O peso da maternidade: mães se sentem sobrecarregadas o tempo todo

Conciliar maternidade, carreira e vida pessoal pode parecer missão impossível para muitas mulheres. Mas não deveria ser assim.
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Conciliar maternidade, carreira e vida pessoal pode parecer missão impossível para muitas mulheres. Mas não deveria ser assim.

“Amo meus filhos, mas o preço que se paga pela maternidade é muito alto”. A frase da empresária Daniela Rondini define bem como é ser mãe hoje em dia. Sem uma rede de apoio adequada e exercendo a maternidade solo, muitas mulheres acabam sobrecarregadas e com esgotamento mental.

Daniela está separada dos pais de seus três filhos há um ano e meio, mas diz que mesmo antes já exercia a maternidade solo. “O pai sempre teve pouca participação efetiva, nós mães ficamos sobrecarregadas na função de criar e educar as crianças”. Segundo a empresária, a separação piorou ainda mais a situação.

“As funções continuam sendo minhas, porém quando vão para a casa do pai, a rotina, o modo de fazer coisas e as decisões que são tomadas são diferentes, acabando interferindo de forma negativa na educação das crianças. O pai é mais permissivo e faz coisas para agradar as crianças e nem sempre é educativo. Os pensamentos que antes eram em comum e discutidos em conjunto, agora não são mais. Cada um faz o que acha que está certo, o que causa prejuízo na educação e criação dos filhos”, diz. “A mãe fica mais sobrecarrega porque além de estar presente o tempo todo, ela não tem com quem dividir nenhuma das tarefas.”

Érica Marinho, mãe de uma menina de quatro anos, continua casada com o pai de sua filha, mas sente que o peso da maternidade é diferente da paternidade. “A mãe se sobrecarrega bem mais pensando se o filho comeu, se tem que dar vacina, levar no pediatra. Dorme e acorda pensando que horas vai conseguir marcar natação para que consiga levar, no meio dos compromissos de trabalho. O pai não precisa pensar nada disso”, diz. Ela está mudando de emprego e ainda está tentando definir uma estratégia de como irá dividir os horários para dar conta de tudo. “Parece que o que ela faz depois da escola é problema meu”, diz.

“Sinto-me constantemente culpada, querendo sempre fazer o melhor pelas crianças, atender as expectativas de ser mãe, mulher, profissional”, explica Daniela. Ela diz que também é constantemente cobrada para que volte ao mercado de trabalho, mesmo quase não tendo tempo para si mesma.

Conciliar a maternidade com uma carreira profissional pode ser extremamente desafiador devido à falta de políticas de licença maternidade e paternidade adequadas, falta de creches acessíveis ou uma rede de apoio. No caso de Daniela e de Érica, os avós das crianças moram distante, o que dificulta ainda mais a existência de redes de apoio.

“Muitas mães enfrentam o dilema de equilibrar as demandas do trabalho com as necessidades de seus filhos, o que pode levar a altos níveis de estresse e esgotamento”, explica a psicóloga Bruna Silva.

“A maternidade é gratificante quando você percebe que está formando um ser humano bom, com princípios e caráter”, diz Daniela. “Mas é extenuante física e mentalmente por ter que abrir mão de coisas que poderiam ser feitas pra mim ou por mim, como uma profissão ou dedicação maior ao trabalho.” 

O papel do pai

Ainda que o papel do parceiro na criação dos filhos tenha evoluído nos últimos anos, com algumas empresas ampliando a licença paternidade, e a criação de leis específicas sobre pensão e guardas compartilhadas, ainda há uma disparidade significativa nos papeis de homens e mulheres. “Não há, no Brasil, uma cultura de que o homem assuma a paternidade em pé de igualdade com as mulheres. Ainda é comum que a mulher precise faltar ao trabalho quando o filho fica doente, ela é a responsável por olhar na agenda, levar e buscar às atividades”, diz Bruna.

Para que haja uma real mudança, Bruna aponta que é preciso um esforço de toda a sociedade, para que valorize igualmente o trabalho doméstico e a paternidade, além de maior apoio emocional e prático dos parceiros.

Políticas públicas

Políticas governamentais que reconheçam a importância da licença paternidade remunerada, licença maternidade adequada, acesso a creches, são algumas políticas públicas cruciais para aliviar o peso da maternidade. Mães que têm acesso a uma rede de segurança financeira e emocional se sentem menos esgotadas.

No Brasil, a legislação prevê 120 dias (equivalente a quatro meses) de licença maternidade tanto para parto quanto para adoção de crianças até 12 anos de idade.

A licença paternidade até hoje não foi regulamentada no Brasil, sendo que em 1988, a Constituição Federal citou, no artigo 7, a licença-paternidade como um dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais no Brasil. A constituição diz que esse direito precisa ser disciplinado em lei, mas que, enquanto isso não acontecer, o prazo é de cinco dias. Até hoje não houve regulamentação. Em 2016, uma lei prorrogou por 15 dias, além dos cinco já estabelecidos, a duração do benefício para os trabalhadores de empresas que aderirem ao Programa Empresa Cidadã.

Comparada com outros países, a regra brasileira é bastante limitada, o que gera ainda mais desequilíbrio na distribuição de tarefas e cuidados. “A sociedade mudou muito desde que foi colocada em pauta. Hoje, a mulher está muito mais inserida no mercado de trabalho, a revisão desse prazo de licença paternidade é urgente”, explica Silva.

Maternidade e sociedade

A sociedade desempenha um papel fundamental na mitigação do esgotamento materno. Uma cultura que valoriza e apoia as mães, que reconhece e redistribui equitativamente as responsabilidades parentais entre os parceiros, e que oferece recursos adequados, como grupos de apoio à maternidade, terapia acessível e programas de educação parental, pode ajudar a aliviar o esgotamento materno.

“Enquanto perpetuarmos a ideia de que é papel apenas da mulher cuidar dos filhos, que o homem apenas deve dar ‘apoio’ e não dividir igualmente as tarefas, tivermos políticas públicas que garantam esse tempo de cuidado para ambos, não teremos mudanças efetivas na sociedade”, finaliza Bruna.

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