Jornada maior, conexão e o mito da produtividade: o home office ainda é um desafio

Especialista explica que trabalhar de casa não é estar disponível 24 horas em todos os dias da semana
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Com a pandemia da Covid-19 e o isolamento social, parte do mercado de trabalho se viu diante de uma mudança brusca. O ambiente tradicional, os escritórios e empresas fecharam temporariamente. Por causa da crise sanitária no Brasil e no mundo, os profissionais passaram a exercer as suas funções dentro de casa, no famoso home office.

E como foi tudo muito rápido, a maioria das pessoas nem tinham escritório ou um espaço reservado para conseguir ter mais tranquilidade durante o expediente. Filhos, pais, animais de estimação, internet e até vizinhos passaram a interferir na rotina de trabalho.

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Mais de um ano depois do início do isolamento social, muitos trabalhadores seguem em home office. A experiência até demonstrou vantagens, mas os desafios ainda são muitos para a grande maioria das empresas.

Ainda há muitas lacunas no entendimento das organizações de como funciona essa modalidade de trabalho, mesmo que temporária.

Se o funcionário trabalha de casa não significa que ele deve estar disponível 24 horas, todos os dias da semana. É o que explica Tiago Alves, CEO da Regus no Brasil. “Acabou o horário comercial e o fim de semana. Com tecnologia e os aplicativos, as pessoas esqueceram que antes para entrar na casa das pessoas, a gente pedia licença. A realidade de hoje é que todo mundo fala a todo momento”, diz.

Mito da produtividade

O empresário destaca que o home office se tornou essa realidade, mas muitas empresas não tinham políticas de trabalho flexível antes. “As pessoas foram forçadas a trabalhar de casa. Boa parte do que a gente viu de home office é uma adaptação momentânea das suas funções. Mas não adianta trabalhar de casa e acabar trabalhando mais. Hoje, cerca de 70% das pessoas em home office sentem que trabalham mais nas suas residências do que nos escritórios. No início da pandemia, quase todo mundo achou que seria mais produtivo ficar em casa e isso acontece porque elas passam mais do expediente, é o mito da produtividade”, lamenta Tiago Alves.

A pesquisa “Novas Formas de Trabalhar: as adequações ao home office em tempos de crise”, feita pela Fundação Dom Cabral em parceria com a Grant Thornton Brasil, mostra que 58% dos brasileiros se sentem mais produtivos ou significativamente mais produtivos em home office. Em 2020, na versão anterior dessa mesma pesquisa, esse índice ficou em torno de 44%.

Obstáculos do home office

Se por um lado, o home office aproximou muitas famílias, pelo maior tempo do trabalhador em casa, e evitou aglomerações e menos tempo no transporte, a cobrança no trabalho também aumentou.

Notificações a todo momento, cobrança por uma presença online e muitas reuniões virtuais são parte da realidade. E isso esgotou mentalmente muitos colaboradores. “A gente viu recentemente várias empresas declarando que agora é preciso investir na saúde mental dos trabalhadores”, afirma o CEO.

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A conclusão do estudo sobre o home office é que será preciso muita atenção sobre como os profissionais vão lidar com esse desequilíbrio e obstáculos do trabalho remoto.

“O excesso de trabalho observado na modalidade remota pode ser alienante, o que no longo prazo pode causar uma perda de propósito e sentido para o colaborador. A gestão do tempo e do espaço devem ser renegociadas e aprendidas, confirmando a necessidade de novos benefícios de contratos de trabalho, promovendo a adaptabilidade como competência essencial para este momento”, diz o estudo.

Um outro estudo global que ouviu 12 mil funcionários, gerentes, líderes de RH e executivos de nível C da empresa de tecnologia Oracle mostrou que 89% das pessoas com idade entre 22 e 25 anos e 83% das pessoas com idades entre 26 e 37 anos tiveram mais estresse e ansiedade em 2021 do que antes. Isso porque os problemas de trabalho se estenderam para a vida pessoal devido à falta de barreiras.

Aumento da jornada de trabalho da mulher

Uma outra pesquisa, publicada pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que trabalhar em casa aumentou a jornada em até 65%, e foram as mulheres que sofreram sobrecarga do home office.

O levantamento da USP calculou que as mulheres responderam por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.

Para o futuro, Tiago Alves alerta que mesmo com a vacinação contra a Covid-19 em massa no Brasil, muitas empresas ainda vão permanecer com o modelo de home office ou o híbrido, quando o profissional trabalha em casa e no escritório. “Além dos problemas de saúde mental, existem os desafios trabalhistas e jurídicos no Brasil que devem impactar a modalidade ao longo dos próximos anos. Mas sem dúvida, é um modelo que veio para ficar e merece mais atenção”, acrescenta o empresário.

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