“Quem tem alopecia está todo dia brigando com o espelho e tentando se reinventar”, diz influenciadora sobre condição de Jada Smith

Criadora da página “Vale Cada Fio”, Camila Rolim usa as redes sociais para compartilhar seu processo de aceitação e ajudar outras mulheres na mesma situação
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No fim de 2021, Jada Smith compartilhou um vídeo em seu Instagram contando sobre o diagnóstico de alopecia (Foto: Divulgação)

“Quando eu fui diagnosticada com alopecia, há cerca de 10 anos, nunca tinha ouvido falar na condição. Eu sei o quanto é difícil porque me senti muito sozinha”, conta Camila Rolim, que, aos 25 anos, precisou lidar com a queda de cabelo e com todos os impactos que isso gerou na sua autoestima. Para ela, ver a doença sendo discutida mundialmente por conta do Oscar 2022 é uma grande oportunidade de falar sobre o assunto e gerar espaço de acolhimento para outras mulheres que passam pela mesma situação que ela e a atriz Jada Smith. 

“As mulheres não falam muito sobre isso. Essa é uma grande dificuldade: quem tem, esconde por vergonha. Homens podem ser carecas, mas nós, mulheres, somos julgadas pela sociedade”, destaca. De certa forma, o imbróglio causado na maior premiação do cinema, na noite de ontem (27), referenda o preconceito relatado por Camila. Durante o evento, o humorista Chris Rock fez uma “piada” comparando Jada – que está com o cabelo raspado por conta da alopecia – à personagem G.I. Jane, do filme “Até o Limite da Honra”, de 1997, que tem o cabelo no mesmo estilo, já que é integrante da Marinha. Ao perceber que sua esposa ficou desconfortável, Will Smith levantou do seu lugar, subiu ao palco e deu um tapa em Rock, alertando para que o comediante não falasse mais sobre Jada. 

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No fim de 2021, Jada Smith compartilhou um vídeo em seu Instagram contando sobre o diagnóstico de alopecia. Em tom de brincadeira, ela falou sobre esconder as falhas que apareceram por conta da doença. “Vou colocar umas joias e transformar em uma coroa”, brincou. “Cheguei ao ponto em que só posso rir. Vocês sabem que eu tenho lidado com a alopecia e, do nada, apareceu essa falha nova aqui. Essa vai ser mais difícil de esconder. Então achei melhor mostrar para todos, para não surgirem dúvidas”, completou a atriz, que logo decidiu raspar todo o cabelo como uma forma de lidar melhor com as falhas que iam surgindo.

“Eu não apoio a violência, mas com certeza a atitude dele foi algo que já passou na minha cabeça e na cabeça de todo mundo que tem alopecia. Ele vivencia o sofrimento diário da esposa. Quem tem alopecia está todo dia brigando com o espelho e tentando se reinventar para se gostar de novo daquela forma que a vida impôs”, opina Camila. “Independentemente da alopecia que a pessoa tenha, acredito que muitos se sentiram representados pela atitude de Will Smith. Foi compreensível. Sentimos vontade de dar esse mesmo tapa quando falam do nosso cabelo.” 

Em tratamento há uma década, Camila já conseguiu estagnar um pouco do avanço da alopecia – no seu caso, alopecia androgenética, uma forma de queda de cabelos geneticamente determinada -, mas ainda precisa lidar com os folículos que já fecharam e não se recuperam. Já no caso de Jada Smith, a atriz enfrenta a alopecia areata, causada por uma doença autoimune. O próprio sistema do corpo ataca os folículos capilares, provocando a queda de fios na região central da cabeça e, possivelmente, em todo o corpo, dependendo do caso. “A alopecia areata, condição de Jada Smith, acomete 2% da população mundial e é muito comum em mulheres negras. Além disso, ocorre mais comumente na região central da cabeça, embora possa afetar o corpo inteiro”, explica a dermatologista Katleen Conceição, chefe do setor de dermatologia para pele negra do grupo Paula Bellotti. 

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Em tratamento há uma década, Camila já conseguiu estagnar um pouco do avanço da alopecia (Foto: Divulgação)

A médica ainda ressalta que há outros tipos de alopecia, como a tração, a central centrífuga e a fibrosante frontal. Para tratá-las corretamente, ela recomenda a busca por um dermatologista especializado em tricologia. “Não há cura para alopecia, mas existem tratamentos”, ressalta. “Medicamentos tópicos como minoxidil, corticoides e antralina podem ser utilizados em tratamentos mais agressivos. Corticóides injetáveis podem ser adotados  em áreas bem delimitadas do couro cabeludo ou do corpo. A opção deve ser realizada pelo dermatologista em conjunto com o paciente.” 

Mas, embora cada tratamento e cada sintoma seja individual, há um fator em comum entre todos os tipos de alopecia: o impacto no amor próprio e na saúde mental. “A autoestima das mulheres está, muitas vezes, ligada ao cabelo. Clinicamente, a  doença não é grave, mas afeta sim a autoconfiança e o estado emocional. Um cenário que exige atenção”, diz Katleen. “É uma condição que sempre nos leva por altos e baixos. Estamos tristes e apreensivas e ainda precisamos lidar com comentários como esses de ontem no Oscar. Uma situação triste para quem passa por isso”, completa Camila. 

Para ela, que se sentia desamparada durante o tratamento, a solução foi criar uma página no Instagram para compartilhar sua trajetória e encontrar outras mulheres que estivessem passando pelo mesmo. Após três anos, a “Vale Cada Fio” já conta com quase 50 mil seguidores e é responsável por uma rede de apoio de mulheres com alopecia que vem se fortalecendo a cada dia. “Eu sei o quanto é difícil e o quanto nós sofremos, então criei essa frente. Com o perfil, descobri que tem muita gente com a mesma condição que a minha. Muitas mulheres entram em contato comigo chorando e eu choro junto com elas. É muito importante nos sentirmos acolhidas.”

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Aos 35 anos e lidando todos os dias com os impactos da queda de cabelo, Camila ressalta a importância de se falar sobre o assunto de uma forma respeitosa e empática. “Eu fiquei cerca de quatro anos me consultando com vários médicos até descobrir o que eu tinha. Não é um assunto muito falado e quem tem acaba se achando um extraterrestre”, completa. Com o termo em alta por conta do episódio no Oscar, a influenciadora aproveita o seu espaço no Instagram para relembrar e reforçar: “Mais respeito, por favor”.

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