80 anos de Ana Maria Machado: a autora que moldou em livros a infância dos brasileiros

Atual presidente da Academia Brasileira de Letras, escritora fluminense é a responsável por obras como “Menina Bonita do Laço de Fita”
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Ana nasceu no Rio de Janeiro, em 1941 (Foto: Divulgação)

Nascida no Rio de Janeiro de 1941, às vésperas do Natal, Ana Maria Machado completa hoje 80 anos de idade. A escritora infanto-juvenil que assina obras como “Menina Bonita do Laço de Fita” (1986) é a atual presidente da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa uma cadeira desde 2003. Ao lado de Lygia Bojunga, é uma das únicas brasileiras a receber o prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante da literatura infantil no mundo. 

Sua carreira está indubitavelmente ligada à revista “Recreio”, periódico lançado pela Abril em 1969. Foi a editora responsável pela publicação, Sônia Robatto, quem convenceu Ana a dar os primeiros passos na literatura, encomendando textos semanais da então professora de língua portuguesa. Em uma entrevista a um jornal em 2007, a autora contou que chegou a pensar que o convite era um equívoco, mas logo descobriu que a equipe do jornal havia feito uma pesquisa para descobrir quem eram os professores que mais agradavam aos alunos jovens da época.  

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Vida entrelinhas 

No caso de Ana Maria, a produção literária começou discreta, muito bem acompanhada de uma jornada acadêmica distinta. Formada em letras neolatinas pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFi), a carioca chegou a ser exilada na Europa durante a década de 1970 por fazer parte de um movimento de resistência à ditadura militar. Ao desembarcar na França, logo se tornou professora de língua portuguesa na Sorbonne, a mais tradicional universidade do país. No mesmo período, ingressou em um grupo de estudantes na École Pratique des Hautes Études, onde teve orientação do famoso semiólogo Roland Barthes para redigir seu doutorado em linguística e semiologia. 

Paralelamente, Ana prosseguia com a carreira de jornalista. Ainda na Europa, contribuiu para a revista “Elle” de Paris e para a BBC de Londres. Já no Brasil, trabalhou no “Correio da Manhã”, em “O Globo” e no “Jornal do Brasil”, além de liderar por sete anos, entre 1973 e 1980, o departamento de jornalismo do Sistema Jornal do Brasil de Rádio. 

Com o sucesso das histórias na “Recreio”, cujas edições chegam a vender até cinco vezes mais quando levavam a assinatura de Ana na capa, em 1977 ela publicou seu primeiro livro completo, o “Bento que Bento é o Frade”, título que remete a uma antiga brincadeira feita pelas crianças fluminenses. No ano seguinte, foi a vez de “História Meio ao Contrário”, texto que adaptou o formato dos contos de fada e que lhe rendeu um Prêmio Jabuti. 

Como dizem que a opinião do público é a que importa, Ana não parou de escrever desde então. Sucesso entre crianças, adultos e especialistas, ela já conta com mais de 100 livros publicados, 20 milhões de exemplares vendidos e traduções para 20 idiomas.

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Um grego de 3.000 anos atrás 

Um dia, enquanto visitava escolas no México onde as crianças conheciam seus livros, Ana Maria se deparou com uma pergunta inquieta de um menino de, aproximadamente, 10 anos. “Quantos anos você tem?”, ele perguntou. Ela respondeu que tinha 62. Depois de ouvir isso, o garoto continuou: “Você mora no Brasil?”. A autora confirmou que sim. E ele insistiu: “Como é que uma senhora brasileira de 62 anos sabe exatamente o que está dentro da cabeça de uma criança mexicana de 10?”. 

O episódio descrito pela autora durante uma entrevista é, segundo ela, o resumo perfeito da definição e da importância da literatura. Naquele dia, a carioca contou ao menino que havia, há 3.000 anos, um grego que sabia exatamente o que estava dentro da cabeça dela – e dele também. Uma síntese capaz de explicar os mistérios da arte para qualquer geração e cultura, ao melhor estilo de Ana Maria Machado. 

Para ela, a facilidade em falar com o público infantil vem de muita observação – o que a fez perceber que as crianças sabem exatamente o que gostam e que não gostam. Exigências que ela mesma tinha quando era apenas uma leitora voraz de cinco anos de idade. Também durante uma entrevista, a professora contou que, atualmente, costuma ler suas histórias em voz alta para o neto, em uma espécie de “teste”. Se ele continuar brincando enquanto ouve o enredo, é hora de fazer alguns ajustes. 

Seguidora fiel de seu ofício, Ana Maria escreve todos os dias. Sejam conversas de elevador, falas que ouviu na rua ou a descrição de um bom perfume. “As palavras têm que nos obedecer. Quando você precisar delas, elas têm que vir”, diz. 

Aniversário com novidades

Nada mais simbólico para um escritor do que comemorar mais um ano de vida acompanhado de uma nova obra.  No caso de Ana Maria, a celebração ficará por conta do lançamento de “Rastros e Riscos”, da editora Ática. O livro inclui uma coletânea de histórias e memórias autobiográficas da autora escritas ao longo da pandemia. “Rastros de uma jornada que me trouxe até aqui. Uma boa jornada, apesar dos riscos”, escreveu na introdução. 

Entre os episódios retratados estão a forma como a literatura mudou o destino da vida de muitas pessoas, assim como o dela  – ou ainda do garçom Zé e do menino André, personagens que aparecem para mostrar que o senso crítico literário, muitas vezes, escapa dos limites de idade ou classe social.

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