Esposa Troféu: o que é isso e por que essa tendência está em alta?

O termo gera debates e divide opiniões sobre gênero, valores e o papel da mulher 
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O termo gera debates e divide opiniões sobre gênero, valores e o papel da mulher 

Nos últimos meses, o termo “Esposa Troféu” tem sido discutido nas redes sociais, despertando uma série de debates acalorados e opiniões divergentes. 

Mas afinal, o que significa ser uma “Esposa Troféu” e quais são as implicações desse papel para as mulheres?

O que é uma “Esposa Troféu”?

Originado no contexto dos relacionamentos interpessoais, o termo “Esposa Troféu” carrega consigo uma série de significados, implicações e interpretações, despertando debates sobre gênero, poder e valores sociais.

De modo geral, a definição mais aceita defende que a “Esposa Troféu” é uma ideia que descreve uma mulher que é valorizada, principalmente, por sua aparência física, status social ou associação a um parceiro masculino bem-sucedido. 

Essa mulher é comumente vista como um símbolo de prestígio para seu marido ou companheiro, sendo exibida por ele como um “troféu” para mostrar sua conquista.

Como e quando surgiu?

Não há consenso sobre a origem do termo. Alguns defendem que o surgimento tenha ocorrido na década de 1950, com o crescimento da cultura de consumo e a ascensão da classe média alta. 

No entanto, o conceito de uma “Esposa Troféu” pode ser rastreado até contextos culturais mais distantes, onde as mulheres eram valorizadas por sua beleza e capacidade de promover o status social de seus parceiros.

Então, embora não haja uma origem precisa para o termo, é possível compreender que sua concepção está enraizada historicamente em dinâmicas de poder e hierarquia de gênero que sempre estiveram presentes na sociedade de forma estrutural. 

O que significa ser uma Esposa Troféu?

Recentemente, o depoimento de mulheres compartilhando abertamente nas redes sociais suas vidas como esposas mantidas pelos maridos chamou a atenção.

Elas exibiam um estilo de vida que consideram compatível ao de uma “parceria de valorização”, na qual descreviam uma rotina sem preocupações financeiras e uma agenda tomada por compras e cuidados estéticos. 

Os comentários sobre essas postagens dividiam opiniões. Enquanto algumas mulheres criticaram a abordagem, classificando como “gananciosa” ou “submissa”, outras expressavam o desejo de encontrar um parceiro que também as colocassem nessa espécie de “pedestal”. 

Em um dos vídeos, uma internauta questionava: “Como faço para ter isso para mim?”. Outra declarava: “Eu nasci para ser uma esposa troféu.”

Polarização nos pontos de vista

Definitivamente, o assunto é tratado de maneira polarizada: alguns defendem a liberdade individual de escolher esse estilo de vida. Já outros criticam a ideia como perpetuadora de estereótipos prejudiciais de gênero e desigualdade. 

No entanto, independentemente dos extremos, é preciso observar a questão de forma mais ampla. Em muitos casos, ser uma “Esposa Troféu” pode implicar em uma perda de autonomia e independência, com a mulher sendo objetificada como um símbolo de status em vez de ser valorizada por suas próprias habilidades, conquistas e individualidade.

Mirla Cisne, professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern) alerta para os perigos dessa dependência financeira, especialmente quando isso resulta em uma desigualdade de poder na relação. Ela destaca que mesmo quando a mulher opta por não trabalhar, é essencial manter uma relação saudável e equilibrada.

“Em uma relação de dependência, a mulher pode se tornar uma propriedade em que o homem faz investimentos. Às vezes pode parecer cuidado ou valorização, mas quando a mulher não corresponde mais aos interesses do investidor ele pode simplesmente descartá-la”, disse em entrevista à BBC News.

Ser uma Esposa Troféu não é uma realidade para todas 

No entanto, a possibilidade de optar por abrir mão da própria carreira e se dedicar a um relacionamento, onde o parceiro assume o sustento da casa não reflete a realidade da maioria das mulheres brasileiras. 

De acordo com dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estavam envolvidas em atividades de estudo ou trabalho no ano de 2022. Dessas, pelo menos 2 milhões afirmaram que precisaram abandonar suas ocupações para assumir responsabilidades domésticas ou cuidar de familiares.

A professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Economia Feminista (NEEF), Brena Fernandez, aponta que casos de mulheres que vivem em uma posição de “troféu” são exceções.

“A grande maioria das mulheres que não trabalha e é dependente financeiramente dos maridos no Brasil não tem condições financeiras boas e o faz não por desejo próprio, mas por necessidade”, disse ela à BBC News.

“Elas não dão conta de trabalhar fora por falta de formação ou porque precisam estar envolvidas com o trabalho invisível de cuidados e não têm condições de obter ajuda para que possam cumprir a segunda jornada”, complementa a especialista. 

Uma questão pessoal

Brena Fernandez destaca ainda que a luta pela independência feminina inclui o direito de fazer escolhas pessoais. 

Segundo ela, embora haja diferentes perspectivas dentro do feminismo, o objetivo comum é garantir os direitos fundamentais. Isso engloba desde o acesso à educação básica até a oportunidade de seguir uma carreira profissional. 

No entanto, a especialista ressalta que se uma mulher optar por não exercer esse direito, isso deve ser respeitado como uma “questão pessoal”.

A importância da independência financeira 

Para as mulheres que se identificam como “esposas troféu” ou aspiram a esse papel, é importante estar ciente das possíveis consequências e armadilhas associadas a essa posição. 

Embora essas esposas sejam admiradas por algumas mulheres que desejam um estilo de vida semelhante, algumas das próprias influenciadoras do assunto nas redes sociais reconhecem que ser uma “Esposa Troféu” não reflete sua realidade financeira, destacando a importância de planejar para o futuro e se resguardar, independentemente das escolhas feitas no presente.

Especialistas concordam que é importante para as mulheres se valorizar além da aparência física e buscar independência financeira, emocional e pessoal. Além disso, é fundamental garantir que a relação seja baseada no respeito mútuo, na igualdade de poder e na autonomia individual.

Casais que dividem a conta 

E já que o assunto “Esposa Troféu” está ligado ao relacionamento de casais, um caminho para a conquista da independência financeira é garantir uma vida a dois equilibrada neste aspecto.

“É importante um bom alinhamento financeiro já no início do relacionamento”, aconselha o economista e especialista em finanças pessoais, Stephan Sawitzki.

Na visão do especialista, em um mundo moderno é mais comum que ambos sejam geradores de renda. Nesse sentido, “dividir as contas é cada vez mais necessário. E mais que isso, proporciona uma sinergia maior, um senso de pertencimento do ‘nós’ e não do ‘eu e você’”. 

Estar atento a essas questões evita cobranças desnecessárias que, aos poucos, podem, inclusive, atrapalhar a relação.

“Gosto da ideia de uma relação moderna, onde a transparência financeira seja a ótica do relacionamento. Cada parte decide suas responsabilidades e obrigações, de acordo com a capacidade financeira de cada um, objetivando alcançar as aspirações do casal. Acredito ser essa a forma mais duradoura e saudável de manutenção da saúde do relacionamento”, reforça o especialista em finanças.

“Esposa Troféu” também pode ser independente 

Apesar das eventuais críticas ao status de “Esposa Troféu”, uma mulher que esteja nessa posição pode garantir sua independência financeira a partir de ações que se alinhem às suas preferências e objetivos. Alguns caminhos possíveis são:

  • Investir em educação e desenvolvimento profissional: ela pode considerar cursos, certificações ou treinamentos que ampliem suas habilidades e conhecimentos em áreas de interesse.
  • Explorar oportunidades de empreendedorismo: essa é uma forma de criar sua própria fonte de renda e autonomia financeira, até mesmo em áreas relacionadas à sua imagem ou estilo pessoal.
  • Educação financeira: mesmo que não possua uma renda própria, ela pode aprender a gerenciar o orçamento e ter noções sobre investimentos.
  • Networking: construir relacionamentos estratégicos, tanto pessoais, quanto profissionais, pode ser benéfico em qualquer situação.
  • Estabelecer metas financeiras: independentemente da relação presente, é importante pensar no futuro. Por isso, definir metas financeiras claras de curto e longo prazo, como aposentadoria, pode ser um caminho mais sustentável em sua jornada. 

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