Com o final de ano, profissionais regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) recebem o 13º salário, um dinheiro extra que pode tornar realidade uma série de planos e desejos cultivados no decorrer dos meses anteriores. Mas gastar essa renda adicional talvez não seja a melhor opção, já que dezembro e janeiro são períodos que trazem consigo mais despesas do que os demais. São gastos com as festas de Natal, presentes, viagens de férias, impostos e material escolar, entre outros.
Vale destacar que poder escolher entre usar esse dinheiro para viajar ou fazer compras, por exemplo, assim como guardá-lo para os gastos do início do ano, é um privilégio de poucos brasileiros. Segundo uma pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) em 2019, cerca de 87% dos entrevistados pretendiam usar o valor para quitar dívidas.
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Neste ano, o cenário deve ser ainda pior, visto que 74,6% das famílias brasileiras sofrem com o endividamento, conforme dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O prazo para o pagamento da primeira parcela do 13º salário aos trabalhadores com carteira assinada termina no próximo dia 30. Por isso, é essencial se organizar para aproveitar a gratificação. Para ajudar nisso, conversamos com duas especialistas e listamos, a seguir, 5 dicas para usar esse recurso de forma inteligente:
1 – Não gaste todo o dinheiro
Nayara Boer, planejadora financeira e sócia da Renova Invest, escritório plugado ao BTG Pactual, recomenda não gastar todo o dinheiro. “Pode até separar uma parte para comprar alguma coisa para você ou aproveitar a Black Friday, mas o ideal é usar esse momento para fazer um planejamento do seu ano seguinte, de acordo com as suas necessidades.”
A analista da Empiricus Larissa Quaresma concorda que essa não é a melhor época para se dar ao luxo de não poupar dinheiro. “Nunca é uma boa gastar tudo, independentemente da forma de renda. É importante guardar uma parte, pode ser 5% ou 10%. Mesmo que seja um momento mais emotivo do ano, as pessoas que se importam com você nem sempre querem saber do valor de um presente. O tempo e o esforço colocados na lembrança valem muito mais.”
2 – Faça um bom planejamento
Nayara lembra, ainda, que há uma série de gastos no início de cada ano, como matrícula das escolas, faculdades ou cursos, IPVA e IPTU, entre outros. Para não entrar em 2022 já no vermelho, a sugestão da especialista é fazer um bom planejamento financeiro. “Analise se tem dívidas, entenda as suas finanças, veja se tem dinheiro sobrando ou se tem algo que gostaria de trocar ou comprar. É um bom momento para você sentar e organizar tudo isso. Tenha consciência financeira. Quando a gente cria isso, as coisas fluem muito melhor. Não fica aquela sensação de que gastamos sem perceber, de que o dinheiro sumiu.”
3 – Quite as dívidas
Pagar as dívidas também deve ser uma das prioridades, segundo Nayara Boer. A especialista diz que quitar os débitos pode fazer sentido se eles não forem maiores do que a gratificação. “Se for uma dívida barata, como uma conta de celular atrasada, é importante usar esse momento para ajustar a situação, até porque os juros são muito altos e, com a recente alta da taxa Selic, tudo encarece um pouco mais.”
Para ela, na hora de escolher qual conta pagar primeiro, as que ficam no grupo de necessidade devem estar em primeiro lugar, como energia, água, gás e internet. “Claro que o ideal é não dever, mas se tiver de atrasar alguma conta, que seja para o banco. Na linha de prioridades, a necessidade é o que conta. Depois o que cobra mais juros”, acrescenta.
Larissa alerta, ainda, que se forem cobranças atreladas ao CDI ou a algum componente variável, como uma dívida vinculada ao IPCA, por exemplo, é importante quitar esse débito o quanto antes, já que o custo dessa dívida só vai aumentar nos próximos meses por causa do aumento dos juros e da inflação.
4 – Procure descontos e adiante pagamentos
A planejadora financeira destaca que o 13º salário também pode ser útil para conseguir descontos. “Pagamentos à vista, por exemplo, costumam oferecer condições melhores. No caso do IPVA, IPTU ou matrículas de escola, é comum a barganha por descontos já que o pagamento será feito de forma adiantada.”
5 – Invista
Se você não tiver débitos e nem interesse em gastar o dinheiro neste fim de ano, uma opção é investir toda ou parte da quantia. “É possível começar a investir com R$ 1. Nos dias de hoje, não tem mais desculpa. Investimento deixou de ser algo para quem tem muito dinheiro, para quem tem salário alto ou para quem tem patrimônio. Muito pelo contrário. A gente consegue disponibilizar R$ 30 em um título público, que é uma das coisas mais seguras que existem”, diz Nayara.
A recomendação é colocar o dinheiro em renda fixa, inicialmente. “Depois eu iria para algumas coisas diferentes, como CDB, LCA, LCI, essas letrinhas que representam emissões de bancos e que também trazem segurança. Se já tiver dinheiro aplicado e quiser diversificar, com R$ 30 é possível comprar ações ou apostar em fundos imobiliários. Então, há opções para todos os perfis, independentemente dos valores.”
Já a dica de Larissa passa pelos títulos públicos de renda fixa com vencimentos mais curtos, como o tesouro prefixado 2024 ou 2025. “Hoje, esses títulos possuem uma rentabilidade maior do que os que vencem em 2030, por exemplo. E isso é uma anomalia, é a inversão da curva de juros, pagar mais com o vencimento mais curto. Esse é um fenômeno que demora a acontecer, até porque, no geral, o maior retorno é para os que permanecem no papel por mais tempo.”
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