Sequelas da Covid-19 nas mulheres incluem alterações menstruais, perda de memória e queda de cabelo

Especialistas explicam os sintomas tardios que a doença pode manifestar no corpo feminino
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Mulheres sofrem mais com síndrome pós-covid (Foto: Pexels)

Após quase dois anos do início da pandemia de Covid-19, as sequelas da doença ainda são pouco conhecidas, especialmente quando se trata das mulheres. Apesar de serem mais resistentes ao coronavírus, conforme apontou um estudo realizado por pesquisadores internacionais e apoiado pela Fapesp, elas são mais propensas a desenvolverem a Covid prolongada, condição na qual os efeitos da infecção permanecem por mais de dois meses. 

A informação foi constatada na pesquisa realizada pela Sociedade Espanhola de Médicos Gerais e de Família (SEMG), e indica que mulheres entre 40 e 55 anos, sem problemas de saúde ligados ao grupo de risco, são as que mais sofrem com os efeitos prolongados da doença. 

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Além das complicações relacionadas diretamente aos sintomas, a Covid-19 também afetou mais a população feminina do que masculina em outros aspectos, como a exposição ao vírus, e também em relação às condições sociais, como o desemprego, por exemplo. 

Segundo dados da ONU Mulheres e do Conselho Federal de Enfermagem, 85% dos trabalhadores de enfermagem no Brasil são mulheres. Ainda conforme a instituição, elas desempenhavam três vezes mais trabalhos não remunerados do que homens antes da pandemia e, agora, estima-se que esse número seja três vezes maior.

Portanto, ainda que morram menos e sejam mais resistentes aos sintomas da doença, as mulheres também são as que estiveram mais expostas à Covid-19, e, posteriormente, as que mais sofreram com os danos prolongados da infecção. Algumas das sequelas já identificadas incluem complicações ginecológicas em gestantes e não-gestantes, problemas ortopédicos, neurológicos e dermatológicos.  

Complicações ortopédicas incluem dores musculares e fadiga

Um estudo promovido pelas universidades britânicas de Glasgow, Oxford, Edimburgo e Liverpool, entre fevereiro e outubro de 2020, constatou que mulheres com menos de 50 anos tinham até cinco vezes mais chances de reportar sequelas após contraírem a Covid-19. A pesquisa acompanhou a recuperação de 325 pacientes nesse período. 

Segundo os dados, entre os desconfortos mais presentes no quadro de pós-recuperação estão problemas associados à ortopedia, incluindo dores e fadigas musculares. Ao todo, as pacientes analisadas apresentaram praticamente duas vezes mais ocorrências desses sintomas quando comparadas aos homens. 

De acordo com a ortopedista Marcella Rodrigues, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), essas sequelas podem ser causadas por complicações diretas do ataque do vírus ao organismo ou até mesmo como resposta maléfica do sistema imunológico ao combate a infecção. “Durante o desenvolvimento da doença, as dores musculares são o terceiro sintoma mais comum, atingindo 70% dos pacientes”, afirma. 

Outro desconforto presente em 55% das pacientes é a miopatia, um tipo de lesão muscular que causa dores e quadros de cansaço ainda mais intensos que a média. Nesse caso, explica Marcella, a suspeita é que o problema seja causado por um processo de recuperação do próprio corpo, já que a produção excessiva de proteínas inflamatórias é capaz de aumentar o estresse oxidativo e, consequentemente, destruir as células do músculo. 

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Mulheres também sofrem mais danos cognitivos

Outro estudo, desta vez realizado pelo Imperial College London, na Inglaterra, mostrou que o cérebro pode ser um dos órgãos mais atingidos pelas sequelas da Covid-19. A pesquisa, conduzida em julho de 2021, destaca mudanças como déficit cognitivo, problemas de memória e dificuldade de raciocínio. 

Os sintomas são semelhantes aos encontrados pelo levantamento NeuroCovid, conduzido pela neurologista e professora da Unicamp Clarissa Lin Yasuda. Segundo a médica, as queixas atingem até mesmo aqueles pacientes que não apresentaram quadros graves da doença durante o período agudo da infecção. “De modo geral, os indivíduos que permanecem com alterações apresentam fadiga, sonolência diurna, cefaléia, sintomas depressivos e ansiosos”, diz. A pesquisa também mostra que as sequelas podem continuar até dois meses após o contágio. 

Do ponto de vista da saúde feminina, a pesquisadora ressalta que as mulheres estão mais propensas a apresentar alterações neuropsiquiátricas tardias, assim como a própria síndrome pós-covid. No entanto, a ciência ainda não sabe o motivo por trás dessa diferença. “Ainda são desconhecidas as razões que justificam esse predomínio de sintomas em mulheres, mas algumas hipóteses tentam associar esse cenário aos mecanismos imunológicos e à autoimunidade”, explica Clarissa.

Doença pode interferir na gravidez

De toda a população brasileira, as grávidas são as que possuem maior taxa de letalidade, conforme dados divulgados no Boletim da Covid-19, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) em junho de 2021. Além de serem as principais vítimas fatais, as gestantes ainda correm mais riscos de ter um parto prematuro ou de sofrer um aborto espontâneo após desenvolverem a infecção, como explica Fabiane Berta, médica especialista em ginecologia endócrina.

A ginecologista aponta que o risco de a gestante ser afetada por um desses problemas é potencializado pela alteração vascular provocada pela doença e ressalta que as chances podem ser maiores quando a mulher é portadora de alguma comorbidade, como diabetes ou obesidade. 

Alterações hormonais afetam a menstruação

Outra consequência observada nas mulheres após a infecção por Covid-19 é a alteração do fluxo menstrual. Segundo o estudo “Análise de Hormônios Sexuais e Menstruação em Mulheres com Covid-19 em Idade Fértil”, divulgado em 2021, 25% das participantes alegam ter notado mudanças como o aumento ou diminuição da menstruação. 

Fabiane esclarece que a Covid-19 pode interferir no ciclo menstrual porque provoca alterações no sistema vascular. “É uma inflamação que acontece nos vasos e pode alterar todo o fluxo sanguíneo da região do útero e dos ovários.” 

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Ela acrescenta, ainda, que algumas mulheres possuem menos chances de sofrer com as alterações hormonais após contraírem a doença. “Mulheres que são hormonalmente estáveis têm um fator de proteção maior e, por isso, menos vulnerabilidade às mudanças no ciclo menstrual provocadas pela doença.” 

Queda de cabelo é a principal sequela dermatológica da Covid-19 em mulheres

Uma das reclamações mais comuns entre as mulheres após o fim do quadro de Covid-19 é a queda de cabelo. As queixas não são à toa, conforme um estudo realizado pela Wayne State University e pelo Hospital Henry Ford: de dez pessoas que relatam o problema, nove são mulheres. 

A sequela é chamada de eflúvio telógeno e aparece depois de cerca de 30 dias do término da infecção. Até o momento, ainda não há conclusões sobre quais fatores tornam o problema mais comum em mulheres do que homens. Mas, para a dermatologista Simone Neri, o motivo passa pelas variações hormonais mais intensas em pessoas do sexo feminino, o que interrompe o ciclo de crescimento dos fios e, depois, provoca a queda. 

Patrícia Mafra, dermatologista e membra titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), esclarece que o processo inflamatório da Covid-19 leva o corpo a poupar vitaminas para fortalecer o organismo, e, por não ser um componente essencial para a sobrevivência, os cabelos acabam sendo mais afetados por essa alteração na distribuição dos recursos. Dessa maneira, os fios se enfraquecem e ficam mais propensos a caírem. 

A médica ressalta que a queda é limitada e cessa em até seis meses, sem que haja necessidade de realizar suplementação com vitaminas. Ela acrescenta, ainda, que o problema pode ser evitado com o tratamento adequado da infecção, por meio da alimentação balanceada, repouso e hidratação, já que, assim, o risco de evolução da doença cai e o organismo não precisa “cortar” os recursos que seriam usados para fortalecer o cabelo, por exemplo. 

Mas, caso a queda já esteja acontecendo, o tratamento pode ser realizado por meio da reposição de ferro e vitaminas, uso de corticoide tópico e oral, dentre outros medicamentos, que são indicados de acordo com o fator causador do problema, ressalta a dermatologista Anelise Dutra.

Sequelas vão além da dor física

Além de sintomas físicos, a Covid-19 trouxe outros impactos para a saúde das mulheres. Em relação a isso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que a pandemia pode ser responsável por um retrocesso de 20 anos em estatísticas ligadas à mortalidade materna e acesso a métodos contraceptivos. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), quase 12  milhões de mulheres em 115 países do mundo, incluindo o Brasil, interromperam o uso de métodos anticoncepcionais durante o primeiro ano da pandemia. A instituição explica que a decisão foi motivada principalmente por falta de condições financeiras para bancar os tratamentos ou falta de acesso a serviços gratuitos desse tipo. Ao todo, foram contabilizadas 1,4 milhão de gestações não intencionais nesse período. 

Por outro lado, a sobrecarga de trabalho doméstico, o acúmulo de preocupações financeiras e até mesmo o cuidado com familiares doentes durante os últimos anos fizeram com que as mulheres também sofressem mais com a saúde mental. Um levantamento feito pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que, entre as voluntárias da pesquisa, 40,5% apresentaram sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse. 

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