Investir dinheiro é algo natural, ou está fora do seu radar? Se você se identificou com o segundo grupo, saiba que não está sozinha. De acordo com uma pesquisa do Instituto Reclame Aqui, sete em cada dez brasileiros não têm o hábito de investir o dinheiro que recebem. Os motivos principais apontados por essas pessoas são a falta de domínio do assunto, medo de perder, de se arriscar e achar que têm pouco dinheiro para fazer um investimento, embora, atualmente, uma pequena quantia já seja suficiente para começar, como explica a economista e educadora financeira Janile Soares.
“Com a evolução do mercado financeiro, modelos inovadores de instituições e de plataformas mais intuitivas para investimentos, é possível a todos terem acesso a aplicações financeiras. Hoje é possível a todos comprar uma ação fracionada de qualquer empresa negociada na bolsa de valores, de fundos imobiliários e investir a partir de R$ 30,00 no Tesouro Direto”, exemplifica.

Dentro do comportamento tímido que o brasileiro ainda tem com relação a investir, podemos observar outro recorte: as mulheres ainda investem menos do que os homens. O Raio-X do Investidor Brasileiro, pesquisa realizada em 2021 pela Associação Nacional das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), mostra que o percentual de mulheres que não investem chega a 72%, enquanto o de homens está em 66%.
De fato, ter informação é fundamental para investir com responsabilidade e combater o medo, mas, hoje em dia, existem recursos diversos, mais acessíveis e até gratuitos para buscar informação sobre o assunto. São consultores, sites, canais de educação financeira, perfis nas redes sociais e os próprios bancos. Além disso, a própria cultura do investimento mudou e se tornou mais próxima.
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“Até poucas décadas atrás, as aplicações financeiras eram menos acessíveis à população. O acesso aos títulos públicos, por exemplo, era realizado apenas pelas instituições financeiras, assim como os fundos imobiliários, que existem há vários anos, mas só agora se popularizaram devido aos valores de entrada nos fundos e à sua liquidez. A poupança, que sempre foi a ‘queridinha’ da maioria dos brasileiros, hoje tem que dividir o seu lugar com outras aplicações que se tornaram mais democráticas ao longo da evolução bancária do país”, afirma Janile.
Investimentos diversos e mais acessíveis
Como Janile adiantou, a poupança sempre foi o mais popular dos investimentos e, há algumas décadas, optar por ela era uma forma de se resguardar, realizar sonhos, ou até de pensar no futuro. Apesar de ser considerada segura, pela estabilidade do investimento, não apresenta boa rentabilidade. No ano de 2022, por exemplo, o maior rendimento da poupança foi em agosto, quando ela chegou a 0,7421%.
Ana Santos, jornalista, lembra que, quando era criança, ganhou da madrinha uma caderneta de poupança. O dinheiro depositado nela era para o futuro.
“Quando cheguei à adolescência, por sugestão da minha mãe, acabei comprando um computador com o dinheiro da poupança. Era a época em que os PCs, os computadores pessoais de mesa, estavam começando a se tornar um pouco mais acessíveis, mas ainda assim eram bem caros. Depois disso, nunca mais tive nenhum investimento, mesmo quando comecei a trabalhar, até porque nunca sobrou dinheiro e achava que precisava de uma grande quantia para investir. Só recentemente, aos 40 anos, quando recebi uma indenização trabalhista, comecei a pensar em fazer investimentos de baixo risco, mas que rendem melhor que a poupança. Me encaixo no time de pessoas sem muito conhecimento sobre o assunto e que ainda têm medo de perder dinheiro. Comecei abrindo uma conta em um banco digital e estou pegando dicas com o meu companheiro, que já faz uso desses produtos há mais tempo”, explica Ana.
A pesquisa Raio-X do Investidor Brasileiro de 2021 também traz outras informações sobre o perfil do brasileiro quando o assunto é investimento. A poupança ainda aparece como preferência de 23% da população investidora. Em seguida, vêm os fundos de investimentos (3%), os títulos privados (2%), as ações na bolsa de valores (2%) e os títulos públicos (2%). Um novo produto citado na pesquisa foram as criptomoedas, com 2% dos investimentos feitos em 2021, mas a maior parte dos investidores dessa modalidade faz parte das gerações Z e Millenials, ou seja, pessoas de 16 a 40 anos de idade.
“Essa democratização das aplicações financeiras faz com que exista um maior acesso e mais facilitado aos investimentos, por outro lado, todos os dias surgem novas modalidades, o que dificulta a escolha do pequeno investidor e do investidor iniciante. É necessário que os investidores tenham conhecimento para escolher onde aplicar o seu dinheiro”, aponta a economista Janile Soares.
E esse conhecimento requer pesquisa. Você pode ser leiga, mas precisa ter interesse e cuidado. Se não tiver como fazer uma consultoria particular, pesquise nomes de referência no setor de finanças e educação financeira e busque ler, assistir a vídeos e entender, de acordo com a sua renda, qual investimento é mais recomendável. Busque informações também sobre a instituição na qual você pretende aplicar o dinheiro e, claro, conheça a si mesma e entenda qual é o seu objetivo.
“Sobre o investimento, é preciso saber sobre os riscos, as taxas, prazos e as garantias que estão envolvidas em uma operação. Sobre a instituição, verificar se ela tem autorização para funcionar e oferecer investimentos e isso se verifica no Banco Central e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que são os órgãos reguladores. Fazer essa verificação é extremamente relevante porque evita muitos golpes. E sobre si mesmo, é importante identificar os seus objetivos financeiros para não errar nos prazos, responder ao API, a Análise do Perfil do Investidor, que é um questionário para identificar os seus objetivos, situação financeira e nível de conhecimento sobre os riscos relacionados aos produtos de investimento e que está disposto a correr para obter rentabilidade”, orienta Janile.
Tempo convertido em dinheiro
Você já parou para pensar que o dinheiro investido está rendendo sem que você precise fazer nada com ele? O trabalho inicial é a busca por informação, para saber como investir. A partir daí, é esperar o tempo estabelecido para o investimento que escolheu.
“Investir é usado ao nosso favor em diversos aspectos: para realizar sonhos e atingir objetivos; para ter tranquilidade hoje, através da reserva de emergência, e no futuro, garantindo que existe um patrimônio ali para ser utilizado em qualquer situação; para fazer o seu dinheiro crescer, visto que quando ele fica parado na conta, ou guardado em casa, ele não está crescendo, pois deixa de receber a rentabilidade que os investimentos podem ter; para que o dinheiro não perca valor ao longo do tempo – e isso se dá através da rentabilidade, pois com a evolução da inflação o dinheiro acaba perdendo o seu valor se ficar parado”, alerta Janile.
Por isso, a paciência é também uma aliada. Há pessoas que investem, mas, ao primeiro sinal de desorganização financeira, recorrem a esse dinheiro para “apagar um incêndio”. Dessa forma, dificilmente o dinheiro renderá o esperado e a lógica de fazer um investimento será frustrada.
No vídeo “Como comecei a investir meu dinheiro?”, do canal do Youtube Nath Finanças, a jovem empresária e influenciadora, que ganhou fama fazendo vídeos sobre educação financeira, conta que já cometeu este erro.
“Meu primeiro investimento foi na poupança e eu cometi um erro que todos os brasileiros já cometeram. Eu já tinha o pensamento de montar uma reserva para alguma coisa, sabe? Sei lá, se eu fosse demitida, eu pensava nisso. Então, montava meio que uma reserva de emergência sem saber, porque eu não tinha educação financeira na época, mas não era uma reserva de emergência, porque eu usava esse dinheiro para simplesmente ‘ah, tô sem dinheiro agora, não caiu o dinheiro do pagamento, tá no final do mês’, eu pegava o dinheiro lá da poupança, sabe? Para comprar coisas, para sair, sei lá, usava esse dinheiro. Não pensava ‘se acontecer alguma coisa, eu tenho que montar minha reserva de emergência’. Eu não tinha essa consciência financeira”, conta Nath Finanças no vídeo.
Por isso, assim como é importante ter uma organização financeira para administrar o dinheiro no dia a dia, a mesma organização é necessária quando o objetivo é investir.
“A gestão do tempo e a organização financeira andam juntas. O dinheiro deve ser tratado como um meio de conquistar conforto e bem-estar no nosso dia-a-dia, além de ser uma forma de viabilizar projetos e realizar planos e sonhos. Assim, dentro da abordagem de finanças pessoais, o tempo é aliado da organização financeira para a realização das suas conquistas. Mas é preciso estruturá-los de acordo com aquilo que se deseja alcançar. Em outras palavras, é preciso ter um planejamento. Portanto, o tempo influencia no planejamento de vida. Ter um horizonte temporal é extremamente importante: saber o que se deseja e quando – se é no curto prazo, médio prazo e longo prazo – é necessário para que possa estruturar o seu planejamento e a carteira de investimentos e que você saiba para onde direcionar os esforços financeiros ao longo da vida”, finaliza a economista Janile Soares.
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