Não é só o salto, é sobre como o paraquedismo preenche nossos corações”, finaliza Débora.

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