Elas pesquisam: 9 brasileiras que provam que lugar de mulher é também na ciência

Seja na física, na biologia ou na saúde, essas pesquisadoras estão mudando a realidade do setor no país
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Segundo CNPq, mulheres representam 43,7% dos pesquisadores brasileiros (Foto: Elas que Lucrem)

Faz cerca de 140 anos que a primeira brasileira se formou em um curso do ensino superior. Segundo um estudo coordenado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Maria Augusta Generoso Estrela foi a pioneira no quesito graduação, mas não fez isso no país. Precisou ir aos Estados Unidos para conquistar um diploma.

Por aqui, estima-se que a inclusão das mulheres no ambiente acadêmico tenha ocorrido por volta de 1887. A chegada da população feminina às salas de aula dos cursos brasileiros de graduação se deu quase 80 anos após a construção da primeira instituição de ensino superior do país, a Escola de Cirurgia da Bahia, em 1808. 

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Esse atraso de oito décadas custou – e ainda custa – muito às mulheres interessadas na ciência, visto que, conforme dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), elas ainda são a minoria dos pesquisadores do país. No total, são 43,7% de mulheres contra 56,3% de homens. 

Para a cientista Marcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), na prática, a diferença significa que as mulheres ainda sofrem mais assédio moral e sexual e têm de abdicar de alguns desejos, como o de ser mãe, por não existir um ambiente que considera a equidade de gênero e apoia as cientistas quando elas decidem pela maternidade.

Apesar desse cenário, muitas delas estão conquistando feitos importantes e deixando seus nomes gravados na história, com descobertas capazes de impactar as mais diversas áreas das nossas vidas. 

Veja, a seguir, 9 mulheres que estão mudando a realidade da ciência no Brasil:

Jaqueline Goes

Jaqueline Goes ciência mulheres
Pesquisadora coordenou equipe que sequenciou genoma do SARS-CoV-2 no Brasil em apenas 48 horas (Foto: Jaqueline Goes/ Acervo pessoal)

Nascida em Salvador, a doutora em patologia humana e experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) coordenou a equipe que sequenciou o genoma do vírus da Covid-19 no Brasil apenas 48 horas após haver a primeira confirmação do vírus em território nacional.

Formada em biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Jaqueline ganhou tanto destaque pelo feito que ganhou uma edição especial da Barbie na coleção de bonecas que homenageia mulheres inspiradoras atuantes na pandemia. 

A boneca idealizada pela Mattel, criada com as características da cientista, representa mais do que uma homenagem: é um incentivo para que mulheres e meninas negras e nordestinas se enxerguem como protagonistas na ciência brasileira. Além de ter sequenciado o coronavírus, Jaqueline também participou do sequenciamento do vírus causador da zika, e recebeu o Prêmio CAPES de Tese em Medicina II, em 2020, oferecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo desenvolvimento do estudo “Vigilância Genômica em Tempo Real de Arbovírus Emergentes e Reemergentes”.

Lilian Catenacci

Lilian Catenacci Ciência mulheres
Cientista foi vencedora do “Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência” em 2021 (Foto: Divulgação/ UFPI)

Formada em veterinária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Lilian Catenacci dedica a vida a estudar a saúde única – conceito que relaciona a saúde dos animais, do meio ambiente e dos humanos. O interesse surgiu ainda na faculdade, quando ela estagiava no Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE). 

Já no mestrado, a pesquisadora se empenhou na análise de amostras coletadas de animais como o mico-leão-da-cara-dourada para avaliar o modo como eles facilitam a dispersão de sementes na floresta. Mais tarde, no doutorado, Lilian passou a investigar os arbovírus, que se instalam nos macacos e, depois, passam doenças para a população que vive nas proximidades da mata. 

O foco do estudo da veterinária era entender de que maneira esses organismos – responsáveis por doenças como febre amarela e zika – passavam dos animais para os humanos e quais fatores contribuíam para a transmissão no sul da Bahia. A grande descoberta foi que, na região analisada, aqueles que viviam mais próximos de áreas com grande biodiversidade tinham chances menores de contrair as doenças. 

Com a pesquisa sobre a relação entre a saúde dos animais, meio ambiente e humanos, Lilian recebeu, em 2021, o “Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência”, idealizado pela Unesco, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a gigante dos cosméticos.

Atualmente, a cientista estuda a Febre do Nilo Ocidental (FNO), doença que provoca encefalite e tem potencial epidêmico. Lilian busca esclarecer o motivo da doença só existir, até o momento, no Piauí, e busca mais informações sobre a infecção. 

Marcia Barbosa

Marcia Barbosa ciência mulher
Marcia foi uma das responsáveis pela aprovação da lei que oferece licença-maternidade às pesquisadoras (Foto: Divulgação/ UFRGS)

Doutora em física, membra da Academia Mundial de Ciências e vencedora do “Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência” em 2013, Márcia estudou a vida toda em escola pública e, ao chegar à universidade, percebeu que era minoria no curso escolhido. Na sala, havia apenas oito mulheres, número que foi ainda mais reduzido no final da graduação. 

Focada em estudar as moléculas de água e suas anomalias, a cientista foi movida, durante toda a trajetória, pelo desejo de entender como o mundo funcionava. Mas, além disso, ela também almejava que a ciência fosse cada vez mais povoada por mulheres – e entrou em ação para mudar essa realidade. Uma das medidas tomadas pela cientista foi lutar pela aprovação de uma lei que oferece licença-maternidade às bolsistas, para que elas não fossem obrigadas a abandonar o trabalho para serem mães. 

Seu principal objetivo atualmente é lutar contra o assédio moral e sexual nas universidades, além de promover a inclusão nas instituições. Segundo Marcia, o comportamento abusivo em relação às mulheres nesses ambientes deve ser encarado como “uma doença”, e políticas públicas precisam ser criadas para resolver o problema. 

Além disso, ela destaca que aumentar a diversidade na ciência significa muito mais do que apenas ampliar a representatividade nesses locais. “É porque é democrático, porque está alinhado aos direitos humanos, mas também porque é mais eficaz. Quando há diversidade nas pesquisas, existe mais inovação disruptiva”, afirma.

Mercedes Bustamante

Mercedes Bustamante ciência mulher
Pesquisadora é referência internacional sobre o bioma Cerrado (Foto: Divulgação/ UnB)

Professora da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante é natural do Chile, formada em biologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e uma das maiores ecologistas do Brasil, referência em temas como biogeoquímica, mudanças climáticas e o cerrado, assunto pesquisado por ela há quase 30 anos. 

Graças ao destaque obtido em sua área de atuação, a bióloga foi, por dois anos consecutivos, citada em rankings internacionais. Em 2020, figurou na lista do site especializado “Web Of Science” dos cientistas mais citados no ano. Já em 2021, esteve entre os profissionais da área mais comentados da América Latina nos últimos cinco anos, conforme a lista “Alper-Doger (AD) Scientific Index”. 

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Além de realizar estudos sobre a ecologia de ecossistemas,  Mercedes já participou como co-coordenadora no “5° Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)” e é membra da Academia Mundial de Ciências, da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências dos Estados Unidos. 

Nina da Hora

Nina da Horas ciência mulher
Cientista se autointitula “hacker antirracista” (Foto: Nina da Hora/ Acervo pessoal)

Professora, cientista da computação formada pela PUC-Rio e pesquisadora em tecnologia, Nina da Hora carrega muitos títulos além do sobrenome divertido, que pode ser checado no RG. Focada em estudar o racismo algorítmico e promover o pensamento crítico sobre a inteligência artifical, ela se apresenta como “hacker antirracista” e é integrante da Comissão de Transparência das Eleições no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

A cientista, natural de Duque de Caxias, é bolsista do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (FGV) e membra do Conselho Consultivo de Segurança do TikTok no Brasil. 

Nina é uma das maiores referências brasileiras do antirracismo nas redes e pretende combater as repetições dos padrões brancos pelos algoritmos de inteligência artificial, além de tornar a área da tecnologia mais acolhedora para mulheres e pessoas negras. 

Rita de Cássia dos Anjos

Rita de Cássia dos Anjos mulher ciência
Pesquisadora recebeu o “Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência” em 2020 (Foto: Reprodução/ Academia Brasileira de Ciências)

Vencedora do “Prêmio L’Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência”, na categoria física, em 2020, Rita de Cássia dos Anjos dedica a vida a estudar raios cósmicos de energia e também as galáxias starburst, com grande formação de estrelas. 

A pesquisadora, formada em física biológica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) em 2007, é a caçula de oito filhos e teve dificuldades para chegar ao ensino superior, já que a família não tinha recursos financeiros para custear seus estudos. Para entrar na graduação, Rita teve o apoio de uma das irmãs, que financiou um curso preparatório para o vestibular. 

Anos mais tarde, a cientista realizou o mestrado e doutorado em física pela Universidade de São Paulo em São Carlos (USP – SC). Com as pesquisas sobre as interações dos raios no universo, a física passou a integrar o Observatório dos Raios Cósmicos de Pierre Auger e, posteriormente, estudou no Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica e no DESY, instituto alemão de física da Sociedade Helmholtz, em Zeuthen. 

Simone Maia Evaristo

Simone Maia Evaristo mulher ciência
Formada em biologia, pesquisadora é focada em estudos sobre o câncer e as maneiras de combatê-lo (Foto: Divulgação/ Mulheres e Meninas na Ciência)

Presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito), Simone Maia Evaristo é uma grande estudiosa brasileira do câncer e das maneiras de combatê-lo. Formada em biologia e citotecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisadora é bastante engajada nas ações de prevenção da doença que estuda.

Além de se empenhar no combate ao câncer em todo o mundo, Simone também atua como supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e obteve a titulação de Suficiência em Citotecnologia pela Sociedade Brasileira de Citopatologia (SBC), pela Academia Internacional de Citologia (IAC) e pela Sociedade Latino-Americana de Citopatologia (Slac). 

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Simone também foi responsável por organizar eventos e materiais ligados à sua área de atuação, como o I Congresso Brasileiro de Citotecnologia, a Série de Citotecnologia e diversos cursos de atualização para pesquisadores do tema.

Sue Ann Costa Clemens

Sue Ann Costa Clemens mulher ciência
Cientista coordenou os testes da vacina Oxford/Astrazeneca contra a Covid-19 no Brasil (Foto: Sue Ann Costa Clemens/ Acervo Pessoal)

Professora da Universidade de Oxford, Sue Ann Costa Clemens foi responsável pelos testes da vacina desenvolvida pela instituição em parceria com o laboratório Astrazeneca no Brasil. A médica infectologista e pediatra coordenou e conseguiu financiamento da Fundação Lemann e do Instituto D’Or para seis centros de testagem do imunizante no país.  

Apesar do nome norte-americano, Sue é natural do Rio de Janeiro e foi uma das cientistas com maior destaque durante a pandemia. A popularidade foi tanta que ela chegou a ser condecorada pela Rainha Elizabeth em junho de 2021, na cerimônia de homenagem às personalidades britânicas que atuaram na luta contra o coronavírus. 

A infectologista foi, ainda, a criadora do primeiro mestrado em vacinologia do mundo, na Universidade de Siena, na Itália. Além disso, já chefiou as pesquisas do comitê científico da Fundação Bill e Melinda Gates para a criação de um novo imunizante para a poliomielite e participou do desenvolvimento de vacinas, como a do rotavírus e do HPV. 

Viviane dos Santos Barbosa

Viviane dos Santos Barbosa ciência mulher
Pesquisadora recebeu um prêmio na Internacional Aerosol Conference, em 2010, por ter desenvolvido um catalisador que reduz emissão de gases poluentes (Foto: Reprodução/ Fundação Wikimedia)

Nascida na Bahia, Viviane dos Santos Barbosa foi premiada, em 2010, no International Aerosol Conference pelo desenvolvimento de um catalisador redutor de emissão de gases poluentes durante o mestrado na Delft University of Technology, na Holanda. 

A brasileira, que é formada em engenharia química e bioquímica pela mesma universidade em que cursou o mestrado, recebeu o título máximo na conferência, numa disputa com outros 800 trabalhos. O projeto de Viviane é baseado na mistura de paladium e platina para diminuir a emissão de gases tóxicos, resultado de horas de pesquisa no laboratório da universidade holandesa, onde realizou estudos focados em nanotecnologia. 

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