20 anos sem Cássia Eller: relembre a trajetória da cantora que fez história para além da música

Duas décadas depois de sua morte, a carioca continua sendo uma das maiores artistas do rock brasileiro e um ícone da malandragem
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20 anos sem Cássia Eller: relembre a trajetória da cantora que fez história para além da música
Cássia Eller em ensaio fotográfico (Foto: Acervo Debora Dornellas/Divulgação)

Em seu terceiro álbum de estúdio, lançado em 1994, Cássia Eller gravou “Na Cadência do Samba”, canção de Ataulfo Alves. Com sua voz grave e emblemática, cantou: “Sei que vou morrer, não sei o dia… Levarei saudades da Maria… O meu nome ninguém vai jogar na lama… Diz o dito popular: morre o homem fica a fama”.

Apenas 2.555 dias depois, os brasileiros descobriram a data exata em que a artista nos deixaria. O ano estava prestes a terminar quando veio a notícia de que a vida tinha acabado para uma dos principais nomes femininos do rock brasileiro. No dia 29 de dezembro de 2001, a cantora, compositora e multi-instrumentista Cássia Eller morreu aos 39 anos após um infarto do miocárdio causado por uma má formação do coração. 

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Cássia Rejane Eller faleceu em uma clínica na zona sul do Rio de Janeiro e foi sepultada no Cemitério Parque Jardim da Saudade, também na cidade maravilhosa. Mas seu legado se tornou imortal. 

Cássia fez da música seu objetivo de vida. Lançou cinco álbuns e gravou muitas coletâneas em pouco mais de 10 anos de carreira, além de ter feito história com canções emblemáticas como “Malandragem” e “O Segundo Sol”. Apesar do sucesso curto em vida, ela é, até hoje, relembrada, cantada, celebrada e reproduzida. Hoje (29), o Brasil completa 20 anos sem uma de suas artistas mais completas.

“Quem sabe eu ainda sou uma garotinha”

Nascida no Rio de Janeiro, filha de Nanci Ribeiro e Altair Eller, Cássia começou a se interessar pela música aos 14 anos, quando ganhou um violão de presente. Sempre fã de um bom trabalho musical, aprendeu inglês ouvindo Beatles. Não é à toa que se inspirava em John Lennon e Paul McCartney. 

Cássia se mudou para diversas cidades desse país tropical, mas, aos 18 anos, instalou-se com a família em Brasília, onde começou a se aventurar pelos palcos, apresentando-se em corais e até em grupos de forró.

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Cássia Eller nos palcos (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)

Mas Cássia nunca foi uma mulher de parar quieta. Um ano depois, procurando liberdade pessoal, mudou-se para Belo Horizonte e começou a trabalhar como servente de pedreiro. A música não foi abandonada. Pelo contrário: foi também por conta dela que largou os estudos. Entre o trabalho e os shows que fazia, não tinha tempo de se dedicar à escola, e acabou não completando o ensino médio. 

De fato, foi apenas aos 27 anos que a carreira de Cássia decolou. Com a ajuda de um tio, que arrumou um estúdio de um amigo no Rio de Janeiro, ela gravou uma fita com 10 canções de artistas e compositores da cena independente da música brasileira. Sem muitas esperanças de que a empreitada desse certo, Cássia retornou a Brasília enquanto Wanderson, o tio, levou a demo a uma das maiores gravadoras da indústria fonográfica mundial, a PolyGram, que contratou a artista logo após o primeiro play. 

“Um pouco de malandragem”

Em um primeiro momento, a gravadora queria que Cássia tivesse um repertório voltado ao pop e uma imagem mais bem cuidada. Porém, o produtor que a contratou acreditava no potencial mais “marginal” da artista, e convenceu a área comercial. É nessa energia que “Cássia Eller”, seu álbum de estreia, foi lançado em setembro de 1990, um ano depois de sua contratação pela PolyGram. 

Dois anos mais tarde, veio o segundo álbum. Com composições de Itamar Assumpção,  Arrigo Barnabé, Rita Lee e até Jimi Hendrix, “O Marginal” não foi um disco pensado com propósitos comerciais – e foi assim que foi recebido pela indústria fonográfica, tornando-se o disco menos vendido da carreira da cantora.

O resultado impulsionou uma mudança de rota para o lançamento do terceiro álbum. Mais uma vez intitulado “Cássia Eller”, o disco lançado em 1994 foi gravado após o nascimento de seu filho. Com Chico a tiracolo nos estúdios de gravação, Cássia deu voz à “E.C.T”, canção de Nando Reis, Marisa Monte e Carlinhos Brown, e à música que se tornou sua assinatura, “Malandragem”, escrita por Cazuza e Frejat. 

A partir de então, Cássia Eller se popularizou no cenário musical brasileiro. Lançou mais dois álbuns em vida e gravou outro, lançado postumamente. O primeiro dessa série, “Veneno AntiMonotonia”, uma homenagem à Cazuza, com algumas regravações de suas músicas, de 1997, não teve vendas tão expressivas quanto o álbum anterior, mas fez muito sucesso.

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Nando Reis e Cássia Eller (Foto: Divulgação)

Mesmo assim, Cássia ainda não havia vivido o auge. Foi com o quinto e último álbum que a cantora e compositora assistiu um boom de vendas. “Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo”, lançado em 1999, começou a ser produzido após Chico dizer à mãe que ela berrava – e não cantava. Por isso, o disco foi produzido com melodias mais calmas e canções marcantes de sua carreira, como “O Segundo Sol” e “All Star”, ambas escritas por Nando Reis, que também foi produtor do álbum. 

Postumamente, foi lançado seu sexto álbum, em 10 de dezembro de 2002, dia em que completaria 40 anos de idade. “Dez de Dezembro”, produzido por Nando Reis e mixado por Carlo Bartolini, vendeu mais de 50 mil cópias e foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa em 2003.

Mas, na edição anterior da premiação, Cássia já havia experimentado o resultado de seu sucesso ao vencer a mesma categoria com o álbum ao vivo “Acústico MTV”, de 2001.

“Bobeira é não viver a realidade”

Além de muito irreverente, Cássia Eller era atleticana roxa – ela colocava, inclusive, adesivos com escudos do time do coração em seus instrumentos. Mas quando se fala de paixão e de relacionamentos, a artista foi uma importante protagonista, ainda que não tivesse essa dimensão na época, da luta pelos direitos LGBTQIAP+ no Brasil. 

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Cássia Eller, Maria Eugênia e Chicão (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Bissexual assumida, foi casada com Maria Eugênia durante 14 anos. Seu filho, Chico, veio de um relacionamento casual com um amigo, o baixista Tavinho Fialho, que fazia parte de sua banda. Ainda assim, Chicão, como era chamado por Cássia, cresceu com duas mães. 

Em uma entrevista concedida dois meses antes de morrer, Cássia disse: “Eu gostaria de casar com a Eugênia, ter um contrato de casamento legalizado mesmo. Queria poder garantir os direitos dela e do Chico. No caso de separação ou de morte, a Eugênia não tem nenhum documento que prove que estamos casadas há 14 anos. É claro que, se acontecer alguma coisa comigo, meus bens têm que ir para ela e meu filho. E a guarda do meu filho tem que ser dela, é ela a mãe. Olha a confusão….”.

Seu desejo se tornou realidade. Mesmo com o pedido da guarda de Chico pelo pai de Cássia, Eugênia venceu a briga. Em janeiro de 2002, pela primeira vez na história, a Justiça brasileira concedeu a uma mulher a guarda provisória do filho de sua companheira, e em outubro, deu a guarda definitiva de Chico à Eugênia, a quem o menino chamava de mãe. 

As homenagens a Cássia Eller após sua morte foram inúmeras: dos segundos de silêncio naquela virada de ano de 2001 para 2002 a músicas e documentários sobre sua história. Duas décadas depois, uma das vozes mais emblemáticas do Brasil ainda é lembrada quando, em algum bar deste país tropical, tocam os primeiros acordes e cantam o primeiro verso de “Malandragem”: “Quem sabe eu ainda sou uma garotinha…”

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