Os primeiros acordes da bossa nova surgiram em reuniões de frente para o mar realizadas em apartamentos da classe média carioca. O gênero musical, mistura de samba e jazz, ganhou popularidade entre os universitários na década de 1950 e, então, conquistou o Brasil.
As “rodas de bossa nova”, no entanto, eram majoritariamente formadas por homens. Artistas como Leny Andrade, Wanda Sá e Doris Monteiro ficaram perdidas entre os expoentes masculinos que se apossaram dos acordes – e da história – do movimento.
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Ainda assim, a bossa nova teve sua musa. Ela nem gostava do título e, na primeira oportunidade, provou que era muito mais do que um rostinho feminino que servia de vitrine para as canções em tons de sussurro. Nara Leão foi precursora de diversos gêneros musicais. Por isso, apesar de seu descontentamento, é justo que seja reconhecida como a musa da bossa nova. Mas certamente não foi a única.
Apesar do fim da bossa nova – em 1965, quando a MPB chegou abarcando diversas tendências da música brasileira -, a estética do estilo permaneceu, influenciando as gerações posteriores, principalmente de artistas do jazz e – acredite – do pós-punk britânico.
Para celebrar o Dia da Bossa Nova, comemorado hoje (25), vamos relembrar outras artistas que fizeram parte do movimento:
Astrud Gilberto
Filha de mãe brasileira e pai alemão, Astrud Gilberto nasceu em Salvador, na Bahia, mas se mudou para o Rio de Janeiro aos sete anos, para morar na célebre Avenida Atlântica, em Copacabana. Tímida, foi por incentivo de sua vizinha Nara Leão que começou a cantar. Além disso, foi Nara quem apresentou a amiga a João Gilberto, com quem se casou e teve um filho. A estreia profissional de Astrud foi em 1960, quando subiu ao palco pela primeira vez.
De 1965 a 2002, harmonizou canções de bossa nova, MPB, standards do jazz e até se aventurou por outros idiomas – sua versão em inglês de “Garota de Ipanema” conquistou o mundo. Ao todo, gravou 18 álbuns solo. Aos 81 anos, continua vivendo nos Estados Unidos, para onde se mudou em 1963. Além disso, Astrud foi agraciada com o prêmio Latin Jazz USA Award for Lifetime Achievement, em 1992, e incluída no International Latin Music Hall of Fame, em 2002. É também reconhecida por seu trabalho como artista plástica e pela luta em favor dos animais.
Doris Monteiro
A carioca estreou aos 15 anos na Rádio Nacional do Rio de Janeiro cantando em francês. Considerada uma das mais expressivas cantoras da transição do samba-canção para a bossa nova, a artista tem um papel importante na história da música brasileira também por ter afiançado o início da carreira de grandes compositores, como Tom Jobim e Dolores Duran. Além disso, Doris foi tão expressiva nos anos 1950, 1960 e 1970 que até foi parar no cinema: foram 11 filmes entre 1953 e 1974. Mas, a música sempre foi sua prioridade. Basta dar uma olhada em sua discografia: são mais de 50 discos gravados. No último deles, “As Divas do Sambalanço”, de 2020, juntou-se a Claudette Soares e Eliana Pittman. Aos 88 anos, Doris havia começado a idealizar um projeto de gravar um álbum com músicas de Marcos Valle, mas foi interrompido pela pandemia de Covid-19.
Leny Andrade
Nascida no Rio de Janeiro, Leny Andrade se apaixonou pela música aos seis anos, quando começou a receber aulas de piano da mãe. Naquela época, como o instrumento pedia, dedicava-se exclusivamente à música clássica. Ainda na infância, acompanhada do pai, costumava se apresentar em bailes. Por isso, sua estreia profissional foi muito cedo, aos 15 anos, quando foi crooner da orquestra do Maestro Permínio Gonçalves. Mas Leny logo se transferiu dos palcos para o Beco das Garrafas, reduto de boêmios e músicos da bossa nova. Ela, que viveu o nascimento do gênero musical em 1957 e fez carreira internacional, gravou mais de 30 discos e foi comparada a Ella Fitzgerald pelo “New York Times”.
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Aos 79 anos, também teve seus projetos interrompidos pela crise sanitária. Se não fosse por isso, Leny teria entrado em estúdio no início deste mês para gravar um disco com o pianista Gilson Peranzzetta. No setlist, “Por Causa de Você”, de Tom Jobim e Dolores Duran, e “Dindi”, também de Tom, com a parceria de Aloysio de Oliveira.
Nara Leão
Nara Leão é capixaba, mas cresceu no Rio de Janeiro, mais especificamente na Avenida Atlântica, em frente ao Posto 4. Sua história com a bossa nova é tão interligada que falar de Nara é também contar como esse gênero musical surgiu: em reuniões, muitas delas no apartamento com vista para o mar onde morava, entre músicos da classe média carioca.
Mesmo tendo recebido o título de “musa da bossa nova”, a artista deixou de lado as amarras e se aventurou pelo samba, MPB e até fez parte da Tropicália ao longo dos 28 discos gravados ao longo de sua carreira. A honraria de ser a musa desse gênero musical nunca agradou a cantora, afinal, ela era muito mais do que simplesmente bossa nova: era uma mulher à frente do seu tempo, uma opositora à ditadura e uma pesquisadora da música. Nara faleceu em 1989, em decorrência de um tumor no cérebro.
Sylvia Telles
A pequena Sylvia D’Atri Telles queria ser bailarina, mas, depois de fazer um curso de teatro, descobriu que seu talento era cantar. Filha de parisiense com carioca, a artista iniciou sua carreira quando Billy Blanco, amigo da família, reconheceu seu dom e a apresentou a outros músicos. Desde então, a cantora não parou mais, gravando 13 discos ao longo de uma carreira curta: ela morreu aos 32 anos em um acidente de carro com o então namorado Horacinho de Carvalho. Mesmo assim, Sylvia deixou um legado, que está, inclusive, estampado nos primórdios da bossa nova, afinal, foi no show “Carlos Lyra, Sylvia Telles e os seus Bossa Nova” que o gênero musical foi batizado.
Wanda Sá
Embora tenha nascido em São Paulo, Wanda Sá mudou-se com os pais para a capital carioca muito cedo. Aos 11 anos começou a tocar violão, e descobriu a paixão pela bossa nova: sentava-se na primeira fileira dos espetáculos para memorizar os acordes do braço do violão. Posteriormente, foi aluna de Roberto Menescal, um dos fundadores do gênero musical. Em 1962, aos 18 anos, passou a dar aulas na escola de música mantida por ele e estreou profissionalmente na carreira artística.
Alguns anos depois, após se casar com Edu Lobo, largou a música e passou a residir nos Estados Unidos. Mas, a pausa na carreira chegou ao fim em 1982, quando o casal se separou. Wanda gravou mais de 20 discos, vários em parceria com Menescal. Há menos de uma semana, o cantor e instrumentista Sérgio Britto, do Titãs, lançou o single “Cadê”, uma bossa com participação especial de Roberto Menescal e Wanda Sá.
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