Roberta Vasconcellos: a empresária que acertou em cheio na tendência do trabalho remoto

Depois de quase dez anos dedicados a start ups de tecnologia, a mineira levou a experiência para o próprio serviço de coworking por assinatura até conquistar um aporte de R$ 56 milhões de grandes fundos de investimentos
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Roberta Vasconcellos, 33 anos, sócia da startup BeerOrCoffee que oferece assinaturas para trabalho remoto em espaços de coworking (Foto: Divulgação)

Trabalhar de casa por circunstância de uma pandemia pode não ser a melhor opção para muitas pessoas que não têm o conforto e a tranquilidade necessários para o desempenho de tarefas profissionais.

Este foi o nicho de mercado explorado por Roberta Vasconcellos junto com o irmão e sócio Pedro com a BeerOrCoffee, que oferece um programa para uso de espaços de coworking em esquema de assinatura com opções em mais de 1.100 locais em 160 cidades brasileiras.

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Depois de um investimento inicial do fundador da Booking.com, Kees Koolen, em 2018, agora, a startup recebe novo aporte de US$ 10 milhões – o equivalente a R$ 56 milhões –  de dois fundos, o Kaszek que já investiu em Nubank, Quinto Andar, Gympass, Loggi e Creditas, além do Grupo Valor.

Segundo Roberta, o capital não muda nada no controle da BeerOrCoffee. No entanto, a concretização do negócio a eleva a um outro nível como empresária.

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A EQL quis conhecer o caminho da Roberta até esta conquista. E ela contou tudo para nós diretamente da Cidade do México, no exercício pleno da liberdade do trabalho remoto.

Pensa que ela estava lá por causa de trabalho? Não! Estava por causa do noivo. Leia a entrevista e conheça esta história.

EQL – Como foi sua luta como empreendedora até chegar a este momento?

Roberta Vasconcellos – Vim de uma família de empreendedores do varejo de Belo Horizonte e sempre gostei de conversar com as pessoas e aprender com elas. Aos 11 anos, comecei a vender trufas no colégio para as amigas e minha mãe me ajudava. Chegamos a vender em restaurantes. Tive o privilégio de estudar em boas escolas e de fazer um intercâmbio no Canadá por um ano para fazer high school – equivalente ao ensino médio no Brasil – onde também trabalhei em carrocinha de cachorro quente. Com este dinheiro comprei meu primeiro laptop. Voltando ao Brasil, fiz Publicidade e Direito ao mesmo tempo. Trabalhava em lojas de roupas no Natal. Adorava. Tive a chance de trabalhar com a família, mas optei por trabalhar em outras empresas.

EQL – Você sempre trabalhou em start ups?

RV – O ecossistema de startups em Belo Horizonte em San Pedro Valley – bairro conhecido como o Vale do Silício de BH –  é muito forte e um amigo envolvido com o Google me chamou em 2009. Eu nunca tinha ouvido falar em startup. Ele me explicou e me direcionou à Samba Tech, especializada em ensino a distância. Entrei como estagiária comercial e, seis meses depois, fui contratada. Fiquei três anos lá. Era um momento em que as empresas não batiam nas portas das startups. Então, uma mulher, jovem, vendendo tecnologia para CEOs de empresas me fez ter que trabalhar soft skills – habilidades e competências relacionadas ao comportamento humano – de comunicação, metodologia comercial e a manter uma boa rede de relacionamentos.

Roberta Vasconcellos: “Aos 11 anos, comecei a vender trufas no colégio para as amigas e minha mãe me ajudava” (Foto: divulgação)

EQL – Como era encarar os CEOs?

RV – A gente é mais corajosa quando é jovem. Você não se bloqueia. Eu não tinha medo. Depois de uma certa idade é que a gente vai adquirindo algumas barreiras de rótulos sociais. A gente tem que tomar cuidado que isso mais te prende e te cria muitas ‘caixinhas’. Eu viajava bastante e as reuniões eram presenciais. Eu gostava e aprendia muito. Outra coisa que ajudou é que eu sempre dancei em palco, desde novinha. Participava de campeonatos e concursos e isso me ajudava porque tudo é um treino. Comunicação é um treino. Pesquisava sobre o CEO e a empresa e ia bem preparada às reuniões.  

EQL – Como é o ambiente de startups em relação a gênero? Outras empresárias de outros segmentos com quem conversamos relatam um caminho mais difícil.

RV – Acho que a gente está vivendo um outro momento agora, muito mais favorável e aberto para a mulher no ambiente de trabalho, principalmente em startups e no ambiente de tecnologia. Está mais democrático. Na minha época de Sambatech, além de mim só tinha mais uma mulher. No BeerOrCoffee, a gente sempre procura trazer esta igualdade com diversidade que eu acho super importante. Mas eu nunca me senti melhor ou pior por isso, o que acho que tem a ver com minha formação e as pessoas que eu tinha ao redor, uma rede de suporte boa. Os homens com os quais eu trabalhava eram muito generosos e muito bons e meus sócios sempre foram muito bacanas. As situações mais difíceis procurei passar com mais leveza e tentar fazer a diferença pelas atitudes e pelo exemplo.

Roberta com o irmão e sócio Pedro Vasconcellos: “A gente tem como missão na empresa que as pessoas vivam a melhor forma de trabalho possível, com flexibilidade de ambiente de trabalho, trabalho híbrido, conciliando as vidas pessoal e profissional” (Foto: divulgação)

EQL – Como ficou sua vida pessoal no ritmo intenso de trabalho em uma startup? Você conseguiu um equilíbrio?

RV – Muitas vezes, não. Eu não consegui. Agora, te digo que eu tenho um equilíbrio. Mas antes, já abri mão de muita coisa da vida pessoal pela vida profissional que até estava incoerente com o que eu penso hoje para a BeerOrCoffee. A gente tem como missão na empresa que as pessoas vivam a melhor forma de trabalho possível, com flexibilidade de ambiente de trabalho, trabalho híbrido, conciliando as vidas pessoal e profissional. A gente acredita que a pessoa em sua melhor versão não tem separação entre vidas pessoal e profissional. Ela precisa ter tempo para ter seus relacionamentos saudáveis, alimentação, sono e exercício porque ela vai ser muito mais produtiva no trabalho e mais feliz no final do dia. Precisa ter mobilidade. Eu estava na Guatemala há algumas semanas e agora na cidade do México.

EQL – Eu ia te perguntar se está no México a trabalho?

RV – Eu estou noiva e meu noivo é guatemalteco e empreendedor. A gente tinha uma festa de noivado na Guatemala esta semana e eu vim pra cá e trabalhei a semana toda no esquema anywhere office – escritório de qualquer lugar em inglês. Ele tinha que estar aqui porque tem muitos clientes e eu vim com ele antes de retornarmos ao Brasil. A gente cria nossa rotina onde está e aproveitei para fazer reuniões aqui com possíveis pessoas a serem contratadas para planos a longo prazo. E, olha que interessante, também estou olhando meu vestido de noiva aqui.

Roberta com a mãe, Bebela Vasconcellos, que assumiu o cargo de head of love da start up (Foto: divulgação)

RV – Queremos aprender com os fundos que fizeram o investimento, mas não posso te dar mais detalhes. Apenas que o controle continua conosco, eu e meu irmão, Pedro Vasconcellos. Minha mãe, Bebela, também tem papel importante na empresa. Ela teve quatro filhos e é advogada de família. Começou conosco no RH e hoje é nossa head of love – responsável por cuidar de pessoas – que é a função de deixar a agenda dela aberta para um cafezinho online com os funcionários. São conversas confidenciais. As pessoas falam até de casamento, filhos. Quando alguém está doente, ela liga para a família. Ela cuida das pessoas na empresa. Isso é um diferencial muito grande que a gente tem. Na pandemia, outras startups a procuraram e ela se tornou uma espécie de mentora.

Luciene Miranda é repórter especial e colunista na Elas Que Lucrem

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