Fanny, a essencial – e pouco conhecida – 1ª banda de rock feminina da história

Fundado em 1969, grupo foi elogiado por David Bowie e inspirou as próximas gerações de musicistas
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Grupo beliscou as paradas da Billboard durante a década de 1970 (Foto: Reprodução)

Era 1969, na Califórnia, Estados Unidos, quando quatro mulheres decidiram se juntar para expressar os desafios femininos da época em forma de música – mais especificamente, em rock n roll.  Batizada de Fanny, a banda se tornou o primeiro grupo feminino do gênero da história a lançar um disco oficial e colocar uma música entre as 40 mais tocadas do país, segundo a Billboard.

Formada pelas irmãs June e Jean Millington, imigrantes filhas de um pai norte-americano e uma mãe filipina, além de Nickey Barclay e Alice de Buhr, a banda enfrentou a hegemonia da indústria musical da época para se lançar no mercado inexplorado do que viria a ser o ‘boom’ do rock feminino com The Runaways, Joan Jett & The Blackhearts e Blondie anos mais tarde. 

Mas a mudança proposta pelo grupo não se limitava ao gênero de suas integrantes. Enquanto o ocidente assistia o fenômeno da revolução sexual, Fanny se mantinha longe dos estereótipos singelos ou demasiadamente eróticos presente no universo musical feminino da época. Pelo contrário: tão discretas possíveis para rockstars, o quarteto se inspirou em ídolos do rock, funk e soul para compor canções que destacavam pela qualidade, atitude e agressividade. 

O protagonismo da música, em detrimento do gênero e sexualidade da banda, foi um dos grandes desafios enfrentados pelas instrumentistas. Quando foram descobertas pelo produtor Richard Perry, da gravadora Warner, as integrantes da Fanny não precisaram tocar nem um acorde. Fascinado pela formação feminina, o empresário fez questão de contratar o grupo sem ao menos escutá-las. 

Banda fugia dos estereótipos de grupo feminino da época (Foto: Divulgação)

Apesar do sexismo envolto nas negociações, nos seus breves anos de existência, a Fanny conseguiu lançar cinco discos. Entre eles, Fanny (1970), Charity Ball (1971), Fanny Hill (1972), Mother’s Pride (1973) e Rock and Roll Survivors (1974). Durante esse tempo, a banda também ganhou fãs de peso, como é o caso de David Bowie

“Elas foram uma das melhores bandas de rock de seu tempo. Eram tão importantes quanto todos os outros. Escreviam tudo, tocavam pra cacete, eram colossais e maravilhosas, mas ninguém nunca as menciona”, disse Bowie em entrevista para a revista Rolling Stone, em 1999.

A relação de amizade com o camaleão do rock acabou inspirando um dos maiores hits da banda, “Butter Boy”.  Na data de lançamento, em 1974, a música chegou a alcançar o 29º lugar nas paradas da Billboard. Nesse período, no entanto, a banda já dava os últimos passos para o fim. Um ano antes, a guitarrista June havia anunciado que deixaria o grupo devido a postura artificial cobrada pelas gravadoras em prol do desempenho comercial dos discos. 

“Nada mal para garotas”

A identidade carregada nas melodias e letras de Fanny renderam elogios que não parecem condizer com a efemeridade de seu sucesso na história da música. No lançamento do terceiro disco do grupo, Fanny Hill, a revista Rolling Stones chegou a comentar o enorme potencial criativo da banda. “O número de grupos que conseguem inspirar afeição do jeito que Fanny alcança com esse disco, simplesmente a partir da exuberância de sua música, é realmente pequeno”, diz a crítica.

Paralelamente, o quarteto também mal conseguia se definir – e se manter – como banda. Enquanto seguiam com as músicas e álbuns próprios, as instrumentistas viajam em turnê abrindo shows para bandas como Kinks, Procol Harum, Jethro Tull e Humble Pie. Nas horas vagas, elas ainda trabalhavam em estúdios musicais dando som e melodia para cantores solos. Rotina bem diferente de seus semelhantes masculinos da época. 

Apesar da curta duração, Fanny inspirou as próximas gerações de rockeiras dos EUA (Foto: Divulgação)

Mas aqueles eram tempos perigosos para mulheres do rock e cada pequeno avanço merecia ser celebrado, como explicou June Millington em entrevista recente para o G1.  “Para uma jovem, era perigoso, porque os homens sabiam dessas coisas e então quando eu pedia ajuda a eles, eles simplesmente achavam que eu estava dando em cima deles. Então, era perigoso e eu aprendi a lidar com meus medos ou com o que as pessoas estavam pensando”, afirmou ela na ocasião. 

“O melhor elogio que a gente recebia, e ouvimos centenas de vezes, eram homens chegarem até nós e dizerem: ‘Olha, nada mal para garotas’”, afirmou June em reportagem do G1. 

O fato é que, décadas após sua dissolução, as pioneiras do rock feminino – que viraram referência declarada para sucessoras como Runaways, Go Go’s e Bangles – parecem ter caído em esquecimento na cena musical. No último ano, o lançamento do documentário “FANNY: The Right to Rock” tentou mudar esse cenário ao resgatar o talento das quatro mulheres que dividiam o vocal, os instrumentos e os palcos da Califórnia setentista. 

Fugindo de qualquer pensamento saudosista, aos 74 anos, June ainda faz a diferença para a representatividade de gênero no rock. Desde 1986, a guitarrista é uma das responsáveis pelo Institute for the Musical Arts, nos Estados Unidos. A instituição procura encorajar e capacitar meninas do país a formarem suas próprias bandas, assim como ela e suas parceiras fizeram há 50 anos. 

“Acho que só agora as pessoas estão prontas para nós. A sociedade antes não estava preparada”, finaliza June ao G1. 

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