Modulação epigenética realmente existe? Entenda o que Maíra Cardi quis dizer sobre “zerar genes” durante a gravidez

Comentário da coach e ex-BBB causou revolta na comunidade científica, mas especialista explica que expressão de genomas que causam doenças pode ser evitada
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Modulação epigenética realmente existe? Entenda o que Maíra Cardi quis dizer sobre “zerar genes” durante a gravidez
Maíra Cardi é coach e ex-BBB (Foto: Reprodução/Instagram)

Durante participação num programa de televisão de alcance nacional, a coach e ex-BBB Maíra Cardi revelou ter feito modulação epigenética antes de engravidar da filha Sophia, atualmente com três anos. “Muita gente não sabe o que é, então vou fazer uma explicação breve. É quando você e seu marido mudam a alimentação antes da gravidez para zerar a genética de doenças”, disse, dando a entender que uma dieta adotada pelos pais seria capaz de livrar completamente o bebê de qualquer anomalia decorrente de alterações no DNA.

Apesar de parecer uma alternativa muito atraente – afinal, que mãe não sonha com um filho totalmente saudável? -, a modulação epigenética, na verdade, nem existe. É o que explica a Dra Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista. “Esse foi um nome que a Maíra Cardi criou. O que existe é a programação metabólica fetal, que permite ‘programar’ o organismo da mãe para gerar o mínimo nível de danos ao bebê durante a gestão”, conta a médica. 

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Apesar de a explicação parecer complexa, na verdade é bem simples – e comum – durante o pré-natal. Segundo a especialista, algumas doenças podem, de fato, ser transmitidas para o bebê durante a gravidez. Um exemplo é a diabetes gestacional. “Se a mãe desenvolve essa doença durante a gestação, o risco de a criança ser diabética ou obesa na adolescência aumenta”, diz. 

Mariana cita, ainda, o exemplo da pré-eclâmpsia, que pode fazer com que o bebê tenha dificuldade em ganhar peso e facilidade de desenvolver doenças metabólicas, como a própria diabetes e colesterol alto. Até a exposição da mãe a metais e pesticidas pode aumentar o risco de a criança desenvolver algumas doenças. Mas para entender tudo isso, é importante começar pelo início.

O que é epigenética

O termo vem do idioma grego: “epi” significa “acima, perto, a seguir”. “O conceito nada mais é do que tudo aquilo que está acima da genética”, diz a médica. A comunidade científica entende que a epigenética trata da modificação dos genes que serão herdados pela próxima geração, mas que não alteram o DNA. 

De forma simplificada, Mariana explica que, como não podemos mudar totalmente a nossa genética ou retirar um gene do nosso DNA – e, na verdade, nem devemos, pois isso causaria sérios danos – a epigenética trabalha na mudança da expressão de tais genes.  

“Se, por exemplo, meu avô e minha mãe tiveram diabetes, é provável que eu também tenha. Ou seja, eu posso carregar um gene para a doença.” Segundo ela, esses genes podem não se manifestar durante a vida toda – mas isso depende de uma combinação entre hábitos da mãe durante a gravidez e da criança, tanto após o nascimento, quanto ao longo dos anos. “Assim, pode ser que esse gene fique quietinho e não se expresse.” 

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Isso é possível por meio da programação metabólica fetal, conceito que defende que todo evento que acontece na vida do bebê, tanto na fase intra-uterina quanto na lactação, pode interferir no decorrer de sua vida. Se a mãe consumir bebidas alcoólicas, por exemplo, a criança terá chances de apresentar retardo no desenvolvimento. “A programação metabólica, portanto, utiliza-se da epigenética para evitar a expressão desses genes”, explica Mariana. Estão incluídos aí, entre outras iniciativas, a prática de exercícios físicos, uma dieta equilibrada e até completar o esquema de vacinação. Essas pequenas atitudes podem, portanto, ajudar a evitar que genes “doentes” se expressem ao longo da vida.

Assim, o fato de uma criança nascer e crescer saudável está, na realidade, muito mais ligado a um estilo de vida que contemple bons hábitos do que à genética. “E, claro, de incluir a criança nessa rotina de costumes salutares”, diz Mariana

Portanto, apesar do que afirmou Maíra Cardi, zerar a genética de um feto por meio da alimentação não é algo possível. “Mas é possível estimular o mecanismo de inibição da expressão dos genes por meio de uma dieta saudável durante a gestação”, conclui.

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