O plano por trás da compra de 21 empresas pelo Magazine Luiza

Companhia está entre as empresas que mais gera retorno aos acionistas
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No último dia 15 de julho, o Magazine Luiza anunciou a compra do KaBuM, plataforma e-commerce de tecnologia e games, pelo valor de R$ 1 bilhão à vista mais a incorporação das ações da KaBuM pelo Magalu. Essa é a 21ª aquisição e a maior já realizada pela empresa desde o início de 2020.

No mesmo dia do anúncio, o Magazine Luiza ganhou R$ 16,5 bilhões em valor de mercado e, segundo um levantamento da Economatica, passou de uma avaliação de R$ 159,8 bilhões em 30 de junho para R$ 176,8 bilhões. Com isso, a empresa se tornou a segunda companhia que mais cresceu em valor mercadológico na quinzena, atrás do BTG Pactual.

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Em fato relevante, a companhia afirmou que “com a aquisição, o Magalu reforça o pilar estratégico de novas categorias, com um sortimento extremamente complementar ao atual e com enorme potencial de crescimento.”

Nos 10 anos de capital aberto, a varejista ganhou 550 mil investidores, frente aos 20 mil na época do IPO. A companhia, hoje, disputa espaço no Brasil com gigantes como Mercado Livre e Amazon.

Os números da empresa são promissores, mas como tudo começou?

A história do Magalu tem início em 1957, no interior de São Paulo, na cidade de Franca, onde foi fundada a primeira unidade da varejista. Na época, o nome escolhido pelo casal Luiza Trajano Donato e Pelegrino Donato foi “A Cristaleira”. Eles nem imaginavam que a empresa cresceria tanto. O sonho dos vendedores Luiza e Pelegrino era de ter um comércio que gerasse emprego para toda a família.

Pouco tempo depois de inaugurada, a loja ganhou o nome atual, Magazine Luiza, com a participação da população de Franca. Isso porque os empresários idealizaram um concurso cultural na rádio local para escolha de um novo nome. 

Em Franca, a loja ganhou notoriedade pelo atendimento feito pelos próprios donos, especialmente Luiza, que também supervisionava a expedição e fazia pesquisa de mercado. As décadas seguintes foram marcadas pela expansão do negócio para outras cidades do interior de São Paulo, como Barretos e Igarapava, além de novas unidades em Franca.

Em 1992, Luiza Helena Trajano, sobrinha da fundadora, Luiza Trajano Donato, assume a liderança da organização e, no ano seguinte, inaugura as primeiras lojas virtuais. Em 1999, o conceito de loja virtual, criado pela marca foi levado para a internet e tornou o Magazine Luiza um dos maiores representantes do e-commerce nacional.

Empresa entra na Bolsa de Valores

Em 2011, o Magazine Luiza optou por abrir o capital da empresa e faturou R$ 926 milhões no IPO. Com o dinheiro adquirido, foi possível reestruturar e expandir ainda mais a rede. Na época, o preço das ações esteve na média de R$ 16. Hoje, custa R$ 23,36.

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A companhia está entre as empresas que mais gera retorno aos acionistas. Ela ocupa o primeiro lugar no ranking global por indústria, das companhias com as melhores ações do mundo. Os dados fazem parte do The 2021 Value Creators Rankings, divulgado pelo Boston Consulting  Group (BCG), com a classificação das empresas de maior retorno total para o acionista (TSR, do inglês Total Shareholder Return).

Atualmente, o Magalu está entre os maiores ecossistemas para comprar e vender no Brasil, com plataforma digital e pontos físicos. São 1.300 lojas em 21 estados do país e 33 milhões de usuários ativos no aplicativo. A empresa também emprega mais de 47 mil funcionários.

Desde 2003, o Magalu é considerado como um dos melhores locais para se trabalhar, segundo avaliação do Great Place to Work. 

Em entrevista ao Elas que Lucrem, Larissa Quaresma, analista de investimentos na Empiricus, explica dois pontos fundamentais na trajetória de sucesso da companhia. 

“O Magazine Luiza foi uma das empresas que mais entregou retorno para os seus acionistas desde o seu IPO. Eu acho que a empresa chegou nesse patamar por dois principais motivos. Eles têm uma governança muito bem feita, é uma empresa familiar com pessoas bem formadas nas diferentes gerações, o que é algo muito positivo e raro. Essa sucessão familiar com qualificação leva as empresas à longevidade. Uma outra questão foi a transformação digital muito bem feita, que começou a render frutos a partir de 2010. Sem comprar ninguém, exigiu muita persistência pela maneira que foi executada”, analisa a especialista.

Apesar de parecer que o seu crescimento já chegou ao ápice, segundo a especialista da Empiricus, há perspectivas para o Magalu crescer ainda mais. “A gente ainda acredita que tem potencial para ela subir e se tornar um grande e-commerce de tudo.”

As novas aquisições e o superapp

As novas aquisições do Magalu em diversos setores tem o grande objetivo de transformar a plataforma em um “superapp” brasileiro. A ideia é englobar inclusive o mercado de delivery de comida no país, com a startup Aiqfome.

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O termo é uma referência a plataformas presentes no mercado chinês que reúnem em um só aplicativo serviços variados, como rede social, transações financeiras, compras, contratação de serviços e conteúdo.

A analista Larissa Quaresma tem ressalvas quanto ao modelo de superapps no mundo ocidental. “Não é todo mundo que acredita que haverá um superapp no mundo ocidental, assim como na China. Existem vários fatores que contribuem para existência dessas plataformas no mercado chinês, que são uma regulação estatal muito forte e um protecionismo que afetas e até proíbe a entrada de algumas tecnologias estrangeiras que viriam a competir com os chineses. Isso abriu espaço para os aplicativos e sites de diversas coisas na China irem expandindo seu ramo de atuação, já que a competição é quase toda digital”, diz.

Frederico Trajano, CEO do Magalu, afirmou em entrevista ao site Mercado & Consumo, que o varejo é um terreno fértil para a expansão lateral, com ofertas de outros serviços, principalmente os mais digitalizados, como as plataformas digitais, incluindo apps de delivery e bancos digitais. “A gente quis ser a empresa que digitalizou o varejo brasileiro, como a Amazon foi nos Estados Unidos. A nossa missão foi ajudar o país a fazer essa transição digital do varejo que foi tão bem-sucedida na China.”

Em relatório, o Credit Suisse rasgou elogios à estratégia da empresa: “No e-commerce, dinheiro não é mais um grande diferencial. O uso correto do dinheiro é o que faz a diferença. E o Magazine Luiza parece ter a habilidade de combinar as pessoas certas a uma estratégia convincente.”

Veja a lista das 21 aquisições feitas pelo Magalu entre 2020 e 2021:

1. Estante Virtual

Valor: R$ 31,1 milhões

Setor: plataforma de livros

Quando: janeiro de 2020

2. Hubsales

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de comércio

Quando: agosto de 2020

3. Betta

Valor: não divulgado

Setor: desenvolvedora de aplicativos

Quando: agosto de 2020

4. Canaltech

Valor: não divulgado

Setor: site de tecnologia

Quando: agosto de 2020

5. Inloco

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de mídia online

Quando: Quando: agosto de 2020

6. Stoq

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de soluções

Quando: agosto de 2020

7. Aiqfome

Valor: não divulgado

Setor: aplicativo de delivery de comida

Quando: setembro de 2020

8. GLF

Valor: não divulgado

Setor: empresa de logística

Quando: outubro de 2020

9. Sinclog

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de tecnologia

Quando: outubro de 2020

10. ComSchool

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de cursos

Quando: novembro de 2020

11. Hub Fintech

Valor: R$ 290 milhões

Setor: serviços financeiros

Quando: dezembro de 2020

12. VipCommerce

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de e-commerce

Quando: março de 2021

13. Steal The Look

Valor: não divulgado

Setor: moda, beleza e lifestyle

Quando: março de 2021

14. ToNoLucro

Valor: não divulgado

Setor: aplicativo de delivery

Quando: março de 2021

15. GrandChef

Valor: não divulgado

Setor: plataforma de culinária

Quando: março de 2021

16. SmartHint

Valor: não divulgado

Setor: sistema de busca inteligente e recomendação

Quando: abril de 2021

17. Jovem Nerd

Valor: não divulgado

Setor: site de cultura pop e geek

Quando: abril de 2021

18. Bit55

Valor: não divulgado

Setor: fintech de cartão de crédito e débito

Quando: junho de 2021

19. Plus Delivery

Valor: não divulgado

Setor: aplicativo de delivery

Quando: junho 2021

20. Juni

Valor: não divulgado

Setor: consultoria especializada em aumentar a conversão de canais digitais

Quando: junho de 2021

21. Kabum

Valor: R$ 1 bilhão e incorporações de ações

Setor: tecnologia e games

Quando: julho de 2021

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