Elas protegem: 8 profissionais de diferentes áreas que atuam na defesa dos direitos femininos

Da área acadêmica à linha de frente contra a violência, elas lutam para diminuir os índices de agressão e ajudam a reconstruir vidas
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Na última quinta-feira (10), Claudielia Miranda de Aguiar foi morta a facadas pelo ex-cunhado ao sair do salão de beleza onde trabalhava, em Montes Claros (MG). O homem não aceitava o fim do relacionamento com a irmã da vítima e, para se vingar, cumpriu a promessa de que faria mal à família da ex-companheira. 

Um dia antes, em Belo Horizonte, uma mulher de 40 anos foi assassinada da mesma forma pelo marido na mesma casa onde o filho do casal, que encontrou o corpo, estava. A lista de casos de violência contra a mulher cresce diariamente e ganhou ainda mais força durante o período de isolamento social causado pela pandemia de Covid-19.

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O Brasil é um país inseguro e perigoso para as mulheres e os números podem ser assustadores. De acordo com a Rede Observatórios da Segurança, em 2021, uma mulher foi vítima de violência a cada cinco horas. Já um levantamento elaborado pelo Senado Federal mostrou que 68% das entrevistadas conhecem uma ou mais mulheres vítimas de violência doméstica.

E, embora os números sejam alarmantes, o perigo não está apenas dentro de casa. Segundo a pesquisa ”Percepções sobre Segurança das Mulheres nos Deslocamentos pela Cidade”, desenvolvida por meio de uma parceria entre o Instituto Patrícia Galvão, Instituto Locomotiva, Uber e ONU Mulheres, 81% das brasileiras já sofreram violência durante seus trajetos. 

Paula Danese, professora dos cursos de direito e relações internacionais do Ibmec, diz que apesar da Lei Maria da Penha, que completou 15 anos em 2021 e é bastante celebrada, inclusive na comunidade internacional, e um modelo a ser seguido, o Brasil ainda tem muito a evoluir no que diz respeito à proteção das mulheres.

No entanto, se por um lado ainda falta muito a ser feito em termos de políticas públicas, por outro há uma série de mulheres que arregaçou as mangas e criou  iniciativas paralelas para aumentar os níveis de proteção. Conheça, a seguir, 8 delas:

Amanda Oliveira

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Amanda Oliveira (Foto: Divulgação As Valquírias)

Nascida e criada em uma comunidade carente de São Paulo, Amanda Oliveira viu na música uma oportunidade de se desenvolver e buscar um futuro com melhores oportunidades do que aquelas que enxergava no seu dia a dia. Seu primeiro contato com o tema aconteceu graças a um projeto social que a levou pelo mesmo caminho.

Depois de sua experiência, ainda jovem, no projeto, Amanda resolveu fundar um grupo de percussão, que acabou se transformando na banda As Valquírias. Da banda, o projeto evoluiu para um instituto que carrega o mesmo nome e tem por finalidade cuidar e proteger meninas nascidas na periferia, oferecendo oportunidades de estudo e trabalho.

Para Amanda, educar uma menina significa promover a educação para toda uma nação. Nesse sentido, o instituto atua, em parceria com diversos órgãos jurídicos, em defesa dos direitos das mulheres desde a infância, não apenas buscando formas de ampliar o acesso à educação, mas também protegendo-as em situações vulneráveis.

Ana Carolina Barros Silva

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Ana Carolina Barros Silva (Foto: Arquivo Pessoal)

Ana Carolina Barros Silva é psicanalista, formada em psicologia pela Universidade de São Paulo e especialista em psicanálise com crianças pelo Instituto SEDES Sapientiae. Ela utiliza as diferentes formas de terapias e cuidados psicológicos para promover a proteção emocional às mulheres. 

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Entre seus projetos, Ana foi idealizadora e fundadora da iniciativa Roda Terapêutica das Pretas e fundou, também, a Casa de Marias, espaço terapêutico focado, principalmente, em pautas que envolvem gênero, raça, classe social e território.

Gabriela Manssur

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Gabriela Manssur (Foto: Edson Lopes Jr.)

Uma das principais vozes no Brasil sobre proteção às mulheres, Gabriela Manssur é promotora de justiça do estado de São Paulo desde 2003 e se especializou na promoção e na defesa dos direitos femininos. Ela desenvolveu, entre outros projetos, a plataforma Justiça de Saia, na qual aborda diversos temas relacionados aos direitos das mulheres.

Gabriela também é autora do projeto Tempo de Despertar, que busca promover a ressocialização de homens que praticaram crimes de violência contra a mulher por meio de grupos reflexivos. O projeto já virou lei municipal em Taboão da Serra, estadual em São Paulo e, atualmente, tramita no Senado Federal.

Gisele Truzzi

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Gisele Truzzi (Foto: Andrea Tarelow)

Fanática por tecnologia desde muito cedo, Gisele Truzzi, advogada especialista em direito digital e sócia-fundadora de Truzzi Advogados, se encantou pelo direito ainda na infância. Ela conta que seus tios eram advogados e, em visitas recorrentes ao escritório onde atendiam, passava horas folheando os livros e jurisprudências.

Na época em que estava na faculdade – ela é graduada em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie -, no início dos anos 2000, Gisele se interessou pela área penal e, a partir daí, percebeu que podia unir esses conhecimentos com sua paixão pela tecnologia. 

Naquele tempo, os crimes digitais ainda não eram tão comuns como atualmente e a advogada conta que seus amigos e colegas de classe a questionaram bastante sobre a decisão de se especializar em um tema que parecia tão distante e abstrato. No entanto, desde 2005 Gisele vem atuando na área que, hoje, é essencial no direito.

Os desafios enfrentados na carreira foram muito além dos questionamentos dos colegas de faculdade. Pelo contrário. “Eu sofri um machismo ao quadrado, porque o direito só hoje está se igualando em número de advogadas e advogados, e a tecnologia ainda é uma área predominantemente ocupada por homens”, afirma.

De não ser ouvida em reuniões e palestras até situações mais constrangedoras, como ser questionada sobre o porquê estar realizando uma viagem de trabalho sem a companhia do marido, Gisele diz que já enfrentou muitas situações para chegar até aqui, com o seu próprio escritório de advocacia e sendo reconhecida nacionalmente como um forte nome no direito digital.

Sobre a sua prática profissional, a advogada, que já atendeu centenas de casos envolvendo mulheres, destaca que há uma tendência maior de que alguns crimes digitais aconteçam, em sua maioria, com pessoas do gênero feminino. Vazamento de fotos íntimas, fraudes que envolvam relacionamentos e laços mais emocionais e stalking, o crime de perseguição online, são praticados principalmente contra mulheres.

Nesse sentido, além da proteção que, como advogada, Gisele pode tentar promover às suas clientes, a especialista ressalta a necessidade de um trabalho em conjunto com terapias para oferecer, também, o cuidado psicológico para as vítimas.

Hellen Moreno

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Hellen Moreno (Foto: Divulgação/ Hellen Moreno Advogada)

Advogada, colunista da Elas Que Lucrem e focada em causas femininas. Essa é Hellen Moreno. “Minha vocação é apoiar mulheres a passarem pelo desafio de reconstruírem suas vidas após o divórcio ou complexas questões judiciais no âmbito familiar, podendo usufruir de orientação e apoio humanizado”, diz ela sobre seu trabalho.

A advogada é mãe de dois meninos e, depois da experiência da maternidade, conta que se viu dividida entre dois desafios: o papel como mãe e a continuidade de sua trajetória profissional.

Foi naquele momento que Hellen passou a prestar mais atenção às violências sofridas pelas mulheres pelo simples fato de serem mulheres. Ela comenta que se deparou com as dores que suas clientes lhe traziam. “Muitas vezes, elas tinham vergonha de contar a própria história.” Assim, a advogada mudou o foco de sua carreira e, desde então, dedica-se às causas femininas.

Marina Calife 

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Marina Calefi (Foto: Arquivo Pessoal)

Apaixonada pela área de impacto social, Marina Calife é, desde 2020, gerente de projetos sociais da Cruz Vermelha de São Paulo. Formada em relações internacionais pela PUC e em história pela USP, tem, ainda, um MBA em gestão de projetos pela Fundação Getúlio Vargas.

Na Cruz Vermelha, Marina já desenvolveu uma série de projetos com o objetivo de promover uma mudança de vida para os participantes. Entre eles, destaca as rodas de conversas com mulheres sobre violência doméstica, realizadas sempre com a parceria de uma psicóloga e/ou uma delegada da Delegacia da Mulher. 

“É assustador o número de mulheres que chegam até a gente quando fazemos essas rodas de conversa”, comenta. Marina pontua, também, que, no decorrer de todo o projeto, várias das vítimas receberam apoio e denunciaram seus agressores.

Logo no início da carreira, a profissional trabalhou com refugiados e, a partir de suas experiências, ela afirma que “infelizmente, a violência contra a mulher é algo muito democrático”, tendo em vista que acontece com pessoas de diferentes nacionalidades, classes sociais, ideologias e em todas as partes do mundo.

Marina, que já trabalhou também em uma iniciativa que tinha como meta possibilitar que mulheres em situações adversas, como mães que não conseguem vagas para seus filhos na escola, pudessem trabalhar de casa para gerar renda, considera que a independência financeira feminina é um ponto essencial para a proteção contra as diversas violências.

“A dependência econômica da mulher de um homem gera uma série de violências que a gente vê sendo criadas e fortalecidas. Então, com a independência, elas conseguem enxergar outras possibilidades. O empoderamento financeiro da mulher é de suma importância para sair desse ciclo de violências psicológica, patrimonial e física”, afirma.

Paula Danese

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Paula Danese (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes de optar pelo direito na época do vestibular, a professora Paula Danese cogitava estudar relações internacionais, já que sempre se sentiu conectada à questão da globalização. 

No entanto, após ler a biografia de Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro e Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, decidiu que estudaria direito para conseguir ter um alcance maior e “ir a campo”. Sua meta era causar impacto no mundo.

Paula conta que toda a sua formação está intimamente ligada aos direitos humanos e em como o direito internacional pode impactá-los. A professora, que é doutoranda em direito internacional pela USP e estagia na Comissão de Direitos Humanos da ONU, aponta que foi justamente do seu interesse pelos direitos humanos que a pauta da igualdade de gênero ganhou importância na sua vida e trajetória.

“A mulher não é livre de descriminação e, por isso mesmo, não tem liberdade de escolha. Suas alternativas são pautadas no medo e nos estereótipos de seu papel na sociedade”, afirma. 

Paula acredita e busca promover o empoderamento das mulheres por meio dos direitos humanos. Para isso, ela considera que conhecer as leis e todos os seus trâmites é essencial para a proteção das mulheres perante a sociedade. “A educação baseada no direito é aquilo que vai permitir efetivá-lo, porque o grupo que não conhece seus direitos, não vai exercê-los”, explica.

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Atuante na área acadêmica dos direitos humanos e pesquisadora do tema, Paula participa de projetos que buscam integrar a sociedade civil aos estudos e apresentar possíveis soluções ao poder público.

Sandra Ornellas

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Sandra Ornellas (Foto: André Costa)

Diretora do Departamento Geral de Polícia de Atendimento à Mulher (DGPAM) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Sandra Ornellas trabalha na linha de frente da proteção às mulheres vítimas de alguma forma de violência, principalmente doméstica.

A delegada participou da Operação Resguardo no Rio de Janeiro, responsável pela prisão de dezenas de homens acusados de violência contra a mulher. Em entrevista coletiva, ela ressaltou que a polícia sabe que a casa é o local mais violento para a mulher. “Ali, vivem a vítima e o autor dos crimes”, disse.

Sob sua direção, o DGPAM passou a buscar formas de ampliar e facilitar o acesso aos canais de denúncia. No ano passado, em uma conversa online promovida pela TVIAB no YouTube com quatro delegadas, Sandra contou que um estudo foi iniciado para entender como a Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ) pode modernizar o atendimento pelo telefone 197, focado em receber denúncias de mulheres que sofreram agressões físicas.

Segundo ela, que destaca que, na maioria dos casos brasileiros de feminicídio, as vítimas sofrem diversas formas de violência antes e não denunciam seus agressores por medo, o estudo da PCRJ sobre o atendimento telefônico das vítimas tem como objetivo ser mais inclusivo para mulheres com alguma deficiência visual ou auditiva.

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