Mais do que saudade: a síndrome do ninho vazio

Quando chega a hora dos filhos saírem de casa, um forte sentimento pode tomar conta da vida dos pais, e nós precisamos falar sobre esse tema.
JOB_03_REDES_SOCIAIS_EQL_AVATARES_QUADRADOS_PERFIL_v1-02

Os filhos crescem e em algum momento o dia de sair da casa dos pais irá chegar. É um momento que pode ser de grande felicidade, mas também pode desencadear outros sentimentos nem tão confortáveis assim, para quem vai e para quem fica. 

Muitas pessoas fogem do tema, com receio de julgamentos, mas, precisamos falar sobre a síndrome do ninho vazio, em especial, para nós, mulheres, que, em geral, somos as principais cuidadoras dos nossos filhos. 

Acompanhe neste artigo mais informações sobre o tema, e também encontre recursos para identificar se você está passando por esse momento e como buscar ajuda. 

Passarinho quer voar

“A gente cria filho para o mundo”

Provavelmente você já ouviu a vida inteira frases como essa. E talvez ela faça muito sentido sim, afinal, apesar das nossas construções sociais e familiares, somos seres sociais e individuais, que vamos rabiscando a nossa trajetória de acordo com as nossas expectativas, sonhos e objetivos. 

Os pais são as nossas primeiras interações com o mundo, geralmente, referência de construção, desenvolvimento e aprendizados, mas tudo com a finalidade de gerar indivíduos que saibam também se cuidar no futuro. 

Então, é quando esse momento de autonomia chega que a sensação de perda pode acontecer e, em casos mais intensos, a síndrome do ninho vazio pode aparecer. 

O que é a síndrome do ninho vazio?

A psicóloga infantil e familiar, Bárbara Catarina, nos explica que “a síndrome do ninho vazio é um forte abalo emocional dos pais quando os filhos tornam-se independentes deles, seja emocionalmente ou financeiramente. Os pais sentem-se abandonados, perdidos, com uma sensação de que perdeu-se a razão de viver.”

“Geralmente, são pais que se dedicam integralmente aos cuidados dos filhos, tornando a vida deles a vida dos filhos. Quando estes criam a independência, os pais já não conseguem retomar as próprias vidas. Alguns entram em depressão, outros se tornam obsessivos e controladores na vida dos filhos.”, completa. 

Bárbara nos conta que no consultório geralmente os casos que ela atende são de mães que se sentem abandonadas pelos filhos. “A sensação é de ingratidão e que quando vamos avaliar profundamente vemos que na verdade os filhos estão apenas vivendo as próprias vidas, criando as suas família e essas mães não se sentem parte, por mais presente que os filhos sejam. Não tê-los como dependentes exclusivos delas é o fator de sofrimento.” 

Ou seja, são situações em que os sintomas vão além de se preocupar ou sentir saudade de um filho que saiu de casa, mas sim viver essa circunstância com forte sofrimento. É comum que os sintomas comecem com uma tristeza e evoluindo até mesmo para uma depressão. 

Em geral, os sintomas que podemos perceber durante o processo da síndrome do ninho vazio, temos: 

  • Tristeza;
  • Choro frequente;
  • Alteração constante de humor;
  • Cansaço e desânimo;
  • Ansiedade;
  • Dúvidas existenciais; 
  • Sentimento de culpa e de ingratidão;
  • Alteração no sono;
  • Redução de libido;
  • Problemas com atividades sociais.

Ninho vazio e o casamento

Não é incomum que casais tenham problemas em seu relacionamento quando há um ou ambos sofrendo com a síndrome do ninho vazio. 

Além da situação difícil que é lidar ou administrar os sintomas, em especial, considerando os que listamos, muitas vezes o que acontece é que as atividades dos pais como casal também envolviam os filhos, e isso passa a ter um sentido diferente, podendo inclusive acabar. 

Fazer as refeições juntos à mesa, trocar informações sobre como foi o dia de cada membro da família, planejar viagens de férias, comemorar conquistas, acolher sofrimentos, entre outras atividades dessa família passa a ser menos importante ou simplesmente se anular. 

De toda forma, não podemos generalizar. Há casais que mesmo em meio ao sofrimento juntam as forças para dar continuidade a essa nova formulação familiar, e até criam novas oportunidades de estarem mais tempo juntos e sozinhos, algo que antes era mais difícil.

Reconstruindo o ninho

O tempo de duração da síndrome do ninho vazio vai depender muito da forma como a própria pessoa decide buscar ajuda ou se proteger dessa situação.

“Primeiramente é necessário reconhecer e aceitar a ajuda, ou seja, buscar auxílio profissional para conseguir retomar a própria vida. É um processo de aceitação da independência dos filhos e reencontrar o prazer da própria vida e da própria companhia.”, afirma Bárbara. 

Além disso, a síndrome do ninho vazio pode ser vista como talvez uma oportunidade para você retomar sonhos antigos, praticar mais o autocuidado e quem sabe até se proporcionar novas experiências que antes os cuidados maternais não deixavam ser prioridade. 

“O trabalho é de fortalecimento do potencial da mulher e busca de outros prazeres para além da maternidade. É conseguir assimilar essa nova vida, com liberdade e amor. É fundamental que ao educar um filho tenhamos consciência que são seres à parte de nós, eles não nos pertencem. A nossa missão é educar para que eles tenham a própria vida e devemos manter também a nossa individualidade enquanto mães, como ter amizades, relacionamentos, hobbies, etc. e somente assim essa transição será menos dolorosa.”, finaliza.

Veja algumas ideias que podem te ajudar a vencer esse processo: 

Confie no seu trabalho como mãe 

Todo o seu esforço para cuidar e educar o seu filho pode ser reconhecido em vários momentos e, principalmente, quando eles decidem administrar a própria vida. 

Autocuidado

Como falamos, com certeza você precisou deixar de lado muitas vezes o cuidado com si mesma, com a sua saúde emocional e física. Busque trazer para a sua rotina momentos de autocuidado. 

Busque novas atividades

Começar algo novo pode ser difícil no começo, mas depois pode se tornar algo indispensável na sua rotina. Então, ocupar-se com cursos, exercícios e novos hobbies, podem ajudar muito a seguir em frente. 

Você não trancou a porta 

Não é porque o seu filho saiu da sua casa que essa relação deixou de existir. Se precisar, diga isso para ele para acalmar os seus sentimentos. Reforce o quanto você estará sempre ali para o que ele precisar e que gostaria de ter sempre notícias sobre as conquistas e frustrações que ele desejar compartilhar. 

Compartilhar a matéria:

×