De estagiária à humorista: como Patrícia Ramos deixou um salário de R$ 200 para conquistar seu espaço no mundo artístico

Conhecida por falar sobre autoestima nas redes sociais, a carioca era estagiária em uma clínica odontológica antes de viralizar no TikTok
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Aos 21 anos, Patrícia Ramos já é uma mulher de negócios bem-sucedida (Foto: Divulgação)

“Deve ser muito ruim não gostar de mim e não poder me chamar de feia”, disse Patrícia Ramos, em 2018, em um vídeo despretensioso que gravou no espelho de casa. Dois anos depois, no auge da pandemia e do TikTok, rede social que invadiu a vida de quem estava em isolamento social, o vídeo ressurgiu das cinzas e o áudio passou a ser usado por diversos influenciadores digitais. 

Em poucos dias, posts de Fábio Porchat, Karol Conká e Fernanda Paes Leme invadiram as redes sociais repetindo a irônica frase. E, como sabemos, o mundo da internet é uma caixinha de surpresas, capaz de mudar vidas – para o bem ou para o mal – do dia para a noite. Por sorte, Patrícia faz parte do clube das pessoas que se beneficiaram da intensidade da cena digital. Menos de três meses depois da viralização do áudio, ela foi de 10 mil para 1 milhão de seguidores no Instagram. Um ano depois, a carioca conta com um séquito de 2,6 milhões de pessoas na rede social, tem o seu próprio show de humor e planeja se lançar como cantora. 

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Aos 21 anos, Patrícia já é uma mulher de negócios bem-sucedida. No entanto, por mais jovem que seja, sua trajetória carrega momentos muito difíceis, como as duas falências que vivenciou e os cargos mal remunerados aos quais se submeteu. Em 2019, pouco antes da pandemia começar, a jovem trabalhava como estagiária de uma técnica de saúde bucal numa clínica odontológica em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. “Meu salário era R$ 200 por mês para trabalhar todos os dias da semana e todas as manhãs de sábado”, conta.

Embora o objetivo fosse estudar para crescer na área, Patrícia era criada por alguém que imaginava um caminho mais brilhante para sua vida. “Minha mãe sempre teve uma personalidade muito empreendedora. Quando eu tinha três anos, ela largou o emprego de faxineira para abrir uma loja de roupas, que acabou rendendo mais do que a carteira assinada. Pensando no meu futuro, ela me incentivou a começar a empreender também”, conta. Patrícia, no entanto, já havia tentado abrir o seu negócio uns anos antes – sem sucesso. 

Aos 17, fundou a sua própria loja para revender roupas, mas acabou falindo por falta de experiência em como gerir um negócio. No mesmo ano, tentou pela segunda vez e faliu por não conseguir administrar o dinheiro. Quando os recursos entravam, ela apenas os reinvestia, sem fazer as contas do que era necessário para manter uma empresa em pé. O caminho do empreendedorismo mostrou-se instável – pelo menos era isso que seu pai pensava quando a aconselhava a estudar e manter os pés no chão. Sendo assim, ela decidiu empreender no paralelo, mas sem largar a segurança do estágio. 

“Primeiro, eu conversei com a minha chefe sobre o meu salário e pedi para ela me deixar fazer o horário integral, assim eu trabalharia das 8h às 18h e ganharia R$ 600. Uma grande ajuda no final do mês”, lembra. “Quando recebi esse salário pela primeira vez, coloquei no bolso, peguei R$ 400 emprestado com meu pai e fui comprar roupa no Brás, em São Paulo. Era tudo que eu precisava para começar a Collection By Paty.” Um pouco mais madura, Patrícia começou com calma, criando fidelidade e confiança entre suas clientes pelas redes sociais. “Eu fazia tudo. Comprava, negociava e entregava os produtos nas estações de trem. Chegou um ponto em que precisei contratar meu irmão para trabalhar comigo e me ajudar nesse processo”, revela. Não demorou muito para que a dupla jornada de trabalho começasse a se tornar inviável. 

No início de 2020, a carioca deixou o emprego na clínica odontológica e seguiu apenas com a loja. No Instagram, tinha 7.000 seguidoras fiéis que a ajudavam a crescer. “Eu tinha uma proximidade muito grande com elas. Só vendia o que usava, então a marca tinha a minha essência.” Foi essa pequena – porém forte – comunidade de clientes que reconheceu a voz de Patrícia quando o vídeo de 2018 viralizou no TikTok. “Todo mundo começou a pedir para me dar os créditos. Foi quando eu fiquei sabendo da viralização. Com o reconhecimento, ganhei alguns seguidores e cheguei aos 10 mil.” 

Como a veia empreendedora não costuma falhar, Patrícia seguiu monitorando o crescimento de suas redes e passou a abrir caixinhas de perguntas nos stories para interagir com os novos seguidores. “No primeiro dia, me perguntaram se a minha beleza não acabava nunca. Eu respondi: ‘Minha beleza é como o Monte Sião: não se abala, mas permanece para sempre’. No dia seguinte, esse vídeo tinha meio milhão de visualizações”, lembra. 

E foi exatamente isso que levou a influenciadora a entender a sua fórmula do sucesso: falar sobre autoestima de maneira bem-humorada. “No dia seguinte, perguntaram se eu era bilíngue, e eu disse que era poliglota. Sabia falar português, inglês e a língua dos anjos. Quando acordei, tinha 1 milhão de visualizações.” Após três meses produzindo conteúdo, Patrícia conquistou 1 milhão de seguidores. 

UMA MULHER NEGRA NO HUMOR

Desde então, os vídeos oferecem um teor diferenciado, que não é muito comum no mercado humorístico. Cristã desde a infância, Patrícia produz boa parte de seus conteúdos explorando os versículos ou as crenças do evangelho – como o vídeo no qual falava sobre os Monte Sião, por exemplo. Alguns haters alegam que essa sua característica é uma brincadeira de mau gosto com a palavra de Deus, mas a carioca enxerga a situação por um ângulo completamente diferente. “Eu faço conteúdo sobre a minha vida, por isso tem tantas citações da igreja. Não estou usando em vão, estou produzindo algo que faz bem para outras mulheres.” 

Com uma audiência 92% feminina, o Instagram de Patrícia é, muitas vezes, bombardeado por mensagens de mulheres que agradecem o impacto dos vídeos em sua autoestima. Para a influenciadora, esse é o maior prêmio. “Eu sofria muito com bullying e racismo na infância. Era difícil olhar no espelho e me sentir bonita, e eu não tinha ninguém para me inspirar. Agora, as pessoas que passam pelo mesmo que eu passei podem me enxergar como referência”, explica. Foi pensando na força de sua imagem que ela também entendeu a importância da sua presença no humor. 

“No início, eu ficava até com raiva quando me chamavam de humorista. Humorista vive de humor, eu não vivia”, diz, entre risadas. “Mas, depois, comecei a entender que eu estava fazendo sucesso porque fazia as pessoas rirem. Então me aceitei como humorista e entendi o quanto a minha presença no humor era uma desconstrução absurda como mulher negra.” 

Em cima de um palco, Patrícia fica exposta a ataques contra sua cor e sua aparência, mas os holofotes também fazem com que ela inspire outras meninas. “Todo santo dia eu recebo ataques, até mais do que na época da escola. Para que uma pessoa seja racista com você pessoalmente, ela tem que vir falar na sua cara. Nas redes sociais não é assim. Elas se sentem no direito de atacar outras pessoas.” 

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No início, essas agressões assustaram Patrícia, que desde a adolescência não pensava mais no bullying que havia sofrido durante a infância. “Fiz um vídeo reagindo a todos os cabelos que já tive e uma mulher comentou: ‘Todos são bonitos, mas o atual cabelo dela serve para lavar a louça. Parece um bombril’. Eu me acho linda, mas comecei a chorar na hora”, recorda. Com apoio do marido, ela entendeu que precisava criar uma armadura para lidar com o preconceito. “Podemos ser as mulheres mais empoderadas do mundo, mas essa crueldade por conta da cor da nossa pele mexe com a gente. Aceitei que não sou responsável pelo que pensam de mim. Não leio ou simplesmente bloqueio. O que me importa é o que eu significo para outras mulheres negras.” 

Desde novembro, quando Patrícia fez o seu primeiro show de humor, diversas mulheres comprovaram que o seu trabalho é responsável por gerar muitas risadas e sentimentos bons. Durante o mês, quatro shows foram realizados – e a agenda de 2022 promete ser ainda mais recheada. “Eu sempre fui comunicativa e minha mãe achava, desde a infância, que eu teria uma carreira artística. Na igreja, todos riam das minhas piadas e minha avó vivia dizendo para eu me comportar”, brinca. 

Por isso, a ideia de entrar para o mundo do stand-up acabou nascendo de forma natural. “Em 2020 e 2021, fui chamada para falar sobre a minha carreira em uma igreja em São Paulo e em um evento de marketing. Nas duas situações, vimos pessoas chorando de rir do que eu estava falando.” De certa forma, as experiências foram um teste de como seria a sua atuação em cima dos palcos. 

Talvez Patrícia realmente tenha nascido para ser artista, mas o seu lado empreendedor não fica para trás. Após o sucesso nas redes sociais, a Collection By Paty ganhou um potencial ainda maior como empresa. No entanto, para oferecer um trabalho cada vez mais profissional, o e-commerce está, atualmente, em manutenção. “Nunca vou deixar a minha loja. Antes, era tudo muito informal, então ela está fechada no momento para que possamos reabrir com um ótimo site e lindas lojas físicas.” Este é um dos planos para 2022. O outro é a carreira como cantora, já que duas músicas autorais já foram gravadas. “Humor, loja, música, trabalhos comerciais… realmente é muita coisa”, conclui Patrícia, orgulhosa.

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