Por que o governo não pode imprimir dinheiro para resolver os problemas do país?

Apesar parecer óbvia, medida pode causar mais problemas do que soluções
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O brasileiro é, por natureza, um especialista – em coisa nenhuma. Basta surgir uma polêmica ou um fato novo para, rapidamente, nos tornarmos experts e despejarmos todo o nosso conhecimento recém-adquirido (ou a falta dele) nas redes sociais. É assim com o futebol, principalmente em época de Copa do Mundo. Foi assim com a imunização contra a Covid-19, quando surgiram os “sommeliers de vacina”. Recorrentemente, nos deparamos com “autoridades” desse tipo com soluções prontas para as mais variadas questões de gênero, raça, segurança pública e, claro, política.

Na economia não é diferente. Com a alta recente da inflação, causada em parte pela crise decorrente da pandemia, muita gente começou a discorrer sobre possíveis medidas que o governo poderia adotar para controlá-la. Uma delas é a impressão de dinheiro. Afinal, não seria difícil imprimir uma determinada quantidade de cédulas e usá-las para pagar dívidas, distribuir para a população e investir em saneamento básico, educação, saúde e outras demandas sociais.

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No entanto, imprimir dinheiro e colocar para circular causa mais problemas do que soluções. Isso porque não há nada mais nocivo para uma economia do que a desvalorização da sua moeda. Mas, afinal, o que significa dizer que o dinheiro perde valor?

Em uma das colunas, falei sobre o que causa a inflação e sobre a relação entre oferta e demanda – regra básica da economia que faz os preços aumentarem ou diminuírem. Quando existe uma grande oferta de um determinado produto, ele perde o seu valor, ou seja, fica mais barato.

Com o dinheiro, a lógica é a mesma. Isso quer dizer que quanto mais dele em circulação, menos ele vale. E a principal consequência de uma moeda desvalorizada é a necessidade de uma maior quantidade para comprar tudo aquilo que precisamos – a famigerada inflação.

Um dos exemplos mais representativos dessa situação é a Venezuela. Com tantos problemas econômicos e sociais, o governo passou a imprimir dinheiro sistematicamente para acompanhar a inflação, que corrói os salários e, consequentemente, o poder de compra dos venezuelanos. No entanto, a medida provocou um aumento ainda maior dos preços – já que o dinheiro colocado em circulação não consegue acompanhar a alta. Para este ano, a projeção da inflação já supera 1.600%. Para se ter uma ideia, 1 milhão de bolívares equivale a US$ 0,50.

Por fim, uma moeda desvalorizada ainda faz com que o dólar fique mais caro – outro fator determinante para o aumento da inflação, já que boa parte dos produtos que consumimos, da matéria-prima necessária para a produção de itens em território brasileiro e até das máquinas são comprados fora do país. 

A economia é algo extremamente complexo, que depende de várias engrenagens cuidadosamente ajustadas para funcionar bem. Por isso, não existem soluções óbvias para resolver os graves problemas do país. Cada medida, antes de ser adotada, precisa ser analisada em profundidade, sob pena de provocar consequências ainda mais graves do que o problema.

Carol Proença é estudante de economia e especialista de investimentos certificada

O conteúdo expresso nos artigos assinados são de responsabilidade exclusiva das autoras e podem não refletir a opinião da Elas Que Lucrem e de suas suas editoras

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