Dólar rompe patamar de R$ 5, o menor desde junho de 2021

Preços baixos das ações e taxa de juros em alta chamam atenção dos investidores estrangeiros
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John Guccione/Pexels
A moeda norte-americana chegou a ser vendida a R$ 4,99 ao longo da manhã (Foto: John Guccione/Pexels)

Pela primeira vez desde junho de 2021, o dólar rompeu – para baixo – a barreira psicológica dos R$ 5, após algumas semanas de queda contínua. Às 15h, a moeda norte-americana era negociada a R$ 5,01, mas ao longo da manhã chegou a ser vendida a R$ 4,99. 

Segundo especialistas, a desvalorização do dólar é causada por dois principais motivos: a forte entrada de investidores estrangeiros no mercado acionário brasileiro desde o começo do ano e o atual patamar da Selic, taxa básica de juros, que está em 10,75% ao ano, nível muito maior do que os juros de países desenvolvidos e outras divisas emergentes.

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Embora a moeda norte-americana já tenha recuado 11,68% desde o primeiro pregão de 2022, em 3 de janeiro, quando era negociada a R$ 5,68, Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, pontua que o real segue bastante depreciado. Com base em modelos matemáticos, o preço justo do dólar atualmente estaria dentro do intervalo de R$ 4,20 e R$ 4,70.

Por que o dólar está caindo?

De acordo com o BTG Pactual, o Brasil entrou de novo no radar dos investidores estrangeiros por conta do valuation das ações das empresas do país – ou seja, o preço dos papéis brasileiros de companhias consideradas de qualidade pelo mercado estão mais baratos -, além de uma taxa de juros que tem diferencial em relação a outros mercados.

“Não tem nada a ver com nossos acertos e erros recentes, mas sim com boas companhias e boa estrutura de mercado”, ressalta o banco.

Ações mais baratas atraem capital estrangeiro

Nos últimos meses de 2021, com a deterioração do cenário macroeconômico, a bolsa de valores acabou sendo prejudicada. As perspectivas de risco fiscal com a questão da PEC dos Precatórios e a reformulação do teto de gastos, além da inflação persistente, fez crescer a cautela dos investidores com os ativos brasileiros.

Naquele contexto, muito capital estrangeiro saiu do mercado acionário do Brasil e diversas ações registraram uma forte desvalorização, ficando com preços mais atrativos. Assim, desde os primeiros dias de janeiro, investidores de outros países passaram a aproveitar essas oportunidades e, em 2022, o fluxo líquido de investimento estrangeiro na B3 está positivo em mais de R$ 56 bilhões.

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Com os conflitos geopolíticos entre Rússia e Ucrânia, região com grandes reservas de diversas commodities, as empresas que mais estão atraindo os investimentos são, justamente, as exportadoras desses produtos, como a Petrobras, por exemplo. Com mais dinheiro entrando na bolsa, mais valorizado fica o real frente ao dólar.

Taxa Selic em alta também atrai

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada nos dias 1 e 2 de fevereiro, a Selic foi elevada em 1,5%, chegando a 10,75% ao ano. Também houve uma sinalização de que o ciclo de altas da taxa básica de juros deve se estender por mais algum tempo, a fim de tentar conter a escalada dos preços.

“Com a taxa Selic subindo por aqui, fica relativamente mais atraente para os investidores colocarem dinheiro no Brasil, dado que os juros nos outros países continuam mais baixos”, pontua Rachel.

Vale lembrar que, por ser a taxa básica, a Selic serve como referência para os juros (ou rendimentos) oferecidos pelas instituições financeiras para boa parte dos investimentos da renda fixa brasileira. Assim, os títulos nacionais são opções mais atraentes, inclusive, para os investidores estrangeiros. “Com mais moeda estrangeira entrando, maior o valor da nossa moeda”, afirma a economista da Rico.

Quais são as perspectivas para o dólar?

Para Rachel, apesar da queda recente, o dólar deve continuar bastante volátil ao longo de 2022, principalmente tendo em vista que este é um ano eleitoral, repleto de incertezas políticas e econômicas. Rachel projeta que a moeda norte-americana deve fechar o ano cotada em torno de R$ 5,70 e cair para cerca de R$ 5,30 em 2023.

“Embora a taxa de câmbio seja uma variável econômica, ela também é um instrumento financeiro. Assim, é precificada como os outros ativos: de acordo com a percepção de risco [de se ter aquele ativo na carteira]. Neste caso, o risco é comprar reais e ativos que são precificados em reais”, destaca a economista.

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A especialista ressalta, ainda, que é justamente nessa conta que entram “Brasília, os ruídos políticos e, em especial, o risco fiscal”. Um ambiente político cheio de incertezas e a preocupação de que o Governo Federal não pague suas contas são fatores que tendem a afastar os investidores do mercado brasileiro.

O risco dos juros nos Estados Unidos

Além do cenário macroeconômico brasileiro já bastante instável, as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) eleve a taxa de juros nos Estados Unidos também trazem uma perspectiva de alta no preço do dólar nos próximos meses.

Atualmente, os juros nos EUA estão estáveis entre 0% e 0,25%, o que faz com que os títulos públicos norte-americanos, que são considerados os mais seguros do mundo, não entreguem uma rentabilidade tão atrativa para os investidores. 

Porém, o Fed já sinalizou que deve elevar essa taxa de juros nos próximos meses para controlar o avanço da inflação no país. Dessa forma, os títulos públicos passarão a ter uma rentabilidade maior, com tendência de que os investidores migrem suas alocações, retirando dinheiro do Brasil e, por fim, valorizando o dólar.

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