Assédio no trabalho: você já passou por isso?

Neste artigo, vamos compreender o que é, seus diferentes tipos, como podem se apresentar e o mais importante: o que fazer, caso você seja vítima.
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O ambiente de trabalho é onde passamos grande parte do nosso tempo de nossas vidas. É um local onde deveríamos nos sentir seguros, celebrados e valorizados.

Infelizmente, nem sempre é assim. E um dos problemas que podem tirar a paz de profissionais mundo afora é o assédio no trabalho. 

Neste artigo, vamos falar sobre isto. Vamos compreender o que é, seus diferentes tipos, como podem se apresentar e o mais importante: o que fazer, caso você seja vítima. 

Será que você já passou por uma situação de assédio no seu trabalho?

É assim, segundo o psicólogo, que nasce o que é identificado como a figura de autoridade no trabalho. 

Quem são as figuras de autoridade e como lidamos com elas

De acordo com Serra, a figura de autoridade aparece como um/uma chefe, líder, supervisor, CEO, etc.. Mas, nem sempre possui um rosto. Antes, pode ser um software, a cultura da empresa ou uma equipe, por exemplo.

“Eles são lugares ‘chave’ importantes que norteiam e facilitam a produção e tomada de decisões do funcionário/colaborador, a fim de desenvolver e receber o máximo de sua capacidade e potência ocupacional”, comenta Serra. 

Neste processo, ocorre uma identificação de compromisso inconsciente da pessoa diante de sua figura de poder, o que, segundo ele, é natural e previsto. 

Contudo, “o grande conflito acontece quando há uma exacerbação da figura de poder nas relações, fazendo com que ocorra um desaparecimento do sentido de desenvolvimento e potência para uma extrapolação da autoridade”, alerta o profissional.

Domínio e subordinação: como equilibrar a autoridade dentro das empresas

Para que as empresas consigam trabalhar e refletir sobre situações de abuso e assédio na relação entre domínio e subordinação, um caminho é a formação de uma estrutura horizontal, na qual é importante identificar papéis como “sujeito x objeto”, conforme sugere o psicólogo. 

Nessa relação, ele explica que o “sujeito” seria o detentor do conhecimento, aquele que possui autoridade, autonomia, segurança, manejo e domínio formado pelo conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes correspondentes à sua função. 

Já o “objeto” é aquele passível de manipulação, que não possui segurança, autonomia nem campo de atuação sem que haja um “facilitador”. 

Contudo, de acordo com o psicólogo, a partir desta premissa, é possível verificar que todos nós somos “sujeitos”, independente da posição que ocupamos.  Ou seja, atuamos como “sujeitos detentores de uma determinada função”. 

Isso porque todos nós reunimos conhecimentos, habilidades e atitudes, mesmo quando estamos atuando na condição de subordinados.

“Dessa forma, o método sujeito > sujeito pode fixar cargos e respeitar suas hierarquias, mas com o respeito e o cuidado com o fator humano acima de seu cargo/função”, observa. 

O que é assédio no trabalho?

Mas, se é possível respeitar as relações humanas dentro de uma corporação, independentemente do cargo ocupado, o que é o assédio e por quê ele surge?

Embora seja um termo apropriado recentemente na história, assédio é toda forma de conduta exploratória, acompanhada ou não de ameaças constantes de demissão, constrangimento público ou privado, restrição de direitos ou atividades, seja por suas características físicas, identidade e gênero, ocupacionais, cognitivas, étnicas, entre outros. 

“Vale lembrar também que o assédio sempre ocorreu. Somos um país construído com base na exploração durante séculos”, explica o psicólogo. 

Tipos de assédio no trabalho

O termo “assédio no trabalho” possui diversas facetas, moral, sexual, psicológico, racial, sendo o assédio moral um dos mais passíveis de processos hoje em dia. 

Assédio sexual

O assédio sexual ocorre quando há avanços, insinuações, piadas ou qualquer outro comportamento de natureza sexual que cause desconforto à vítima. Isso inclui comentários ofensivos, propostas indecentes, toques não consentidos e qualquer forma de coerção sexual.

Assédio moral

O assédio moral é caracterizado por práticas que visam desvalorizar, humilhar ou discriminar um indivíduo no ambiente de trabalho. Pode envolver insultos, ridicularização, sobrecarga de trabalho, exclusão social e qualquer ação que afete a autonomia e o bem-estar emocional da vítima.

Assédio psicológico

Envolve ações repetitivas e hostis que têm como objetivo prejudicar a saúde mental e emocional da vítima. Isso pode incluir ameaças, intimidação, perseguição, gritos constantes, difamação e qualquer outro comportamento que cause angústia psicológica.

Assédio racial

O assédio racial ocorre quando um indivíduo é alvo de comportamentos discriminatórios devido à sua raça, cor, nacionalidade ou etnia. Isso pode incluir comentários ofensivos, piadas, exclusão social, insultos e tratamento injusto com base em características raciais.

Estou sofrendo assédio no trabalho?

Embora o termo possua uma definição clara, nem sempre as características de cada forma de assédio podem acontecer de maneira explícita, conforme aponta William Serra. “Nestes casos, somente os atendimentos individualizados podem identificar”, esclarece. 

Já há outros casos em que o assédio é explícito. “Vale lembrar que o assediador pode ou não ter um rosto. Pode, inclusive, se traduzir em uma cultura exploratória da empresa”, aponta o profissional. 

Tudo isso, podem levar a sintomas como:

“Processos não delimitados que confundem a necessidade de corresponder a qualquer momento às necessidades da empresa, sem considerar o momento do descanso. Mudanças no comportamento, onde a pessoa, antes comunicativa, fica em silêncio. Choros constantes, vestimentas mais fechadas, dificuldade de socializar, não sair para fazer seu horário de almoço ou pausa, ou ficar até mais tarde quase todos os dias. Estes são grandes sinais de que a pessoa está em um regime de assédio”.

Além disso, muitas vezes sem saber, a pessoa pode ser pressionada a entregar além das suas capacidades contratuais, complementa Serra. 

Sinais de assédio no trabalho

Identificar o assédio no trabalho pode ser desafiador, pois nem sempre é claro para quem está sofrendo com ele. No entanto, alguns sinais comuns que podem indicar a ocorrência deste problema dentro do ambiente como:

  • Mudanças no comportamento de um colega como ansiedade, depressão ou estresse excessivo;
  • Isolamento social;
  • Diminuição do desempenho no trabalho;
  • Presenciar comentários ou piadas regulares;
  • Testemunhar ou ouvir relatos de comportamentos inadequados por parte de colegas de trabalho.

Impactos na vida de quem sofre de assédio no trabalho

O assédio no trabalho pode ter um impacto devastador nas vítimas, tanto em termos de saúde física, quanto emocional. Alguns dos efeitos do assédio incluem:

  • Estresse e ansiedade;
  • Baixa-autoestima e perda de confiança;
  • Problemas de saúde e distúrbios de todas as ordens;
  • Queda na produtividade e no desempenho no trabalho;
  • Afastamento voluntário do emprego devido ao ambiente hostil.

Existem casos em que o assédio no trabalho pode causar danos como depressão, pânico, burnout, incapacidade de conseguir se recolocar no mercado, até casos mais severos como ideação suicida. 

“Cada sujeito irá reagir às situações de assédio de uma maneira diferente e os impactos podem variar de acordo com seu suporte psicológico e sua rede de apoio. No entanto, é fundamental que a pessoa procure ajuda o mais breve possível”, reforça o psicólogo. 

O que fazer diante de uma situação de assédio? 

De acordo com ele, alguns caminhos devem ser adotados diante da situação de assédio: 

  • Sendo constatado o assédio direto, o primeiro órgão a ser procurado deve ser uma delegacia na qual deve ser registrado um boletim de ocorrência. Este protocolo é importante para que se formalize a situação e se tome as medidas necessárias; 
  • Em seguida, procure um advogado e um psicólogo para que se dê início às tramitações correspondentes, tanto no âmbito legal, quanto no âmbito da saúde mental. Quanto antes procurar ajuda, melhor será a recuperação; 
  • É importante também comunicar ao setor de Recursos Humanos / People da empresa e formalizar junto à instituição um pedido de ciência dos acontecimentos diante do ocorrido;
  • Se a situação de assédio for velada, indireta, não explicitada ou difícil de ser identificada, procure um profissional psicólogo o mais rápido possível. Ele irá ajudar e direcionar quanto aos próximos passos. Se for necessário, ele irá elaborar um laudo solicitando afastamento imediato do colaborador. 

Como as empresas podem prevenir e tratar o assédio na corporação? 

Algumas ações como a elaboração de políticas internas, normativas, regulamentos e incorporação nos valores institucionais podem ajudar.

Além disso, ações como palestras, grupos de apoio, contratações de profissionais de saúde externos para suporte interno também são importantes. 

Outros pontos como não endossar o uso de ferramentas e aplicativos como WhatsApp após o horário de trabalho são elementos que demonstram cuidado, e também ajudam a controlar e estabelecer critérios de vigilância. 

“No entanto, não basta somente a elaboração desses documentos sem estratégias de engajamento e empenho de toda a cadeia institucional”, reforça o psicólogo. 

Como seguir em frente após uma situação de assédio? 

A vida é uma junção de acontecimentos que abarcam desde impactos culturais, sociais, políticos, econômicos, familiares, até assuntos mais subjetivos, que acumulamos desde o nosso nascimento, com aspectos bons e tristes, que podem resultar em feridas e traumas.

Tudo isso colabora para o complexo universo de cada um. Como cada pessoa irá olhar e tratar cada um destes acontecimentos é improvável dizer. E se tratando de assédio nos mais diversos ambientes em que passamos não é diferente, conforme adverte Serra. 

“A boa notícia é que vivemos um momento em que essas questões podem ser faladas, nomeadas e assim trabalhadas. Não vivemos mais num momento de repressão, onde só possuía voz os senhores feudais”, argumenta. 

Saúde mental hoje e sempre

Para William Serra, juntamente com esse novo momento da sociedade, a saúde mental é uma grande aliada, pois aponta para um cuidado além dos transtornos mentais e se aproxima das angústias cotidianas. 

Para quem está passando ou viveu uma situação de assédio, resgatar o desejo pela vida e a possibilidade de viver e sorrir, pode ser feita com o auxílio de um profissional. 

“Assim, olhar para o assédio com o auxílio de um psicólogo abre a possibilidade de reconhecimento deste sofrimento e de pensar na luta e no enfrentamento das figuras de assédio para um trabalho de valorização de si e de todas suas potências”, finaliza. 

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